Um pouco de Benfica que se vai

Um pouco de Benfica que se vai

OPINIÃO03.08.202410:00

Sentimentos que João Neves e Rui Costa conhecerão quando manda mais o negócio

Considero um pouco irrealista a opinião de que €70 milhões pelo passe de João Neves é um mau negócio para o Benfica, apesar de €10 milhões corresponderem a variáveis por objetivos. Entendo que é um valor muito importante para qualquer clube português, sobretudo porque também estamos a falar de um jogador que tem apenas 19 anos, com uma qualidade e potencial incríveis, é verdade, mas que não sabemos como irá evoluir.

Habituámo-nos a que os jogadores portugueses valham sempre fortunas

Habituámo-nos a que os jogadores portugueses valham sempre fortunas e passámos a olhar para as cláusulas de rescisão dos contratos quase como obrigação de negócio e não como meras referências, na maior parte dos casos completamente ilusórias. No caso de João Neves a cláusula é de €120 milhões; mas não, €70 milhões não é coisa pouca, é um negócio interessante e principalmente se tivermos também em conta que o médio foi formado no Seixal e por isso o retorno financeiro para o Benfica será direto.

Por outro lado, desportivamente, com a saída de João Neves, o Benfica perde uma oportunidade de consolidar personalidade para os próximos anos. Ele mais do que qualquer outro neste plantel tem reunido, no futebol e na atitude, a mística do clube que os benfiquistas tanto querem resgatar. Poderia ter sido tomada a decisão de não o vender e assentar nele a priorização do projeto desportivo sempre anunciada por Rui Costa, presidente dos encarnados. Mesmo que na próxima época, ou na seguinte, os valores continuassem a não se aproximar da tal cláusula e €120 milhões, não é difícil e muito menos desagradável imaginar João Neves como pilar das futuras equipas do Benfica e provavelmente com a braçadeira de capitão no braço. Os adeptos imaginavam certamente e por isso lhes custa tanto a transferência, não pelos valores, mas porque é mais um pouco de Benfica que se vai e a constatação de que há cada vez menos espaço para o romantismo no futebol profissional.

Não é difícil imaginar João Neves com a braçadeira de capitão

A saída de João Neves não alinha com a ideia de projeto desportivo, mas encaixa na certeza de ele não pode ser defendido a qualquer custo e que a sustentabilidade da SAD tem de ser assegurada, como também já esclareceu Rui Costa. Ou seja, independentemente da pressão que também terá existido do empresário para o negócio, porque ganha dinheiro com ele, o Benfica sentiu necessidade de vender João Neves. Porque de outra forma não venderia.

O jogador, de acordo com todas as informações recolhidas, não forçou o negócio mas disse sim ao PSG; porém, nem esse seria o clube e campeonato de eleição para continuar a carreira, nem deixar o Benfica, com 19 anos e apenas época e meia de equipa principal, seria um objetivo imediato. O mercado do futebol ditou a lei.

Salvaguardadas as diferenças dos casos e dos tempos, Rui Costa conhece bem os sentimentos num momento destes. Quando era jogador, número 10 e um dos mais entusiasmantes jogadores do Benfica, foi vendido aos italianos da Fiorentina, no verão de 1994. Uma transferência sobretudo para ajudar financeiramente o Benfica e que ele aceitou, mas, na altura, não adorou.

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