Linha da frente, análise às primeiras 4 jornadas da Liga
Pedro Sousa defende que o Sporting «tem o processo de treino e de jogo mais evoluído» (IMAGO)

Linha da frente, análise às primeiras 4 jornadas da Liga

OPINIÃO03.09.202408:15

Palavra de Gverreiro é o espaço de opinião quinzenal de Pedro Sousa, adepto do SC Braga e deputado à Assembleia da República

O arranque da Liga Portugal, com quatro jornadas disputadas, permite, desde já, antecipar o que poderá vir a ser o campeonato.

O Sporting, com um triângulo virtuoso de extraordinária qualidade — Rúben Amorim, Hugo Viana e Frederico Varandas — por esta ordem, parte claramente na frente. Arrisco-me, aliás, a dizer, que enquanto este trio se mantiver à frente dos destinos do clube, o Sporting tem tudo para marcar uma era no futebol português.

É evidente que o Sporting tem o processo de treino e de jogo mais evoluído e consolidado de entre todas as dezoito equipas, domina com mestria os diferentes momentos da partida e, jornada após jornada, acrescenta novas nuances e variantes tácticas, a que acrescenta, sempre, maturidade e consistência.

Tem um plantel sólido, com muitas soluções e, de entre os titulares indiscutíveis, perdeu apenas o capitão Coates que, rápida e habilmente, substituiu por um dos mais interessantes jovens centrais europeus, Zeno Debast, internacional belga, a que juntou mais dois jogadores com muito potencial, como são os casos de Maxi Araújo e Conrad Harder.

O FC Porto, a entrar numa nova fase da sua vida, após 42 anos de Pinto da Costa como presidente do clube, tem, hoje, em André Villas-Boas um Presidente fresco, moderno, arejado e muito bem preparado. Tal facto ficou já bem patente no excelente mercado de transferências que fez, apesar das gigantescas limitações financeiras que vive. No banco, a troca de Sérgio Conceição, o técnico mais titulado da história do clube, foi, ao contrário do que seria expectável, feita com relativa tranquilidade.

Tirando a derrota deste fim de semana em Alvalade, num jogo em que o Sporting foi melhor, o FC Porto mostra-se uma equipa bem trabalhada, coesa e com aquela alma, com aquela garra que mais nenhuma equipa portuguesa tem, como ficou bem patente na forma como conquistou a Supertaça, ao virar, de forma épica, um 3-0 ante o Sporting Clube de Portugal.

Obrigado a vender, perdeu Evanilson, David Carmo e emprestou Francisco Conceição (um erro grave, na minha opinião). Pese as limitações, o FC Porto reforçou-se com critério, quase de forma cirúrgica, diria, e as entradas de Samu Omorodion, um excelente avançado espanhol, de Nehuén Perez, um central argentino de grande qualidade, de Francisco Moura e Tiago Djaló, dois jovens portugueses com muito talento, e mantendo a base da época passada, mostrará um FC Porto vivo, forte e a lutar, em Portugal, por todos os títulos.

O Benfica, por sua vez, vive enredado em erros, equívocos e confusões. Vendeu João Neves, o coração da equipa, vendeu Neres, um dos mais talentosos e desequilibradores jogadores do campeonato, vendeu João Mário, um médio muito inteligente e completo e, ainda, Marcos Leonardo, um avançado de fino recorte com muito potencial. As entradas, até agora, deixam muito a desejar e, a somar a um péssimo mercado de transferências, resolveu manter um treinador esgotado, em clara ruptura com a massa adepta, não antecipando que ao primeiro percalço o copo iria transbordar. O Benfica joga pouco, joga mal, não tem rasgo, não tem ideias, não tem processo. Hoje, não tem, também, treinador e precisa urgentemente de acertar o rumo ou pode ficar fora de jogo numa fase muito inicial da época.

Já o SC Braga tem um plantel muito interessante, tem um extraordinário treinador e vai, uma vez mais, introduzir-se na luta entre os três grandes. Mateus continua a ser o melhor guarda-redes do campeonato, Ricardo Horta é craque e Zalazar, um dos melhores jogadores do campeonato, é o motor de uma equipa que tem tudo para fazer um percurso forte tanto em Portugal como na Europa.

Também no Minho, o Vitória, sob a liderança de uns dos melhores treinadores portugueses da nova geração, Rui Borges, vai dando cartas. Tem um plantel equilibrado, que, destacando Tomás Handel, um médio de muita qualidade, vale sobretudo pelo coletivo, pelo processo de jogo que revela, tanto com bola, como sem bola. Vai, seguramente, tentar imiscuir-se na luta pelo quarto lugar.

A fechar, é impossível não destacar o facto de, este ano, Portugal ter, novamente, todos os seus cinco representantes nas fases regulares das competições europeias — Liga dos Campeões, Liga Europa e Liga Conferência. Uma conquista não só numérica, mas também de prestígio, que pode ajudar a reforçar a posição de Portugal no futebol europeu.