PROVAS DA UEFA As contas a fazer em 2024/27 e o fim do mito dos 100 milhões
O aumento em 900 milhões dos prémios a distribuir vai beneficiar os mais ricos. Clubes portugueses dependerão mais da ‘performance’. ‘Vallue Pillar’ é presente envenenado
A Liga de Clubes cenarizou o que vão ser as receitas dos clubes portugueses nas competições europeias do ciclo 2024/27, e concluiu que, «mediante os cenários hipotéticos (…) saem beneficiadas com a alteração de sistema de distribuição de receitas da UEFA». Porém, como o ponto de partida (que se aceita, com a ressalva de não ser mimetizável) são os resultados desta temporada, e sabendo-se que na próxima época perderemos de certeza um representante na Champions (ou dois, face a este ano, caso o segundo classificado da presente I Liga não ultrapasse a fase prévia, onde caiu), o horizonte torna-se mais sombrio ainda.
Mas há mais, quanto às três competições, tal como A BOLA tinha avançado no início de fevereiro: os prémios de vitória e empate vão ser mais baixos (ver tabelas), subindo o número de jogos, na Champions e na Liga Europa, e sendo aumentados os prémios por passar à fase seguinte. Quer isto dizer que a performance desportiva, que constará, na fase de grupos, de quatro jogos em casa e quatro fora, assumirá uma importância muito maior, tanto mais que a classificação não será feita por grupo (são quatro grupos de nove equipas), mas no geral das 36 equipas.
Assim, em tese, uma equipa que tenha feito, no seu grupo, 16 pontos e tenha acabado em segundo, ficará atrás de uma equipa que tenha conseguido 17 pontos, e tenha terminado em terceiro. A este escalonamento de primeiro a trigésimo sexto corresponderá uma maior exigência competitiva, com a agravante dos 12 últimos classificados darem por terminada, de imediato, a sua participação europeia.
Em plano descendente no ranking europeu de clubes, Portugal deixou de ter o conforto do critério anterior adotado pela UEFA e passa a depender do Vallue Pillar, onde releva o Pool Market, onde somos quase residuais, e o ranking dos últimos cinco anos, onde temos descido.
Para que a situação portuguesa não se agrave mais no triénio 2024/27, que como vimos terá uma distribuição de dinheiro pensada para satisfazer os maiores clubes, e de alguma forma afastá-los do canto de sereia da Superliga Europeia, são necessárias prestações consistentes na Liga Europa, o que depende sempre de quem nos representa, e essencialmente da Liga Conferência onde, em três anos nunca conseguimos meter um representante na fase de grupos.
Este, sim, é o problema de fundo, que não se resolve tapando o sol com a peneira. A classe média do nosso futebol não tem revelado a mínima consistência competitiva (V. Guimarães eliminado esta época pelos eslovenos do NK Celje, e o Arouca pelos noruegueses do Brann) e, por muito que se deseje o contrário, há dúvidas fundadas de que com o atual quadro competitivo do futebol profissional português, o nível tenha alguma hipótese de subir.
Durante muito tempo, perante o aumento de 900 milhões de euros nos prémios, foi criado o mito de que quem fosse à Liga dos Campeões, a partir de 2024/25, ganharia 100 milhões de euros. Afinal, o que aumenta, realmente, para os clubes portugueses, são os riscos de virem a receber menos do que atualmente recebem, com um horizonte otimista a dizer que, se tiverem um bom desempenho podem, quanto muito, ganhar um bocadinho mais.
Com estas novas verbas, quem ganha sempre (nesta circunstância pode dizer-se que sai à casa), é a UEFA, que não só retira argumentos à Superliga, como tem a certeza de ver os seus proventos com as competições que organiza, aumentados de 190 para 213 milhões.