Bem-vindos à cidade de D10s
Diego Maradona no dia da apresentação pelo Nápoles (Foto: DR)

Bem-vindos à cidade de D10s

INTERNACIONAL12.12.202309:45

Uma viagem pela vida de Diego Armando Maradona na ‘sua’ Nápoles; ruas que recordam a genialidade de ‘el pibe’, memórias de um jogador que revolucionou um clube; atmosfera única para o SC Braga absorver num jogo especial

NÁPOLES — Metrópole vibrante e cheia de vida, vigiada pelo majestoso Monte Vesúvio e famosa por ser o berço da pizza napolitana, uma das iguarias mais famosas da Itália, Nápoles é também (e sê-lo-á sempre, a par de Buenos Aires) a cidade de Diego Maradona. A cidade de D10s, ou, se quisermos, a cidade onde Maradona tocou no céu e desceu ao mais profundo dos infernos. O estádio do Nápoles, que tem agora o seu nome, é um dos muitos tributos à genialidade de um futebolista tão amado neste pedaço do sul de Itália como o é na Argentina — também a estação de metro para chegar ao recinto tem o nome de Diego Armando Maradona.

Muito antes de Maradona falecer — abandonou o mundo dos vivos a 25 de novembro de 2020, mas, como se sabe, as lendas nunca morrem — Nápoles viveu el pibe com uma paixão avassaladora e um singular orgulho. Em 1984, ninguém imaginava que Maradona escolhesse o Nápoles para a sua aventura em Itália, depois de passar dois anos no Barcelona, em Espanha. Numa transferência tormentosa e polémica, os napolitanos pagaram quantia exorbitante para a época — 7,5 milhões de euros — mas estavam longe de ser uma das equipas poderosas de Itália ou sério candidato ao título. Na sua apresentação oficial estiveram nas bancadas do San Paolo mais de 70 mil pessoas, algo nunca visto!

No Bairro Espanhol, murais eternizam a lenda (Foto: IMAGO)

O facto é que a história de Maradona no Nápoles foi repleta de sucesso e momentos memoráveis. Estrangeiro entre uma maioria esmagadora de italianos — nas épocas seguintes teria a companhia de Careca e Alemão, dois grandes craques brasileiros —, Dieguito liderou a revolução que culminaria com a conquista de dois títulos da Serie A italiana (1986/87 e 1989/90) e uma Taça UEFA (1988/89), além de uma Taça de Itália e uma Supertaça. Marcou 115 golos em 259 partidas. Um legado incrível que pode ser revisitado num tour organizado em Nápoles onde se mergulha a fundo na idolatria à volta de Maradona, apesar de algumas falhas de personalidade e da sua conhecida paixão pela vida noturna da cidade — saídas toleradas pelos dirigentes da altura, porque (e isso era absolutamente verdade) Maradona tinha manifesta dificuldade em passear pela metrópole em plena luz do dia. 

A noite dava-lhe alguma proteção, mas representaria também um itinerário de excessos, más companhias, drogas (um remake do que aconteceu em Barcelona) e uma ligação nunca bem explicada à Camorra. Em fevereiro de 1991, Diego Maradona foi acusado de posse de droga e um mês depois acusou positivo num teste antidoping. Em 1992 abandonou Itália para rumar a Sevilha. 

'El Pibe» autografou a camisola do SC Braga num jantar com António Salvador em 2013 (Foto: SC Braga)

‘MaGiCa’: o trio maravilha

No Quartieri Spagnoli de Nápoles, o bairro espanhol, podem ser admirados os murais dedicados a Maradona, ponto turístico e de peregrinação de adeptos de todo o mundo e que nos traz à memória a história única e cativante do argentino no clube. No imaginário dos napolitanos também vive a tripla de ataque formada por Maradona, Giordano e Careca, que ficou conhecida como MaGiCa (a junção das duas primeiras letras dos respetivos nomes). O menos conhecido, Giordano, também teve a sua dose de infortúnio até explodir no Nápoles: foi suspenso dois anos quando era protagonista na Lazio por causa do envolvimento num esquema de manipulação de resultados.

Alemão, Maradona e Careca, um trio atacante notável (Foto: DR)

Por estas bandas, Maradona está acima de qualquer dos pecados que fizeram parte da sua agitada existência. Ainda em vida, era D10s. Hoje é imortal. O presidente do SC Braga, António Salvador, teve o privilégio de conviver com el pibe em março de 2013, num jantar em Paredes patrocinado pelo empresário Jorge Mendes. Entre os comensais estava também Luís Montenegro, atual presidente do PSD. Maradona autografou uma camisola dos arsenalistas. Uma relíquia. 

O Vesúvio domina a paisagem de Nápoles. Maradona domina o coração dos napolitanos. O SC Braga vai reter muito desse sentimento quando entrar esta noite no estádio que outrora se chamou San Paolo, mas que desde dezembro de 2020 tem o nome daquele que muitos consideram o mais genial futebolista da história — sim, sim, é tema para discussão, bem o sabemos…