«Com três bolas de Berlim fez-se banquete minhoto», a crónica do Union Berlim-SC Braga
João Moutinho foi o primeiro a abraçar Castro
Foto: IMAGO

«Com três bolas de Berlim fez-se banquete minhoto», a crónica do Union Berlim-SC Braga

NACIONAL03.10.202323:31

Reviravolta épica teve dois segredos: não entrar em pânico, primeiro, e muita personalidade, depois confronto de estilos de jogo opostos

Um fim de tarde para a história, não só do SC Braga, mas do futebol português. No palco mítico que é o Estádio Olímpico de Berlim, onde Jesse Owens humilhou Adolf Hitler, os arsenalistas deram um festival de personalidade e querer, não se desequilibraram emocionalmente quando se viram a perder por 0-2 aos 37 minutos, e acabaram por merecer a felicidade que encontraram no derradeiro minuto do tempo de compensação, numa altura, paradoxalmente, em que era o Union Berlim a criar mais perigo. Num grupo Champions de exigência máxima, os minhotos, com este triunfo, ficam, pelo menos, muito bem encaminhados para permanecerem nas competições europeias quando chegar a fase a eliminar. Em qual, logo se verá... 

Estilos de jogo opostos

Há um bom par de anos, antes da globalização (e da lei Bosman), era possível identificar o estilo de futebol praticado em cada país. Hoje, essa diferença diluiu-se, pelo que o jogo de ontem em Berlim, em que estiveram frente a frente dois estereótipos - a força alemã contra a técnica latina -, representou uma verdadeira raridade, traduzida em números: o SC Braga teve mais posse de bola (40/60), fez mais passes (297/585) e mostrou maior qualidade nos passes certos (73% para o Union Berlim e 86% para o SC Braga). Apesar dos sobressaltos defensivos por que passou, especialmente no lado esquerdo da sua defesa, verdadeira avenida, na primeira parte, para Becker, o SC Braga nunca abdicou da ideia de ter bola, e mesmo quando Artur Jorge, na reta final da partida, operou várias substituições, a raiz do 4x2x3x1 manteve-se constante. E foi a partir dessa estabilidade que os minhotos, que contaram com a segurança de Matheus (decisivo aos 70 minutos, a negar o golo a Volland), o posicionamento de Al Musrati, a liderança de Ricardo Horta e a inspiração de Bruma, foram capazes de dar a volta a um jogo que chegou a parecer perdido. 

Golos em momentos críticos

A remontada bracarense alicerçou-se em golos marcados na hora certa: o primeiro, a acabar a primeira parte, a sinalizar que a equipa estava viva; o segundo, um monumento esculpido por Bruma, fez abanar os donos da casa; e o terceiro, cínico e irrecuperável, foi o xeque-mate perfeito numa vitória para a eternidade.

 Curiosamente, da dança das substituições começou por resultar uma vantagem para os germânicos, que com o poder de Volland, o toque de bola de Laidouni e a velocidade de Aaronson encostaram a equipa de Artur Jorge às cordas e tiveram ocasiões claras para chegar ao 3-2 por Volland (70), Becker (75) e Aaronson (85). O técnico minhoto refrescou o meio-campo com Moutinho, primeiro, Vítor Carvalho, a seguir, e finalmente Castro, deu oxigénio à esquerda com Marín, e mais poder e lucidez ao ataque, tirando um desgastado Djaló para fazer entrar Abel Ruiz. 

Os bancos jogaram os trunfos que tinham, e embora os alemães crescessem em dinâmica, o SC Braga nunca perdeu o sentido daquilo que tinha de fazer, segurou a bola sempre que pôde, e acabou por ver Castro, com uma belíssima meia-distância ao minuto 90+4, bater o guarda-redes Ronnow e silenciar os mais de 70 mil adeptos do Union Berlim que lotaram o estádio Olímpico. O azar que os minhotos tiveram contra o Nápoles (autogolo e bola no poste na última jogada) não se repetiu na capital da Alemanha, onde a personalizada equipa de Artur Jorge soube procurar a melhor fórmula para ser feliz.