Cristina Martín-Prieto: «Tinha ofertas em Espanha, mas não podia recusar o Benfica»
Cristina Martín-Prieto

ENTREVISTA A BOLA Cristina Martín-Prieto: «Tinha ofertas em Espanha, mas não podia recusar o Benfica»

FUTEBOL FEMININO11.09.202408:00

Avançada espanhola deu uma entrevista a A BOLA e falou dos primeiros tempos no Benfica, revelou porque escolheu rumar ao clube encarnado e apontou, também, os principais objetivos para a temporada

Chegou ao Benfica este verão, como foram estas primeiras semanas de trabalho e quais foram as primeiras sensações que teve do clube?

Bem, a verdade é que foi um prazer. Fiquei surpreendida. Tinham-me falado muito bem do clube, mas superou todas as expectativas. É um clube que se vê que está a crescer, que quer crescer um pouco mais, todos os anos, e então senti-me logo em casa. Parecia que já estava aqui há muitos anos. Familiarizei-me rápido com as colegas de equipa e com o pessoal técnico. A língua, no fundo, é semelhante, mas foi difícil para mim no início e as minhas companheiras não hesitaram em ajudar-me, em explicar-me as coisas centenas de vezes. A verdade é que foi um processo lento, mas foi muito bom.

E como é que foi a adaptação ao país?

A vida é praticamente a mesma que em Espanha, Eu venho de uma zona quente e aqui também faz muito calor. Somos os dois países que dividem a Península Ibérica, por isso a vida é muito semelhante.

Qual foi a principal razão que a fez vir para Portugal e para o Benfica?

A insistência do Benfica, que não pude recusar. Quando nos chamam tantas vezes, quando vemos que é um clube que está a apostar, que quer continuar a crescer... Eu quero continuar a crescer e quero continuar a crescer de mãos dadas com o Benfica. Tinha ofertas em Espanha, mas pensei 'porque não tentar no estrangeiro e no Benfica?' Senti que não tinha mais nada para dar em Espanha, o Benfica ligou-me e não pude recusar a oferta.

O Benfica ganhou os últimos quatro campeonatos em Portugal. Quais são as suas expectativas para esta temporada?

Somar o quinto para elas e o primeiro para mim. Trabalhamos para estar lá em cima, para atingir o maior número possível de objetivos e esperemos que seja o quinto campeonato seguido para o clube e o primeiro para mim.

No ano passado, foi a terceira melhor marcadora da liga espanhola, ao serviço do Sevilha, com 18 golos. Ser a melhor marcadora da liga portuguesa é um objetivo que tem definido?

Sou ponta de lança e gosto de marcar golos. Estaria a mentir se dissesse que não e acho que, quem se identifica comigo, dirá o mesmo. Não me proponho esse desafio, porque já se viu que qualquer colega pode marcar. Mas gostaria de o fazer e quanto mais golos fizer, mais satisfatório é para mim e melhor é para o grupo.

O que acha dos métodos de treino de Filipa Patão?

Muito bons. A verdade é que se nota que esta equipa já trabalha junta há vários anos. Gosto do sistema, das sessões de treino... Eu sou nova e, praticamente, ainda não repetimos os exercícios, o que sugere que ela é uma treinadora, que pensa muito sobre o treino e que procura o melhor para a sua jogadora. Neste momento, estou muito contente e tenho a certeza de que assim será ao longo da época.

Como é que é o ambiente no balneário?

Muito bom, muito saudável. Há jogadores de várias idades e a verdade é que não encontrei um grupo melhor na minha carreira. Notei desde o início que todas queriam ajudar-me, até mesmo as colegas da equipa B, que vieram dar-me uma ajuda. Isso é de enaltecer, porque poucos clubes são assim e vê-se que aqui trabalham a partir das camadas de formação e que respeitam. A equipa é fenomenal. Cada uma tem a sua mania, mas eu não podia estar a divertir-me mais. Somos uma família. É normal que este grupo tenha conquistado tantos títulos.

Filipa Patão, treinadora do Benfica (SL Benfica)

O que é que acha da massa adepta benfiquista?

Maravilhosa. Já tinha ouvido falar dos adeptos, pelas minhas colegas de equipa, mas não podia imaginar. Senti e vi algumas coisas no torneio do Algarve, mas quando jogámos aqui em casa e vi as bancadas, foi um espetáculo. Espero que seja assim durante toda a época, que nos levem para a frente e que sejam o nosso 12.º jogador.

Já imaginou como será jogar no Estádio da Luz?

Não costumo pensar nisso, porque, até acontecer, não quero pensar. Mas acho que vai ser uma coisa que vai ficar comigo para sempre, não vou conseguir explicar-vos por palavras, mas tenho a certeza de que vou estar nervosa, entusiasmada, espero ver as bancadas cheias e que tudo corra bem.

Estádio da Luz

O Benfica está a disputar a Liga dos Campeões pelo quinto ano consecutivo. Quais são os objetivos para esta competição?

Neste momento, estamos a planear o jogo com o Estoril, que é o próximo. Mas o objetivo é, simplesmente, fazer algo de positivo e continuar a ir passando as rondas na Liga dos Campeões, sem descurar aquele que é o objetivo de vencer a Liga também.

É a primeira vez que está a jogar esta competição. Como se sente por disputá-la?

Muito bem e penso que se nota. Três golos e uma assistência, em dois jogos. Não podia estar a ter uma melhor estreia. Estou contente com o trabalho da equipa, contente por marcar, porque é o que me caracteriza, e vou tentar ir mais longe possível.

Jogar na Liga dos Campeões era um sonho para si?

Sim, era. É o que qualquer jogador ou jogadora quer. Jogar as melhores competições, jogar a Liga dos Campeões, ganhar coisas... Era um objetivo que tinha desde criança e está a correr bem.

O Benfica começou a época com uma derrota na final da Supertaça frente ao Sporting. Como é que a equipa ultrapassou, animicamente, esse momento?

Bem, nós somos uma equipa competitiva, somos uma equipa que tem muito esse espírito competitivo nas derrotas. O balneário, no dia seguinte, estava talvez um pouco desanimado, mas nós sabemos o que é o Benfica. Sabemos que não jogámos mal, só não conseguimos materializar as oportunidades que tivemos nesse jogo. No final do dia, não pudemos levar isso connosco, porque o campeonato estava a começar, a Liga dos Campeões estava a começar e temos sempre de dar 100%. Esta equipa é capaz de ultrapassar as adversidades, como se viu.

E pessoalmente, como lidaste com esse momento?

Foi difícil para mim. Talvez me tenha custado durante dois dias, mas esta equipa incutiu-me o seu gene competitivo no sangue e como, na semana seguinte, tivemos o primeiro jogo da liga e depois tivemos a primeira ronda da Liga dos Campeões, não se pode ficar a pensar no que aconteceu há 3 ou 4 semanas.

Chegaste a Portugal há pouco tempo, mas qual é a tua opinião sobre o futebol feminino português?

Bem, acho que está a crescer. Prova disso é o Benfica, mas acho que todos os clubes estão a fazê-lo também. Aqui temos VAR, que não existe na liga espanhola e acho que estamos a crescer, que cada vez se aposta mais no futebol feminino. A Federação Portuguesa de Futebol está a apostar mais, os clubes estão a apostar mais e estamos a ver um futebol feminino com muita qualidade, aqui em Portugal.

Acompanhava o futebol feminino português antes de vir para cá?

Não conhecia muito. Via poucos jogos, às vezes via o Benfica, às vezes o Sporting... Mas não conhecia muito, até ter a opção de vir para cá e aí fiquei a conhecer um pouco mais sobre os outros clubes.

Plantel do Benfica 2024/2025 (Benfica)

Já foi convocada para a seleção espanhola, anteriormente. Pensa muito em voltar a ser chamada?

Estaria a mentir se dissesse que não. Todos os jogadores querem representar o seu país. Eu já estive nas seleções jovens, já estive na seleção principal. Gostava de voltar, mas tenho de me focar no trabalho que faço para o meu clube, para a minha equipa. Trabalho para o Benfica e, se me chamarem, é óbvio que terei todo o gosto em ir.

Conhece o futebol espanhol, conhece, seguramente, a Kika Nazareth, que passou pelo Benfica. Acha que a internacional portuguesa pode triunfar em Espanha?

Sim, ela tem qualidade e a verdade é que se vê que trabalharam muito bem com ela aqui [no Benfica]. Ela está num grande clube em Espanha. O que ela leva daqui, mais o que vai aprender lá, penso que, talvez mais a curto prazo do que a longo prazo, se vai falar muito dela em Espanha, em Inglaterra, aqui em Portugal, obviamente, porque que ela tem qualidades para ser grande.