A aliança dos Joões decidiu grande jogo: a crónica do Barcelona-FC Porto
Mais e melhor FC Porto durante a primeira parte; Exibição do 'outro mundo' de Cancelo mudou a história do jogo; Félix também decisivo
Foi, indiscutivelmente, um grande jogo de futebol e um magnífico espetáculo.E, quando assim é, há uma certeza incontornável, a de que estiveram em campo duas grandes equipas. Uma só grande equipa não faz um grande jogo e não é fácil, apesar de todas as anunciadas crises do velho Barça, chegar à capital da Catalunha e impôr um estilo, uma personalidade, um traço inconfundível de caráter. Foi esse o indiscutível mérito do FC Porto, que fez uma primeira parte superior, não deixando bola para o Barcelona jogar e merecendo uma vantagem, que só não se concretizou porque o futebol é feito de imprevistos e de fatores insondáveis, como o do esplendor da genialidade de um jogador que, por si só, consegue mudar a história de um jogo. Esse jogador é português e chama-se João Cancelo.
UM PORTO DE HONRA
Atitude, História e confiança em si próprio. Três trunfos essenciais para dar a provar em Barcelona um delicioso Porto de honra. Pela atitude, a equipa de Sérgio Conceição conseguiu condicionar o adversário, obrigando-o a jogar como raramente tem de jogar na sua cidade, sem espaço e sem tempo para ter posse de bola e, assim, sujeitar-se a erros comprometedores na iniciativa de construção do seu jogo. Pela força incrível da sua extraordinária História na Champions, o FC Porto não teve complexos em jogar de igual para igual, olhos nos olhos, com o Barcelona, em jogo que se apresentava como decisivo para ambos. Enfim, pela confiança em si próprio, nas suas qualidades, no seu poder coletivo, o FC Porto assumiu o jogo e criou uma sólida imagem de poder durante toda a primeira parte, em que foi a equipa mais.
Mais capacidade de pressão, mais qualidade na posse de bola e mais condições para sair sempre a jogar, abrir espaços e criar melhores situações de golo.
O IMPÉRIO DOS JOÕES
Todas as razões que um analista de futebol encontra para explicar uma vitória ou uma derrota feitas de um resultado à tangente serão sempre razões subjetivas, até porque no futebol, ao contrário do que fazem constar alguns pretensos iluminados, nem tudo se explica. Mas parece indiscutível que muito do que determinou a vitória do Barcelona esteve na decisiva aliança de dois Joões, portuguesinhos de gema, que se juntaram na ala esquerda do Barça para marcar o jogo com a sua classe e decidirem o resultado.
É verdade que Xavi também mexeu os cordelinhos ao intervalo, obrigando os seus jogadores a equilibrarem a atitude e a convicção portista, aumentando a intensidade e a velocidade do jogo, mas nada teria dado certo se não fosse todo aquele talento somado de dois jogadores invulgares. Mesmo assim, depois do Barça ter dado a volta ao resultado, o que aconteceu ainda a mais de meia hora do final do jogo, o FC Porto conseguiu resistir e manter-se na luta até ao fim. Não lhe foi fácil. O Barcelona passou a ter mais espaço e mais bola e, por isso, a jogar como mais gosta e melhor sabe.
O FC Porto teve de correr muito atrás do adversário, teve de sofrer para não se afundar e teve de chamar, a si, todas as forças para recuperar uma ideia de esperança no jogo. Nos últimos dez minutos, já com o Barcelona em modo de deixar correr o tempo, o FC Porto teve (80 minutos) um golo quase feito em oportunidade dupla de Pepê. E, logo depois, maior ânimo sentiu a equipa com os sinais dados pelo seu treinador, o último dos quais significava o risco máximo em nome do direito de acreditar mesmo até à última gota de jogo. E foi assim que o FC Porto espantou Barcelona, acabando a jogar apenas com três defesas e com uma sobrelotação de avançados. Não deu para mais do que lavar a alma.
O Barça qualificou-se, o FC Porto vai ter de discutir no derradeiro jogo, no Dragão, uma nova 'final' com o Shakhtar. Basta-lhe empatar e por isso tudo parece ainda estar a favor da qualificação, porém importa pensar que é sempre perigoso um jogo em que tudo