FC Porto levou a Taça para a Invicta com justiça; Campeão nacional não resistiu aos erros; Um jogo, para os dragões, que foi algo mais...
Os 18 pontos a que o FC Porto acabou a Liga do Sporting sustentavam a ambição leonina de fazer uma dobradinha que lhe foge desde os idos de Boloni. Porém, as finais (como se viu em Wembley, no duelo de Manchester) são entidades com vida própria, que não se regem pelas regras de um jogo comum.
E a história da vida desta decisão do Jamor teve um final justo, em que o underdog soube capitalizar os momentos-chave da partida, e o favorito, embora tenha tido a humildade de se recolher defensivamente, reconhecendo que no contexto que vivia era o que de melhor tinha para fazer, não foi capaz de dar a volta ao texto, num jogo em que até começou por ser feliz, revelando enorme superioridade no jogo aéreo, que lhe valeu ter chegado à vantagem ao vigésimo minuto, por St. Juste.
Porém, em decisões como as que têm lugar no Estádio Nacional, a margem de erro é sempre curta e os novos campeões nacionais pagaram caro três momentos infelizes, que o FC Porto agradeceu: ao minuto 25, quando Evanilson aproveitou uma dádiva de Catamo para empatar; quatro minutos volvidos, quando uma imprudência de St. Juste deixou a equipa de Rúben Amorim reduzida a dez elementos; e já no sétimo minuto do prolongamento quando Diogo Pinto pagou o preço da inexperiência, provocando uma grande penalidade desnecessária. Foram erros que condicionaram o andamento do jogo e permitiram ao FC Porto puxar dos galões, assinando uma partida muito personalizada, e submetendo o Sporting a uma pressão tão intensa que a resistência leonina chegou a raiar o heroísmo.
A EXPULSÃO DE ST. JUSTE
Até ao vermelho direto visto pelo jogador neerlandês, o jogo decorreu sem surpresas táticas, o Sporting tinha marcado de bola parada, e o FC Porto tinha empatado após um erro leonino. Depois, tudo mudou. Amorim teve de recompor a defesa, prescindindo de Morita (entrou Eduardo Quaresma) e fazendo recuar Pedro Gonçalves, o que teve duas consequências: perdeu o meio-campo e deixou Gyokeres entregue à sua sorte. Podia fazer diferente? Dificilmente.
Perante um FC Porto que sentiu que a maré tinha mudado, e arrancou para uma boa exibição, potenciada pela posição entre linhas que permitia a Pepê criar superioridade numérica, especialmente a meio-campo, a que se acrescentava a intensidade do trio atacante e a agressividade do duplo-pivot, o Sporting recolheu-se, baixou linhas e foi resistindo a tudo, até que chegou o derradeiro erro fatal, que desaguou na grande penalidade que decidiu a Taça.
Zé Pedro não deu espaço a Gyokeres: exibição sem reparos do central, quase sem precisar de recorrer à falta; Varela foi sempre o ponto de equilíbrio e Pepê o dono da visão global dos acontecimentos; Evanilson: a sorte dá muito trabalho
OS TREINADORES
Sérgio Conceição, logo após o intervalo, prescindiu de João Mário e colocou Taremi a municiar Evanilson, recuando Pepê para a lateral direita, onde fez um duo dinâmico com Francisco Conceição. Como do outro lado a dupla Wendell/Evanilson não dava descanso aos leões, Amorim viu-se obrigado (71 minutos) a fechar-se ainda mais, lançando Diomande para o centro-direita da defesa (Quaresma passou a fazer a ala desse lado) e Bragança para o meio-campo, onde o sufoco era tremendo. Com os dragões sempre por cima das operações, Nuno Santos estoirou, dando lugar a Esgaio, que não se sente confortável à esquerda, enquanto que Conceição trocou os homens do miolo, fazendo entrar sangue fresco, com Eustáquio e Grujic. O tempo regulamentar escoava-se mas ficava a sensação que os onze jogadores do FC Porto iriam, no prolongamento, continuar a apertar o garrote que não deixava respirar os campeões nacionais. E assim foi.
Defesa-central foi sempre um garante de segurança a defender e de atrevimento nas bolas paradas; St. Juste, Geny Catamo e jovem guarda-redes pecaram em lances capitais; Gyokeres foi um lutador solitário na frente de ataque dos leões
A VANTAGEM NATURAL
No tempo extra, Rúben Amorim bem tentou dar mais pulmão ao meio-campo, mas a pressão azul-e-branca era muito forte e ainda antes de Diogo Pinto cometer a falta comprometedora sobre Evanilson, o jovem guarda-redes do Sporting tinha salvo a sua equipa em duas ocasiões claras de golo.
Dois minutos depois de Taremi ter, dos onze metros, colocado o FC Porto na frente, Rúben Amorim desfez o 5x3x1, e com a entrada de Paulinho e a saída de Sebastián Coates passou a um 4x3x2, com que procurou correr atrás do prejuízo. Respondeu-lhe Sérgio Conceição, de forma muito pragmática, trocando Evanilson por Romário Baró e, com isso, criando um decisivo reforço do meio-campo.
Até ao fim da partida, o Sporting nunca se entregou, procurou, através de um futebol mais direto, apoiado no jogo aéreo, chegar à igualdade, mas, desgastado e em inferioridade numérica, mais não conseguiu do que sair de cabeça erguida do vale do Jamor. O FC Porto, que não cometeu os erros do adversário, conquistou com todo o mérito a vigésima Taça de Portugal do seu historial.