Já havia o indescritível Gyokeres e o firme capitão Hjulmand. Eis que agora chega o jovem Conrad Harder a dar mais um toque nórdico a um leão, contudo, bem português na liderança e no comportamento
Há estados de graça assim. O Sporting somou este domingo, com uma naturalidade impressionante, a 20.ª vitória consecutiva em casa em jogos de campeonato. Fê-lo com autoridade, classe e absoluta impiedade para com o adversário, que chegou ao final de 98 minutos sem qualquer lance de perigo criado junto da área leonina.
E se já havia o sueco Gyokeres — sempre ele, uma vez mais, outra vez e de novo —, se já havia o capitão dinamarquês Hjulmand, bússola de cada momento ofensivo ou defensivo, não é que aparece um jovem Conrad Harder, outro nórdico da Dinamarca, a marcar e a assistir na estreia como titular?
A visão imediata do futebol do Sporting está definitivamente dominada por indivíduos altos e loiros, é certo, mas convém não esquecer o toque português de que beneficia a equipa de Rúben Amorim, a começar pelo do próprio treinador. Trincão continua numa forma incrível e Daniel Bragança assumiu a titularidade sem qualquer hesitação.
Vem nos livros: quando as coisas correm bem, tendem a correr melhor; quando, pelo contrário, correm mal, parece que tudo acontece a uma equipa. O Sporting partiu para este jogo com o Aves SAD com seis jogadores lesionados, três deles — Kovacevic, Inácio e Pote — titulares absolutos, mais Eduardo Quaresma, que vinha ganhando o seu espaço, mais Edwards, sempre importante para qualquer contingência do jogo, mais St. Juste, promessa sempre adiada pelas malditas lesões. E o que aconteceu ao Sporting? Nada. Ou melhor, aconteceu que as soluções encontradas por Amorim mantiveram a máquina oleada, cumpriram a sua missão e a equipa fez um jogo absolutamente dominador, do primeiro ao último minuto.
O domínio leonino foi de tal forma claro que aos 15 minutos, quando Conrad Harder inaugurou o marcador num golo todo ele criado do centro da Europa para cima — Debast-Hjulmand-Gyokeres-Hjulmand-Harder — já parecia tarde para ainda haver 0-0 no marcador. Quando tudo indicava que os leões, apesar do intenso domínio, iriam para intervalo com a vantagem mínima, prevaleceu a lógica do mais forte e desta vez foi Harder, servido por Hjulmand, a oferecer ao «já não tenho adjetivos para ele» Gyokeres o 2-0 que decidiu de vez o jogo.
Alvalade a ferver com o gelo… de Gyokeres, Hjulmand e Harder. Sueco bisou, dinamarquês estreou-se a marcar. Podem mudar as peças, mas este leão nunca deixa de rugir. E cada vez mais alto…
O Aves SAD tentou fazer o seu jogo, com as cautelas naturais de quem hoje chega à fortaleza de Alvalade, mas só muito depois deste 1-0 teve tempo de tentar construir duas ou três jogadas. A pressão do Sporting é alucinante. Os avançados, depois os médios, em última instância os defesas não deixam o adversário respirar em posse de bola. E se não ganham a primeira bola ganham a segunda, às vezes lá calha terem de resolver à terceira. Esta é uma postura habitual em várias equipas em fases iniciais dos jogos, que depois se esbate em função, até, da exigência física deste tipo de jogo. A diferença é que este Sporting fá-lo até final. Aos 82 minutos, o reforço Maxi Araújo (ainda ia marcando, num remate ao poste aos 74 minutos) ainda estava a recuperar uma bola a meio do meio-campo, não permitindo ao Aves SAD ter sequer a ideia de que poderia fazer qualquer coisa em Alvalade.
Há estados de graça assim: o Sporting está bem, recomenda-se, tudo vai muito bem nos reinos da Dinamarca, da Suécia e de Portugal. O futuro dirá se a tendência se mantém, mas nesta altura do campeonato só dá mesmo Sporting.