João Neves: «Foi o melhor para mim e para o clube»

NACIONAL05.08.202415:47

Médio deu entrevista aos meios do Benfica antes de se mudar para Paris. Comentou a transferência, o papel de Roger Schmidt na sua carreira, a subida à equipa A, os golos nos dérbis e muito mais

João Neves, que foi esta segunda-feira oficialmente apresentado como reforço no PSG, deu uma entrevista aos meios do Benfica antes de viajar até Paris. O médio de 19 anos abriu o coração aos adeptos, e garante que foi «uma decisão muito difícil».

«Se eu quisesse mesmo ir embora, e se o Benfica quisesse mesmo que eu fosse embora, já tínhamos resolvido isto há muito tempo. Tentámos até ao máximo e chegámos a um consenso. Achámos o melhor das duas partes, em termos financeiros é bom para o clube e é bom para mim», sublinhou o internacional português.

João Neves admite alguma «insegurança» por sair da «zona de conforto», deixando a garantia de que vai continuar a acompanhar o Benfica: «Claro que assusta, saio da minha zona de conforto. Tenho presente na minha cabeça que sou muito acarinhado aqui, desde o primeiro dia, em que me estreei na equipa A, e mesmo no primeiro treino, pelos meus colegas e pelo staff, por toda a gente. Vou sair para um país diferente, para uma realidade diferente, língua diferente, ainda não estou muito seguro do que é que eu posso fazer lá, mas vou dar o meu máximo. Essa é a minha natureza, dar o meu máximo onde quer que eu esteja, porque sei que, se der o meu máximo, estarei sempre mais próximo de alcançar os meus objetivos. Tal como fiz aqui desde o início, lá vou fazer também desde o começo.»

 Eu tenho uma dívida muito grande, porque foi ele que me pôs nesta situação. Nunca me esquecerei do mister Roger Schmidt.

Muita especulação tem ocorrido nos últimos dias sobre os contornos da transferência, mas o médio de 19 anos garantiu que nem o próprio forçou a saída nem o Benfica quis que saísse: «Nunca, nem eu, nem a minha família ligou a quem quer que seja para forçar a minha saída, ou qualquer outro tipo de assunto relacionado com o João Neves querer sair. Nem o Benfica quis que eu saísse. Está muito bem vincado e muito bem presente na minha cabeça. Falei algumas vezes com o presidente, tínhamos sempre a mesma opinião. Não foi fácil para o presidente. Nas reuniões que eu tive com ele, o presidente estava muito emotivo, porque se tratava de mim. Quando acordámos o momento para eu sair, o presidente meio que mostrou uma lagrimazinha, e eu também, chorámos um bocado os dois. Mas é como já disse, foi bom para o clube. Não há nada acima do clube, nem eu estou acima do clube.»

O agora número 87 do PSG confessa que vai ter «muitas saudades dos amigos de infância», uma vez a amizada, para o próprio, «é uma coisa muito forte» que leva «para a vida». E não esqueceu o papel do clube encarnado na construção das relações de amizade, destacando muitos dos colegas com quem partilhou balneário na formação: «Foram amigos que o Benfica me deu, como, por exemplo, o António, que, é do conhecimento público, é um dos meus melhores amigos. O próprio André, o Gouveia, a malta da formação, o Araújo, o Samuel, e mesmo aqueles que não são da formação. Eu tive uma empatia muito grande, disso eu sei que vou ter mesmo saudade. E a outra, não menos importante por eu dizer em segundo, é vestir a camisola do Benfica, entrar no Estádio da Luz, festejar um golo do Benfica. Vou continuar a festejá-los, não da mesma maneira, mas vou continuar a festejá-los. Agora fora de campo, mas disso eu vou ter muitas saudades.»

João Neves, médio do Benfica (Foto: IMAGO/ZUMA Press Wire)

O papel de Roger Schmidt

O papel e influência de Roger Schmidt na carreira do médio também não passaram em branco. «Em primeiro, quando falo do Roger Schmidt, eu só tenho de lhe agradecer. Foi ele que me deu a oportunidade, foi ele que acreditou em mim, se calhar quando eu também não acreditava que estava preparado para fazer o meu primeiro jogo a titular contra o Estoril. Eu tenho uma dívida muito grande, porque foi ele que me pôs nesta situação. Nunca me esquecerei do mister Roger Schmidt», começou por dizer João Neves.

O médio fez questão de ir além da parte profissional e destacar «a pessoa fantástica», além de treinador: «Não sendo só a parte desportiva que eu avalio, porque eu passo os dias com ele, também avalio a parte pessoal. O mister, além de um treinador, é uma pessoa fantástica, um ser humano fantástico, que não se relaciona com o jogador só por ser jogador de futebol, mas também por ser humano. Gostei muito de trabalhar com o mister. Acho que tem ideias boas, que nos levaram ao campeonato número 38. Apesar de não termos conquistado o 39, seguimos as ideias do mister, talvez piores [nós] do que no ano anterior. Mas as ideias eram as certas, e nós sabemos disso. Para mim, a parte humana é mais importante, e ao mister Roger Schmidt foi um gosto conhecê-lo.»

Ainda levou um bocado até me equipar no balneário da equipa A, mas todos os dias... não era uma aflição, mas era aqui um nervosismo interior. Mesmo ainda no final, em todos os jogos do Benfica, eu ainda sinto um bocado de nervosismo. Não é pelo jogo em si. Com todo o respeito, não é por ser contra o Arouca, ou contra o FC Porto, ou contra o Sporting, seja com quem for. É aquele nervosismo por estar a jogar pelo Benfica e não querer que corra mal, porque eu realmente preocupo-me.

Quanto ao que aprendeu com o treinador alemão, destaca os conselhos para procurar «menos o jogo curto» e «tentar ver linhas mais à frente»: «Tentou fazer com que eu jogasse menos no jogo curto, porque eu gosto de jogar o jogo curto, um jogo muito infantil, e ele alertou-me disso. Tentar ver mais à frente, linhas mais à frente. Não só ele, mas também a equipa técnica, sempre trabalhou comigo dentro do campo, dentro do treino, para melhorar aspetos que – não é que fossem maus – eram menos fortes.»

Estreia pela equipa A

Estreou-se pela formação principal do Benfica a 11 de dezembro de 2022, contra o SC Braga, para a 14.ª jornada da Liga 2022/2023. Foi lançado aos 77' e admite que ficou surpreendido: «Claro que não estava à espera. Acho que ninguém estava à espera. É verdade, há males que vêm por bem. O Mundial a meio de uma época não é costume. O mister, lembro-me que falou comigo, gostou de mim e continuou a perguntar ao míster Luís Castro, na altura da equipa B, se eu podia continuar a ir lá treinar. Fui ficando, fui ficando... Desde o primeiro jogo em que fui convocado até ao último, nunca saí da convocatória. Claro que eu não estava à espera, foi uma progressão muito, muito acentuada, mas também fruto daquilo que eu fiz, e de que eu me orgulho, de que a minha família se orgulha e de que a família benfiquista se orgulha.»

André Almeida acalmou-me. Lembro-me, disse-me para eu só jogar, fazer o meu jogo, e que ele também tinha acompanhado a formação, e que sabia o jogador que eu sou. Tentou-me tranquilizar para ficar mais calmo e fazer o treino como deve ser.

João Neves revala que «nunca tinha ido [à equipa A] quando era mais jovem mesmo se faltavam jogadores» e que sentiu «um bocado de ansiedade» pelo que estava à sua espera no campo.

No entanto, destacou o papel de André Almeida para o fazer sentir bem-vindo: «Olhava já para os jogadores da equipa A com olhos diferentes. Jogadores que tinham estatuto no clube, tal como o André Almeida. Sentia-me ansioso. Não que duvidasse das minhas capacidades, mas porque era com esse tipo de jogadores que eu treinava. É o não ficar mal, é o tentar manter o nível do treino, e isso tudo faz com que fique ansioso... e que não fique tranquilo com o jogo. Mas, no fundo, o André, em específico, acalmou-me. Lembro-me, disse-me para eu só jogar, fazer o meu jogo, e que ele também tinha acompanhado a formação, e que sabia o jogador que eu sou. Tentou-me tranquilizar para ficar mais calmo e fazer o treino como deve ser.»

Sobre as emoções da subida ao plantel A, o médio teve palavras fortes e elogiosas para o Benfica: «Ainda levou um bocado até me equipar no balneário da equipa A, mas todos os dias... não era uma aflição, mas era aqui um nervosismo interior. Mesmo ainda no final, em todos os jogos do Benfica, eu ainda sinto um bocado de nervosismo. Não é pelo jogo em si. Com todo o respeito, não é por ser contra o Arouca, ou contra o FC Porto, ou contra o Sporting, seja com quem for. É aquele nervosismo por estar a jogar pelo Benfica e não querer que corra mal, porque eu realmente preocupo-me. E acho que todos os jogadores de futebol sabem qual é esse nervosismo de que eu estou a falar, e mesmo agora eu tenho esse nervosismo.»

João Neves também não esquece o momento em que teve a confirmação de que ficaria a treinar com o plantel principal: «Depois, passados uns meses, lembro-me que – acho que foi o Javi [García] – me chamaram ao gabinete. Eu estava um bocado assustado, porque não gosto muito de falar com os treinadores e tudo mais, porque penso sempre que é algo mau, mas, quando entrei no gabinete, ele olhou para mim, sorriu e disse-me que a partir daquele dia fazia parte do plantel, integrava o plantel da equipa A. Lembro-me de me levantar, abraçá-lo, cumprimentá-lo e ir todo contente ao balneário dizer ao António que eu ia ficar no plantel.»

Golos nos dérbis

Não marcou muitos golos, mas marcou alguns ao rival lisboeta. Explicou o golo ao 90'+4 contra o Sporting, em 2022/2023, que deu o empate às águias: «Primeiro eu chutei e caí, depois comecei a festejar, e só depois é que me apercebi que os adeptos do Benfica estavam do outro lado, então fui a correr para lá, mas o António tratou disso, festejou por mim, por isso está tudo tranquilo. Mas é algo que eu posso tentar explicar, mas nunca vai sair da forma como eu sinto na realidade. Ainda hoje, posso ver o golo mais de 10 vezes e arrepio-me da mesma maneira.»

Também explicou o golo contra os leões na época 2023/2024, também este a dar o empate ao Benfica para lá dos 90 minutos num jogo que as águias acabariam por vencer: «Esse foi mais emocionante. Continua a ser um golo de empate, mas foi mais emocionante também porque foi o meu primeiro golo na Luz. E foi novamente aos 90 mais uns minutinhos. Esse golo foi... é o mais especial da minha precoce carreira, porque foi o primeiro golo que eu fiz na Luz. Foi o golo do empate, e a cereja no topo do bolo foi o golo do Casper [Tengstedt] aos 90'+7'.»

De resto, o jovem médio considerou que esse foi mesmo o melhor jogo de que tem memória no Benfica, mas elege outro momento como o melhor de águia ao peito: «Em termos emocionais e dentro de campo, jogo jogado, sim... mas levantar o troféu do 38 deu-me muito mais prazer.»