De Marselha com paixão
Adversário do Benfica na Liga Europa carregado de história; adeptos enchem os estádios; jovem presidente tem projeto ambicioso
O Marselha joga esta quinta-feira com o Benfica a primeira mão dos quartos de final da Liga Europa num momento desportivo conturbado a nível interno depois de quatro derrotas consecutivas (que sucederam a um ciclo de cinco vitórias) e do consequente 8.º lugar na tabela do campeonato francês, mas esta campanha europeia está a ser vivida com muita intensidade na cidade e os adeptos do clube gaulês continuam a confirmar em absoluto a imagem apaixonada de um clube que é tradicional e histórico, cheio de carisma e tem uma equipa que certamente colocará muitas dificuldades ao Benfica.
Mas conheçamos um pouco melhor o atual Olympique Marselha, alimentado por uma história que o torna num clube especial e mergulhado num projeto de renovação e progresso de Pablo Longoria, espanhol de apenas 37 anos que lidera o clube desde 2021 e já colocou em marcha um plano abrangente, e não só no futebol profissional. De há três anos para cá, as receitas provenientes dos patrocinadores aumentaram em cerca de 70 por cento, a presença do emblema nas redes sociais já se faz ao ritmo de 21 milhões de seguidores.
Frank McCourt, milionário norte-americano que comprou o clube em 2016, conquistou 6 qualificações europeias nos últimos 7 anos, o que é também um sinal positivo para Marselha.
O cunho de Longoria está também na reestruturação do edifício do futebol. Esta época formou um balneário com qualidade, ainda que em fase de ebulição e numa relação conturbada com o atual treinador, Jean-Louis Gasset. Mas para o Marselha Longoria trouxe, por exemplo, o goleador gabonês Aubameyang, que leva 9 golos nesta edição da Liga Europa e é, aliás, o melhor marcador da história da competição, com 31 golos. Mas no grupo estão igualmente outros jogadores que entusiasmam, como Pau López, Chanvel Mbemba (central ex-FC Porto), o médio marroquino Azzedine Ounahi, Kondogbia Ou Joaquín Correa. É um plantel equilibrado com experiência e juventude, mas não um grupo formado com base nas camadas de formação do clube, como sucede com o Benfica. Longoria também trabalha nesse aspeto e desde há dois anos que colocou a trabalhar nesse domínio o diretor Marco Otero, que pretende mudar o paradigma da formação. E, pela primeira vez desde há muito tempo, alguns jogadores das equipas secundárias começaram a ser utilizados de forma sistemática na equipa principal.
Mas o plano do Marselha é o de olhar para a frente sem nunca deixar de olhar pelo passado. Longoria chamou ao clube as antigas glórias – Jean Pierre Papin é embaixador do Marselha e está integrado na estrutura do futebol, Boli é também embaixador do clube. Não há muito tempo, foi organizado um jantar que juntou à mesa mais de meia centena de antigos jogadores dos gauleses.
O Marselha é paixão e por isso, muito como acontece com o Benfica, o coração do clube é os seus adeptos, que vivem tudo o que diga respeito ao clube com enorme intensidade.
O Vélodrome, palco do jogo da segunda mão destes quartos de final da Liga Europa, tem esta época uma média de assistência de 61 mil espectadores (o estádio tem capacidade para 67 mil), a sexta mais alta na Europa. Apesar do momento menos bom no campeonato, o jogo com o PSG do passado dia 31de março, que o Marselha perdeu por 0-2, representou um recorde absoluto: estiveram 66.046 nas bancadas.
Nos últimos três anos foi também alcançado um outro número recorde: 48 mil sócios!
O Marselha conquistou 9 Ligas francesas, 10 Taças de França, 3 Taças da Liga, 2 Supertaças de França e é o único clube francês que conseguiu ganhar uma Liga dos Campeões, surpreendendo a Europa em 1992/1993 com uma equipa liderada pelo treinador alemão Raymond Goethals e que tinha estrelas como Barthez, Angloma, Boli, Desaily, Deschamps, Abedi Pelé, Franck Sauzée ou Voller.
Na história deste emblemático clube estão outros grandes nomes do futebol mundial como Jean-Pierre Papin (182 golos em 275 jogos), Steve Mandanda (recorde de jogos pelo clube: 613 jogos!), Djorkaeff, Fabrizio Ravanelli, Enzo Francescoli, Souleymane Diawara, Mathieu Valbuena, Dragan Stojković, Samir Nasri, Eric Cantona, Didier Drogba, Laurent Blanc, Gabriel Heinze ou Marius Trésor.
O Marselha já esteve em três finais da Liga Europa e jogou quatro vezes contra o Benfica – nas meias-finais da Taça dos Campeões de 1989/90 e nos oitavos da Liga Europa de 2009/2010, sendo eliminado nas duas ocasiões.
Para esta quinta-feira está marcado novo duelo e que tem garantida a paixão enorme com que os adeptos de um e outro clubes vivem os jogos.