Crise do FC Porto explicada em números
Ataque sem chama e também sem o goleador Taremi. Talento de Pepê ainda vai disfarçando carências no plantel. FC Porto é a equipa que mais cartões viu na Liga. Equipa de Conceição tem tantos penáltis a favor como contra
A derrota em Arouca acirrou ânimos entre os adeptos e os sete pontos de atraso que o FC Porto tem agora para os rivais de Lisboa (no caso do Sporting até podem passar a dez face ao jogo adiado dos leões em Famalicão) complicam muito as contas do título ou até mesmo a presença na Liga dos Campeões de 2024/2025, que terá um novo modelo competitivo e à qual só os dois primeiros do campeonato luso terão acesso (e o segundo classificado terá de disputar a terceira pré-eliminatória).
No consulado de Sérgio Conceição, que vai na sua sétima época no Dragão, foram conquistadas três Ligas, época-sim, época-não. Ora em 2023/2024, depois do 2.º lugar da temporada passada, seria ano de título, o que parece ser cada vez mais uma miragem… E assim, quando estamos a uma jornada de se concluir o segundo terço da prova, A BOLA foi analisar alguns números que, tal como o algodão, não enganam e explicam muita coisa.
Os dragões já deixaram fugir 18 pontos na prova, fruto de quatro derrotas e três empates, mais do que os 17 perdidos em toda a época passada ou os 11 da temporada 2021/2022, a do último título conquistado. E os quatro desaires agora sofridos (diante de Benfica, Sporting, Estoril e Arouca) igualam mesmo as derrotas verificadas no total das duas últimas temporadas: SC Braga (2021/2022) e Rio Ave, Gil Vicente e Benfica (2022/2023).
‘SUB-TAREMI’ NÃO EXPLICA TUDO
Se em termos de golos sofridos a defesa portista, pese as vicissitudes que têm afetado o setor (prolongadas lesões de Marcano, Pepe, Wendell e Zaidu, saída de David Carmo…), até apresenta valores semelhantes a anos anteriores - 16 golos consentidos, uma média equivalente aos 22 permitidos em qualquer das duas épocas anteriores -, já em termos atacantes a diferença é assinalável.
Depois de épocas com médias de golos apontados acima dos dois por jogo - 74 em 2020/2021, 86 em 2021/2022 e 73 em 2022/2023 -, com um terço desta edição da Liga por disputar a eficácia goleadora dos dragões só pode ser designada de… preocupante.
Até aqui a equipa fez 35 golos, à média de 1,7 por partida (menos 23 que os alcançados pelo Sporting!), tendo Evanilson sido o seu melhor marcador, com nove (dois de penálti). E muito desse atabalhoamento diante das balizas adversárias decorre de uma época bem abaixo dos seus padrões por parte de Taremi, que depois de 59 golos apontados nas últimas três épocas fez tão-só três (um de penálti) nos 16 jogos realizados e que - tendo perdido cinco encontros devido à Taça da Ásia - não marca desde 2 de dezembro, à jornada 12. E quando um dos segundos melhores marcadores do dragão é o lateral-esquerdo Wendell, as sirenes devem começar a tocar no Dragão.
Também no capítulo das assistências ainda não se encontrou no plantel azul e branco quem substitua jogadores como Otávio, Fábio Vieira, Corona ou Luis Díaz, que lideravam nos últimos anos a lista dos jogadores com mais passes para golo. E tal como na temporada passada ainda é Pepê, muitas vezes jogando numa posição mais recuada, que mais vezes (4) assiste para os golos portistas. Mas bem distante de nomes que sobressaem nos rivais, como Rafa Silva ou Pedro Gonçalves, ambos com nove assistências na Liga, Di María (8) ou até Gyokeres (7).
AI A DISCIPLINA…
Independentemente do rigor, ou até maior ou menor complacência por parte das equipas de arbitragem para com os jogadores de Sérgio Conceição, a sensação que fica é que, nesta temporada, os atletas do FC Porto - que incorporam um ADN de combatividade, paixão e agressividade por vezes a roçar o limite - têm-se visto obrigados a recorrer mais às faltas.
A quantidade de cartões mostrados é bem elucidativa: um total de 74 (média de 3,5 por jogo, bem superior aos 2,6 de 2021/2022, por exemplo, em que foram admoestados com 87 cartões em toda a época), sendo cinco deles vermelhos (dois nos clássicos diante de Sporting e Benfica).
Os dragões são mesmo a equipa que mais cartões viu na prova, tendo em sete jornadas do campeonato (ou seja, num terço das 21 realizadas) sido mostradas cinco ou mais cartolinas a jogadores portistas, o que não tem paralelo.
Também no capítulo dos penáltis, no reino do dragão as coisas estão bem mais negras que em épocas transatas, tendo igual número de penáltis a favor e contra: viu serem assinalados contra si, a um terço do fim da competição, seis (o dobro dos três cometidos em 2021/2022, por exemplo) e têm apenas metade dos assinalados a seu favor na temporada de 2022/2023.