Chaves-Benfica: O avião bimotor, a chave de fendas e uma goleada em dois dias
Os jogadores do Benfica à saída do avião, em Vila Real, em dezembro de 1998 (ASF)

Chaves-Benfica: O avião bimotor, a chave de fendas e uma goleada em dois dias

NACIONAL04.11.202308:00

A história do resultado mais desnivelado, interrompido pelo nevoeiro

Atualmente as viagens de avião entre Lisboa e Porto são comuns nas equipas grandes, mas não o eram no final da década de 90 do século passado. E muito menos uma viagem entre Lisboa e Vila Real num aparelho de apenas 19 lugares. Mas foi isso que sucedeu na deslocação rumo a Trás-os-Montes e para aquele que ainda continua a ser o jogo mais desnivelado entre as duas equipas em 17 partidas realizadas em Chaves.

O Benfica goleou por 4-0, mas na realidade precisou de dois dias para escrever a maior goleada naquele estádio. Um nevoeiro cerrado obrigou o árbitro José Leirós a interromper o encontro aos 15 minutos, após conversas com delegados, treinadores e jogadores das duas equipas, tal como se pode atestar nas fotografias em que o juiz da Associação de Futebol do Porto dialoga com o técnico escocês dos encarnados, Graeme Souness, ou com o guarda-redes belga Michel Preud’Homme.

Significa isto que Nuno Gomes assinou o hat trick mais longo da carreira. Porque fez o primeiro golo (9’) no dia 13 de dezembro de 1998 e os outros dois (27’ e 68’) no dia 14 – flavienses e águias chegaram a acordo para que os 75 minutos restantes se jogassem no dia seguinte. O marroquino Tahar fez o terceiro do jogo, aos 48’.

Terminava assim uma jornada marcada por um certo exotismo em quase tudo o que envolvia decisões tomadas pelo presidente à data do Benfica, João Vale e Azevedo. Ficaram para recordação futura as imagens pouco habituais dos jogadores à saída de um avião de pequenas dimensões, incluindo a de Hugo Leal no cockpit do bimotor que atingia uma velocidade cruzeiro de 315 km/h e onde só couberam os 16 convocados e mais três elementos.

Mas para a história ficou também a passagem pelo antigo líder das águias por Guimarães, a caminho de Trás-os-Montes, quando se esqueceu dos chaves dentro do automóvel onde tinha brindes para dar aos adeptos e tentou abrir a bagageira com uma chave de fendas, ali, à frente de todos. 

Foram, efetivamente, muitas Chaves. Outros tempos.