Tudo o que disse Sérgio Conceição: De Taremi, ao atraso na Liga e a certeza de nunca desistir
Treinador do FC Porto foi autoritário na defesa dos jogadores, pediu apoio do público e disse que gosta de testes de pressão
O Estrela da Amadora reforçou-se muito no mercado de inverno
«Acho que em termos de reforço do plantel, essa foi a equipa, a par do Rio Ave, talvez, onde houve mais entradas de jogadores, e jogadores, como disse bem, que entraram diretamente na equipa, outros no decorrer do jogo também. É uma equipa que dentro daquilo que é a dinâmica, não mudou muito os seus princípios, tem jogadores de características diferentes, o que faz que durante o jogo e nos diferentes momentos do mesmo, possa ter uma ou outra nuance diferente. É por aí. Dificuldades sabemos que vamos ter, não há jogos fáceis no nosso campeonato.»
O atraso na Liga.
«Está mais difícil, mas não é impossível. Aqui ninguém desiste e atira a toalha ao chão. Lembro-me que [na época passada] entrámos na Luz e se perdêssemos ficaríamos a 13, saímos de lá a sete. Estávamos a 10 do Benfica e ficámos a dois. E com um jogo mal perdido com o Gil Vicente. Aqui ninguém desiste. O trabalho e foco são os mesmos. Estamos aqui para lutar até ao fim.»
A viagem de Taremi a Milão que foi adiada e o compromisso do atacante.
«Não faço parte do aeroporto, não sei se os aviões estavam à espera, se não estavam, aquilo que eu sei é que, e sempre disse, e é uma frase que ficou, e está escrita aqui nos murais. Aqui não basta ter contrato com o FC Porto, é preciso sentir o clube, e o Taremi tem sentido o clube, há que ter respeito. O Taremi tem contrato até junho e há que ter respeito pelo jogador, porque o jogador tem respeito pelo clube. Estamos a falar de um jogador estrangeiro que está no top 3 dos golos marcados (86 golos), tem só o Jardel e o Jackson Martínez à frente. O Taremi está à frente do Hulk, com menos jogos e as pessoas parecem que se esquecem um bocadinho, ou convém esquecer um bocadinho, aquele que foi o percurso do Taremi. Cem vezes gritaram pelos golos do Taremi ou aquelas quase 50 assistências que ele fez para os colegas fazerem golos e não se pode esquecer disso, há que ter respeito, porque o Taremi tem respeito pelo clube, trabalha aqui diariamente com afinco. Fez uma viagem, depois de não dormir a noite toda, estava disponível para o treino e para ir para a Arouca, fosse para jogar um minuto, um segundo, 90 minutos. Não vale de tudo para se enxovalhar, não é assim, não há ninguém que sinta mais o clube do que eu e se sentisse que algum jogador não está comprometido, acreditem, podia-se chamar Maradona, se ele viesse cá à terra outra vez, não tinha hipótese nenhuma comigo! O Taremi, enquanto trabalhar da forma como trabalha, é opção, a titular, no banco, pode não ser convocado por não estar a trabalhar tão bem, mas faz parte das opções, das minhas opções, a minha decisão em relação ao Taremi é exatamente igual aos outros, não emprenho pelos ouvidos, estou aqui com as minhas ideias, com as minhas convicções, porque eu amo o FC Porto, não falo mal gratuitamente do FC Porto. O Taremi depende daquilo que fizer no trabalho diário. O FC Porto paga-lhe bem. Temos um jogador, como eu disse, que está no top 3 dos melhores marcadores de sempre do FC Porto, OK? E há que ter respeito, porque ele teve respeito sempre com o clube, e é um profissional de corpo inteiro. Houve alguns jogadores que saíram e trabalharam de uma forma fantástica até o último dia de contrato. Grandíssimos profissionais.»
A atitude da equipa
«Acho que não tem a ver com atitude, olha, vou-lhe dizer que foi o jogo com mais alta intensidade que tivemos, acho que não tivemos tão bem na nossa… vamos lá ver. Vou falar do nosso momento defensivo, do nosso equilíbrio, tem a ver também forçosamente com o nosso processo ofensivo, ou seja, a forma como nós atacamos, e quando estamos em ataque organizado, quando estamos a entrar numa primeira ou numa segunda fase de construção, perceber que há passes que não se podem errar, que são zonas proibidas e zonas de risco. Foi um bocadinho por aí, a atitude e a ambição e a dedicação destes jogadores não mudou nada. Agora, estamos a falar no tempo que eu era jogador, são tempos diferentes, tinha 15 jogadores, no mínimo, que pertenciam à formação do FC Porto, e que sabiam e percebiam de uma forma mais fácil o que é FC Porto, o que é o nosso clube, o que é a nossa sociedade, o que é a nossa região, o que é a nossa ambição e a nossa exigência. Agora é um bocadinho mais difícil, mas isto não quer dizer que os jogadores não tiveram a dedicação no trabalho até ao jogo. É verdade que não entrarmos da melhor forma e temos que dizer, por mérito do Arouca. Faltou-nos em alguns momentos discernimento com bola, esse discernimento com bola faria com que nós, na perda da mesma, não sofrêssemos tanto como sofremos nas transições do adversário, enfim, foi uma série de situações que não tivemos bem, essa é a verdade. Só para lembrar que aos 8 minutos empatámos, dos 8 minutos aos 28, em que houve aquele penálti, e depois na área adversária houve um similar que não foi assinalado e deu a vantagem do 2-1, e até aí tivemos 3 ou 4 ocasiões para ficarmos por cima do marcador. Não aconteceu, a verdade é que o Arouca fez 4 remates à baliza, com tudo aquilo que foi o jogo e fez 3 golos. Foram eficazes, foi um jogo muito bem conseguido da parte do Arouca e um jogo menos conseguido do nosso lado, é isso, estamos a falar de futebol, há perder, empatar e ganhar. Empatar e perder para nós não serve, nunca serviu nesta casa, não serve agora, mas daí a falar daquilo que eu vi escrito e daquilo que é o avolumar que são as críticas, de uma crise no FC Porto. A crise é a corrupção desportiva, para mim, a crise é ordenados em atraso, a crise é a violência nos estádios, isso é que é crise, nós estamos nos oitavos de final da Liga dos Campeões, a única equipa portuguesa, estamos na luta pelo campeonato, estamos atrás, um bocadinho atrás, digo, bastante atrás dos outros, mas como disse, vamos lutar até ao último jogo, até ao último minuto do último jogo, ninguém duvide disso. Estamos nos quartos da Taça de Portugal, há aqui uma equipa que ganhou este ano, que foi o SC Braga. Ganhou um título, no final faremos as contas, e estamos aqui para lutar, volto a frisar.»
O que pode o treinador fazer de diferente?
«Sinto que posso trabalhar de forma diferente para que não aconteçam algumas situações dentro do jogo que nos metem em dificuldade. Há erros que cometemos, são os chamados erros não forçados. Há um mau passe, há uma situação fácil de um jogador que está livre e nós complicamos sem pressão do adversário, uma perda de bola que não foi provocada por uma boa estratégia defensiva do adversário, isso é difícil para o treinador... Podemos, sim, sempre, trabalhar o passe, mas isso fazemos naturalmente, desde o início do treino até ao fim, isso faz parte, o passe, a receção, os apoios, enfim, tudo aquilo que vocês possam imaginar dentro de uma equipa de futebol, que é o trabalho. Depois há outras situações mais estratégicas que devia trabalhar como trabalhei em outros jogos, devia alertar ainda mais para essas situações para não sermos surpreendidos. Daí a minha culpa, sou o líder da equipa, assumo.»
Outra vez Taremi e o quadro de Alan Varela.
«O Taremi pode dar à equipa tudo aquilo que vocês já conhecem. Depende da estratégia para o jogo, depende da forma como nós jogarmos, naquele que é o modelo de jogo, naquele que vai ser o sistema adequado para determinado jogo, se precisamos de um jogador com o critério do Taremi ou não, mas posso até por tudo aquilo que é essa expectativa e essa curiosidade, posso dizer que o Taremi amanhã não joga de início. Pronto, já é uma novidade que vocês têm. Tudo aquilo que eu disse do Taremi aqui não é tentar justificar uma utilização dele amanhã de início, não. Não joga amanhã. O Alan Varela vamos ver, está com problema nos gémeos, aí já não posso ser tão convicto.»
Estado anímico da equipa e o apoio dos adeptos.
«Eles percebem que não estamos num bom momento, não é normal empatar em casa com o Rio Ave, apesar do bom jogo que também foi visível a toda a gente, que fizemos, muitas oportunidades, golos anulados, penáltis não assinalados, enfim, foi o que foi, não conseguimos meter a bola dentro, essa é uma realidade, conseguimos meter, mas não foi validado por uma unha. Em Arouca devíamos ter dado outra resposta. A vontade é grande que chegue amanhã a hora do jogo e darmos essa resposta que nós queremos, dar, com o apoio de toda a gente, porque os adeptos sabem, os sócios e simpatizantes sabem que a equipa é uma equipa jovem, uma equipa que se dedica muito àquilo que é o trabalho, que já fez coisas muito interessantes nesta época. Fizemos coisas menos boas também, mas precisamos desse apoio, esse verdadeiro apoio, para que eles possam, aos 97, 98, 99 minutos, não vou dizer mais nenhum número, porque depois metem-me um processo e dizem que coincidiu com as escolhas que o míster falou, ou que disse na conferência de antevisão do jogo. Que o adepto seja essa mais-valia, para que a esse minuto haja um sprint para fazer golo, para salvar um golo, isso para nós é que é importante. Ninguém duvida, é um grupo jovem, mas que quer muito vencer.»
Jogo com o Estrela é um teste de resistência.
«Lembro-me das primeiras conferências que fiz, há sete anos, sensivelmente, seis anos e tal, que estava em permanente teste. Andei sempre em testes e vou continuar em testes, porque gosto disso, gosto desses testes, dessa pressão, não gosto de perder, nem gosto de empatar, mas gosto desses ciclos difíceis, são o que são, nós representamos um clube que é o FC Porto, é normal os ciclos serem difíceis, porque cada empate é um desastre. É sempre um desastre, por isso, estamos preocupados é com o Estrela, como é que joga o Rodrigo Pinho, se joga muito em apoio, o que é que os alas fazem, se o Aloísio e o Léo Cordeiro, como é que pressionam, quando é que pressionam, em que zona é que pressionam, se os laterais se projetam na frente, isso é com o que estou preocupado. Fala-se pouco de futebol em Portugal, mas faz parte, estamos habituados.»
Desnorte em Arouca
«Os rapazes estão a fazer aquilo que eu pedi, não revela desnorte nenhum. É uma questão de olharem para o líder. Falam de desnorte porque convém falar de desnorte. Aliás, nós somos do Norte, não desnorte, Norte. Não há desnorte nenhum, há trabalho e esse trabalho é metido em prática. Há uma equipa técnica e há os jogadores. Os jogadores fazem aquilo que a equipa técnica pede, ponto. Assumi a responsabilidade com ironia?? Mas não é ironia, não é ironia nenhuma. Perante o outro treinador, não percebi nada daquilo que se estava a passar, porque se percebesse as coisas tinham sido de outra forma. Naquele momento, naquele jogo específico, naquela situação que você falou da bola parada, de uma outra vez que não tivemos tão equilibrados, foi nessas situações… Mas é a minha forma de me expressar. Sei que se calhar não sou a melhor pessoa para falar bonito, correto, politicamente correto e tudo isso.»