Camisola do Benfica conseguiu «um milagre» na tragédia de Valência
Relato de Toni Gutiérrez a A BOLA, sobre como foi ajudado por um adepto das águias
Passou cerca de uma semana desde que a tempestade Dana assolou a região de Valência e todos os duas continuam a chegar relatos de solidariedade e sobrevivência. O mais recente traz vestida uma camisola do Benfica e é contada na primeira pessoa a A BOLA por Toni Gutiérrez, conhecido adepto espanhol das águias.
Toni fala ao nosso jornal numa curta pausa dos trabalhos de limpeza que, uma semana depois da tempestade, ainda prosseguem, uma vez que grande parte da região continua coberta de lama.
«A casa dos meus pais é em Paiporta, a zona que foi mais afetada. A minha mãe estava sozinha quando tudo aconteceu, a água inundou a garagem e chegou a meio do primeiro piso da casa. Ela ainda conseguiu resgatar quatro pessoas que estavam a ser levadas pela corrente e que dormiram lá em casa nessa noite», introduz.
Toni Gutiérrez é polícia e nesse dia não teve mãos a medir com tanto que houve para fazer. E no meio do desespero geral, teve de lidar também com a aflição familiar.
«Eu estava a trabalhar, não consegui ir ajudar e a minha mãe ficou sem bateria e incontactável durante um dia. Foi muito duro para todos, mas principalmente para ela, que continua destroçada com aquilo que viveu», confidencia, num desabafo. «Isto é uma tragédia incalculável. É brutal. A casa dos meus pais é do outro lado do rio e como toda esta zona foi muito afetada», lamenta, falando sobre o bairro no qual se registaram já mais de 60 mortes provocadas pelas inundações.
«O mais incrível que o Benfica já me deu»
Foi no meio de todo esse caos de lama e desespero que surgiu uma luz de esperança encarnada na vida de Toni. Ele que, refira-se, se apaixonou pelo Benfica por causa de Aimar, quando o argentino trocou o Valência pelas águias, e desde então é presença assídua no Estádio da Luz e noutros nos quais vibrem papoilas saltitantes.
O episódio aconteceu na manhã de segunda-feira, numa altura em que a zona da casa dos pais de Toni continuava inundada de lama «humanamente impossível de retirar» e «sem receber ajuda de maquinaria pesada», devido às centenas de requisições.
«Como a rua estava, já não conseguíamos fazer nada. E eu ia a caminhar na rua com uma sweat do Benfica, passou um senhor num trator e perguntou-me onde é que eu morava. Eu disse-lhe onde era a minha casa e ele respondeu-me: ‘vou ajudar-te porque levas uma camisola do melhor clube do mundo’», relata, lamentando apenas não ter conseguido saber nada sobre aquele que diz ter sido «um anjo caído do céu».
«Não sei quem era o senhor e não percebi logo que era português, porque falava num espanhol perfeito. Nem sei o nome dele! Estava com os serviços de emergência, foi ajudar-nos e depois foi embora ajudar a outros. Veio, tirou toda a lama da rua e seguiu», reforça.
E tudo graças a uma camisola do Benfica. Que depois passou a estar ainda mais presente nas limpezas da rua.
«A minha mãe ficou a chorar de tão emocionada por aquele milagre. Até vestiu a camisola dela do Benfica, com o nome Sílvia escrito nas costas», recorda, sorridente.
E apesar de admitir que «Benfica já deu muito» na vida dele, este «milagre» indireto concedido pelo clube português tem um peso distinto.
«Nunca antes vivi uma situação como esta. Foi algo diferente de tudo aquilo que o clube me costuma dar. Sem dúvida que foi a melhor coisa que o Benfica já me deu. Porque era mesmo uma situação de desespero. E aquele gesto deu-me luz», partilha.
O agradecimento enviado através de A BOLA
E por falar em Luz, antes de desligar para voltar ao trabalho, Toni Gutiérrez deixa uma palavra dirigida a todos os amigos benfiquistas que fez nas várias visitas ao estádio das águias e que lhe têm enchido a caixa de mensagens.
«Posso só pedir uma coisa? Eu não consigo responder a todos os meus amigos do Benfica porque em Paiporta nem sempre há rede. Mas quero enviar um abraço e agradecer a todos os que têm enviado mensagens de força nestes dias. Tem sido muito importante para mim sentir esse apoio», atira nas despedidas.