ENTREVISTA A BOLA Cadete a ensinar Balakov a pedir talheres com palavrões
Krassimir Balakov visitou Lisboa a convite de A BOLA e recordou os tempos de Sporting numa longa entrevista
Krassimir Balakov, um dos melhores estrangeiros que passaram por Portugal, esteve em Portugal durante três dias a convite de A BOLA. Visitou as novas instalações do nosso jornal, passou pelo Jamor onde conquistou um troféu com o Sporting e, claro, esteve no José Alvalade, recebido por Frederico Varandas. Prometeu voltar para ver o Sporting campeão, mas, entretanto, deu uma longa entrevista, que agora pode ler em A BOLA.
- Bala, como foram os tempos no Etar Tarnovo?
- Era uma equipa da província, mas muito forte na altura. Ficávamos em terceiros ou quartos e, por vezes lutávamos pelo título. E quando sai para o Sporting, fomos campeões.
- Tem a ideia de onde estava e com quem estava quando lhe falaram pela primeira no Sporting.
- O Sporting não era desconhecido para mim. Em 1982 ou 1983, com 16 ou 17 anos, estive em Portugal a treinar com o Etar e jogámos dois jogos com o Sporting. No Sporting jogava o Bukovac, que mais tarde seria meu manager. Ele jogava nessa equipa como defesa direito e eu jogava como defesa esquerdo. Ou sejam cruzamo-nos várias vezes. Foi engraçado, porque oito anos depois, o Sporting contratou-me.
- Quando o empresário Lucídio Ribeiro lhe falou no Sporting, aceitou logo ou teve de pensar ainda um pouco?
- Não poderia dizer logo que sim, porque quem mandava era o clube, o Etar. Foi no primeiro ano da perestroika na Bulgária. Ganhava muito pouco e não era eu a escolher. Era tudo clube-clube, Etar-Sporting. Mas saí satisfeito, porque joguei seis meses no Sporting e o presidente Sousa Cintra fez-me logo outro contrato
- O primeiro contrato já era muito melhor do que você ganhava no Etar?
- Muito melhor. Assinei por três anos e, na altura, pensei que poderia assinar por mais cinco anos, mas ainda bem que não assinei.
- Saiu de uma cidade relativamente pequena para Lisboa. Teve medo do desconhecido?
- Nunca tive medo, a não ser uma vez…
- Então?
- Estava em Lisboa há três dias e só chovia. Mas não era chuva pequena, era chuva mesmo grande. Então estava no autocarro com a equipa a caminho do Norte e sempre a chover. Olhava pela janela e pensei: mas isto vai ser sempre assim? E aí senti um pouco de...
-… nostalgia da Bulgária?
- Não. Pensei que tudo não seria tão fácil como eu pensava.
- Como falava com os outros jogadores? Em inglês?
- [risos] Eu não falava inglês, apenas um inglês da escola, mas era pouco para me fazer entender. Por isso tive de aprender muito rápido a falar português.
- E foi fácil?
- Sim, rápido e fácil. Agora não falo português perfeito, na altura falava ainda melhor do que agora.
- Quem eram os seus melhores amigos dentro do Sporting?
- Toda a malta. Foi uma vida espetacular dentro do balneário. Nós brincávamos e aquela malta brincava muito com os jogadores novos. Lembro-me de que num jantar, na primeira vez que fui com eles para um jogo fora de Alvalade, alguém escondeu-me os… como se diz [faz um gesto de quem vai comer]…
- Os talheres?
- Isso. Alguém escondeu os meus talheres. Julgo que foi o Cadete ou o Oceano, mas deve ter sido o Cadete. E ele disse-me: «Pede ao empregado para trazer outros talheres». O empregado, porém, era uma empregada. Muito bonita e bem feita. E eu pedi ao Cadete: «Como digo?» Ele disse-me: «Diz que precisas de outros…» [risos] Não posso dizer a palavra… Eu chamei a senhora e disse: «Pode trazer-me uns…» Ela fez uma cara estranha e eu repeti: «Pode trazer-me uns…». Aí, ela foi embora e só então eu percebi que era brincadeira, pois começaram todos a rir.