Do susto às lágrimas se conta este dérbi (crónica)
Fase de jogo do FC Porto-Boavista (Foto: André Alves/Grafislab)

FC Porto-Boavista, 2-1 Do susto às lágrimas se conta este dérbi (crónica)

NACIONAL12.05.202423:44

O Boavista defendeu muito bem e o FC Porto atacou quase sempre mal; expulsão de Malheiro feriu a pantera e Taremi marcou aos 90+8’ deste duelo da 33.ª jornada da Liga

O FC Porto venceu o Boavista num empolgante e muito intenso dérbi da cidade do Porto, e recuperou o terceiro lugar na tabela classificativa, embora ainda tenha de o conquistar ao SC Braga no jogo com os minhotos reservado para a última jornada do campeonato.

Venceu, mas teve de sofrer muito para isso e esteve longe de fazer uma exibição convincente, mesmo que boa parte do mérito do desacerto portista deva ser atribuído a um Boavista que colocou em campo uma estratégia para defender e a cumpriu na perfeição até que, aos 64 minutos, o lateral-direito Pedro Malheiro foi (bem) expulso e o castelo começou a ruir.

A equipa de Jorge Simão entrou sem ponta de lança, com Bruno Lourenço e Salvador Agra a procurarem a profundidade pelas alas e Reisinho a surgir em zona de ataque mais central. A ideia pareceu passar por povoar mais a zona do meio-campo e jogar sempre num bloco médio/baixo, de olho no erro do adversário. E a ideia resultou muito bem, porque o FC Porto dominava mas não controlava o jogo, conseguindo desquilíbrios apenas no talento de Pepê, que passou e teve a grande oportunidade da primeira parte, com um remate tremendo que bateu na trave da baliza, e no talento de Francico Conceição, sempre intratável. Mas houve pouco Wendell, pouco Galeno, pouco de quase toda a gente. E a equipa foi mostrando intranquilidade e comentendo erros, alguns graves na saída de bola e outros perfeitos disparates — um de Zé Pedro e outros de Otávio.

Mas a tendência do jogo era e foi sempre apenas uma: o Boavista a defender e o FC Porto a atacar.

Depois do intervalo a tendência acentuou-se e os axadrezados recuaram ainda mais o bloco. Os azuis e brancos não descobriam forma de entrar e criar perigo sistemático no último terço, mas o Boavista também não parecia capaz de chegar assertivo à baliza de Diogo Costa, portanto, não foi sem alguma surpresa que Bruno Lourenço dançou à frente de Alan Varela, na área, e rematou em jeito para um grande golo. O Dragão já estava frio, mas nesta altura congelou.

O lance que mudou tudo

Bastariam, porém, quatro minutos para que sucedesse o lance que potenciou brechas na bem montada e solidária ideia de jogo da pantera: Pedro Malheiro fez falta para segundo amarelo (e viram-se 12 neste jogo! Um deles ao treinador Sérgio Conceição) e foi expulso.

Jorge Simão não reagiu de imediato, apenas tirou Joel do meio-campo e recuou para lateral-esquerdo para Luís Santos ir para o outro lado, mas a troca beneficiou o velocista Francisco Conceição.

Por outro lado, o Boavista também pareceu beneficiar do recuou de Pepê para lateral-direito, quando entrou Taremi por Martim; o meio-campo portista ficou um pouco órfão de boas ideias, o perigo acentuou-se junto à área do Boavista, mas prevalecia o erro, o mau passe, o remate transviado.

Ironicamente, foi numa rosca, num remate surrealista de Otávio que o FCPorto empatou o jogo. O dito remate que nem sequer foi remate de Otávio colocou a bola na cabeça de Zé Pedro, que não falhou o alvo.

A partir dessa altura a equipa de Conceição carregou, os jogadores do Boavista foram caindo aos poucos, esgotados, e a vitória do FCPorto apareceu de forma poética num cruzamento mágico de Francisco Conceição para a cabeçada eficaz de Taremi, ele que, assim, se despede do Dragão em glória e até chorou no relvado — termina contrato e vai jogar para os italianos do Inter.

Resumindo, o Boavista esteve muito perto do sucesso e fez uma exibição que poderia ser heróica mas que pelo resultado final não entrará na história desta Liga; o FC Porto esteve perto do fracasso, muito por culpa própria, de uma exibição desinspirada e aos repelões, mas acabou por ser competente e volta ao pódio, como pretendia.

Mas as duas equipas, no que diz respeito à entrega e intensidade, proporcionaram um dérbi entusiasmante com muitos momentos de roubar a respiração, principalmente nos últimos 25 minutos.