Agnelli e a Superliga: «O sistema atual não oferece futuro para Ajax, Anderlecht ou Benfica»

Internacional Agnelli e a Superliga: «O sistema atual não oferece futuro para Ajax, Anderlecht ou Benfica»

INTERNACIONAL25.02.202312:03

Andrea Agnelli, ex-presidente da Juventus, volta a falar sobre o projeto da Superliga, em mais uma investida contra a UEFA. Em entrevista ao jornal neerlandês De Telegraaf, volta a insurgir-se contra o monopólio do organismo liderado por Alexander Ceferin.

«A posição de monopólio e o poder da UEFA devem ser quebrados para dar aos clubes um futuro financeiramente estável. Um futuro em que um clube não entre em crise se não se qualificar para as competições europeias. É um problema para todos os clubes», diz, dando exemplos:

«O Ajax sagrou-se campeão em 2019, conquistou a Taça e chegou às meias-finais da Liga dos Campeões; dois meses depois, o clube poderia ter sido eliminado nas pré-eliminatórias da nova Liga dos Campeões. Com tanta incerteza, não dá para ter uma política sólida e estrutural. Por isso, sou a favor de um sistema de ligas no futebol europeu, com oportunidades financeiras e desportivas para cada clube.»

Agnelli entra em mais pormenor na Superliga, que estava pronta antes de ter sido anunciada em 2021, mas é questionado sobre ter estado à frente da ECA [Associação Europeia de Clubes] durante anos, e mesmo na UEFA, sem ter tentado implementar as medidas que agora defende.

«Em 2019, os principais clubes de todas as ligas da ECA concordaram com um novo formato. Eu e o Ceferin estávamos preparados para avançar. Os clubes médios das grandes ligas, os dirigentes das grandes ligas e algumas federações viram o novo formato como uma ameaça. Por esta razão, Ceferin recuou. Os clubes eram a favor de um sistema de futebol europeu renovado e melhorado. Por que não lutei por mudanças na UEFA a partir de dentro? Internamente foi uma guerra que não consegui vencer. Mesmo sabendo que o sistema atual não oferece futuro para Ajax, Anderlecht, Celtic, Benfica, Panathinaikos e Estrela Vermelha de Belgrado e muitos outros. Não devemos ficar parados, mas sim seguir outros caminhos para chegar onde se quer com o futebol europeu.»

Depois de o projeto ter sido retirado três dias após ter sido apresentado, um plano para uma Superliga voltou a ser apresentado este mês, com uma nova empresa, a A22 Sports, a reformular a proposta, aberta a mais clubes.

Agnelli continua a falar em necessidade de reformas profundas para levar mais pessoas aos estádios e os clubes poderem ganhar dinheiro, indicando o que está errado no sistema atual.

«Além da falta de estabilidade financeira, os vencedores de muitos campeonatos nacionais e internacionais são praticamente conhecidos com antecedência. Acima de tudo graças às receitas que os clubes obtêm no mercado nacional. A Inglaterra lidera a esse respeito, pode-se ver como a Premier League está representada nas fases finais dos torneios europeus. Com a Espanha logo atrás e alguns clubes como Paris Saint-Germain e Bayern de Munique. Mas numa competição desportiva é importante que todos os participantes tenham chances de vencer. Por isso também Ajax, Feyenoord ou Juventus. Como fã de futebol, apoio fortemente uma competição internacional deste tipo. As federações internacionais não se importam com os problemas dos clubes, querem manter tudo como está.»

«Se o futebol continuar a ser tão previsível como é agora, o público em geral ficará alienado do futebol. Será que as pessoas nos Países Baixos vão continuar a ver futebol a nível internacional se o Ajax, o Feyenoord ou o PSV nunca tiverem hipóteses de vencer ou até de competir? É por isso que é precisa uma liga europeia com várias divisões com um esquema de promoção e despromoção. Em condições que oferecem igualdade de oportunidades aos clubes. Pensem em 60 a 80 clubes em toda a Europa. Com os meus 13 anos de experiência na indústria do futebol, sei como as coisas funcionam, creio que é altura de termos ligas mais justas. Não ligas determinadas unicamente pelos mercados onde se gasta mais dinheiro no futebol. Em termos europeus, os maiores mercados também recebem o maior número de bilhetes para a Liga dos Campeões e, portanto, o maior rendimento. Assim, mantém-se o sistema actual e o fosso entre clubes ingleses e espanhóis em particular, continua a aumentar. Talvez exceto para PSG e Bayern Munique. Será que um clube da Polónia não tem direito a ter sucesso? Partir do mesmo patamar pode ser uma ilusão, mas temos de lutar por isso. Quem quer ver um jogo cujo vencedor já está pré-definido?»

Agnelli garante ainda na entrevista ao jornal neerlandês que, mesmo com a Superliga, os clubes continuarão fiéis aos campeonatos nacionais.

«Claro, Ajax, Feyenoord e PSV precisam da Eredivisie [Liga] e vice versa. Devem qualificar-se para a Superliga através da liga nacional. Uma liga nacional forte e igualitária é do interesse de todos. Falta excitação, os campeões estão predestinados. Quanto vale a liga francesa com o PSG como eterno campeão? Ou a liga italiana, mesmo a alemã e espanhola estão em declínio. Apenas a Premier League está a crescer. Utiliza o sistema de pára-quedas para clubes que tiveram uma má temporada. Os clubes que descem de divisão recebem uma compensação financeira durante alguns anos. No contexto europeu, isto seria também uma consideração para a nova competição europeia.»