E. Vermelha-Benfica, 1-2 Crónica do Estrela Vermelha-Benfica — Inferno de Belgrado não aguenta dois cubos de gelo

NACIONAL19.09.202420:20

Vitória importante e merecida da equipa de Bruno Lage na Liga dos Campeões, que lidou muitíssimo bem com um ambiente que atemorizou, ironicamente, a própria equipa da casa

O famoso ambiente de Belgrado, o temível ambiente da Sérvia e do Marakana, não defraudou as expectativas. Muito se falou dele antes do jogo e como poderia condicionar a partida e, na verdade, confirmou-se. E de que maneira. Foi quente, foi terrível, foi influenciador, atemorizou uma equipa e os seus jogadores, fê-los hesitar e temer. O Estrela Vermelha acusou, de facto, o ambiente... da sua própria casa. Incrível, pois, o número de erros cometidos pelos sérvios em toda a primeira parte.

O Benfica, porém, também teve a sua fatia de responsabilidade na matéria, perante a forma competitiva e autoritária como se apresentou. Entrou a matar, sem pensar se sairia a morrer. Era favorito e puxou dos galões, Akturkoglu rapidamente deixou um aviso. Ao minuto 2, quando já se jogava perto da área sérvia, atirou ao lado, ao minuto 8 foi Rollheiser a errar a finalização, os adeptos sérvios cantavam, o Benfica assobiava para o lado, indiferente. Ao minuto 9, contra-ataque rápido, Di María, Bah, Akturkoglu, golo, 1-0, o turco entrava quase literalmente com a bola pela baliza a dentro.

Um cubo de gelo, o primeiro, não arrefecia totalmente o inferno sérvio, que continuava quente o suficiente para obrigar os jogadores a jogar sob brasas. Os jogadores do Estrela Vermelha. Obrigados a fazer algo, Krunic (12') e Bruno Duarte (18') convidaram Trubin a entrar ao serviço aos 18', mas o Benfica continuava a mandar e Rollheiser aparecia invariavelmente sozinho para receber e fugir naquele terreno entre Pavlidis e os médios Kokçu e Florentino. Parecia um 4x2x3x1 ou um 4x3x3 disfarçado de 4x4x2.

O Estrela Vermelha, por seu turno, continuava a acusar o ambiente e a cometer erros em massa, o nervosismo de quem jogava em casa para a Liga dos Campeões e não está habituado. Depois de mais um desfile de asneiras e perdas de bola em frente à área, eis que surge falta em zona perigosa e livre exemplar, bonito, de Kokçu, 2-0. O segundo cubo de gelo arrefeceu quase totalmente o inferno sérvio. Bah saía, cada uma das equipas perdia o seu lateral-direito em plena primeira parte, em lesões registava-se uma igualdade, Kaboré estreava-se pelo Benfica e dois grandes cortes de Otamendi fechavam a primeira parte.

Intervalo morno, nas calmas, Bruno lage atrasado para o início do jogo, chegava ao banco do Benifca já o Estrela Vermelha chegara à área encarnada. O Estrela Vermelha estava, de facto, diferente... ou seria o Benfica? Alguém subiu no terreno ou alguém recuou em campo, alguém pressionou mais ou alguém se deixou pressionar, mas o resultado mantinha-se. Bruno Lage começou, então a pensar no resultado, Rollheiser trocou com Aursnes, Benfica teria, em teoria, um meio-campo mais disciplinado.

Nem sempre foi assim, mas começou por funcionar bem e as oportunidades de fazer o 3-0 sucediam-se, com Kokçu a errar o passe de morte para Pavlidis e Akturkoglu a fazer mais ou menos o mesmo minutos depois. Kaboré passava dificuldades, Lage não tirava Di María, mas trocava-o de flanco com Akturkoglu e pedia a Kokçu que ajudasse. Todos os caminhos iam dar a Kaboré, os do Estrela Vermelha e dos do Benfica.

Di María errava o 3-0, os sérvios aproveitavam e reduziam, Milson, ao minuto 86, fez o 2-1 e poderia ter lançado o pânico. Mas Amdouni atirou ao poste logo a seguir e fez os sérvios descer à terra. Pressão final não desviou o Benfica de um triunfo justo e importante, que Lage festejou à Mourinho. Não era para menos: o Estrela Vermelha não perdia em casa há 18 jogos. O último a ganhar fora o Manchester City de Guardiola.