Tudo o que disse Cancelo: da Covid que o afastou do Euro 2020 ao sonho de ficar na História e dar uma alegria a… Martínez
João Cancelo foi o porta-voz da Seleção (foto Miguel Nunes)

Tudo o que disse Cancelo: da Covid que o afastou do Euro 2020 ao sonho de ficar na História e dar uma alegria a… Martínez

SELEÇÃO16.06.202417:46

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João Cancelo considera que houve injustiça na sua ausência no Euro 2020. O lateral, recorde-se, testou positivo à Covid e Fernando Santos substituiu-o à última hora por Diogo Dalot, algo que nunca esqueceu.

Cancelo quer compensar agora, em 2024, de modo a dar uma alegria à família, aos amigos com quem jogou futebol na rua e a… Roberto Martínez, treinador com quem tudo mudou e que para quem o polivalente lateral português só tem elogios.

Elogiados foram também os ‘rivais’ que no grupo lutam pela titularidade nas laterais e, ainda, Cristiano Ronaldo. Pelo meio, a garantia de que o ambiente que se vive em Marienfeld e no balneário de Portugal é espetacular.

– Que pontos fortes e fracos identifica na Chéquia, primeira adversária de Portugal?

– Há pouco tempo jogámos com a Chéquia [4-0, em setembro de 2022, na Liga das Naçoes]. É uma equipa muito fisica, com jogadores de qualidade… Ainda agora estava a ver o Holanda-Polónia e dá para ver que este Europeu não tem jogos fáceis. Temos de entrar com garra e determinação para conseguir ganhar o primeiro jogo.

– Ora joga na direita, ora na esquerda, às vezes a fugir ali para a posição 10… O que muda no seu tipo de jogo?

– Isso a número 10… Para isso não tenho qualidade para jogar aqui [risos]. Para mim, é indiferente, já que é habitual fazer os dois corredores. O que tento é ajudar sempre a equipa com o meu futebol para conseguir o objetivo final que é sempre ganhar.

– Parece, porém, estar mais à vontade na esquerda e a entrar para o meio-campo, além de revelar um bom entendimento com Rafael Leão.

– Entendemo-nos bem fora de campo; e acho que dentro também. É fácil jogar com jogadores desta qualidade. O Leão tem demonstrado enorme valor. No ano passado, foi o melhor da Liga italiana, este ano voltou a estar muito bem. Já o conheço há muito tempo, somos praticamente da mesma zona, entendo-me bem com ele, dou-me bem. Mas há mais, como o Félix, com quem também me entendo. Eu tento ajudá-los ao máximo para explanarem o seu melhor futebol.

Os dias aqui em Marienfeld? Jogamos às cartas, vemos os jogos das outras seleções, para sabermos como jogam, vemos séries e voltei a andar de bicicleta, mas… devagarinho

– Martínez montou um esquema em que os laterais aparecem muito como médios a jogar por dentro. É um modelo que está desenhado para si na perfeição?

– A concorrência nas laterais é muito forte na Seleção. Estão todos com ambição e determinação desde o primeiro dia aqui. Sim, o sistema adequa-se ao meu futebol, mas também ao futebol do Diogo [Dalot], do Nelson [Semedo] e do Nuno [Mendes], todos de grande qualidade, a jogar em grandes clubes. Qualquer um pode fazer essa posição e ajudará ao máximo a nossa Seleção.

– Esta é a melhor geração do futebol português?

– Uff, pergunta muito difícil… Há muita, muita qualidade aqui, mas, por exemplo, houve gerações com a do Euro 2004 – eu era miúdo e lembro-me perfeitamente da equipa, tinha jogadores fenomenais, chegou à final. Se conseguirmos esse feito e se conseguirmos ganhar, vamos ficar na História. E, claro, há a geração de 2016 que ganhou e é a que fica na História de Portugal. Desejo que, num futuro próximo, consigamos, também, ficar na História. Será passo a passo. Não consigo mesmo responder a essa pergunta, desculpe.

– O modelo com três centrais beneficia-o mais, por estar mais protegido?

– Sim, sim, sem dúvida alguma. Nesse sistema estou muito mais à vontade, porque gosto de ter bola, gosto muito de atacar e, tendo três centrais, estou sempre mais salvaguardado defensivamente.

– Fica no Barcelona, regressa ao City? A indefinição nesta fase cria ansiedade?

– Criou uma certa incerteza quando estive de folga, mas, desde o primeiro dia aqui, esqueci tudo isso. Estou 100 por cento focado na Seleção, 100 por cento focado em ajudar Portugal. O Euro 2020 foi injusto comigo [testou positivo a Covid já na Hungria e teve de ser substituído por Dalot] e quero agora dar uma resposta por mim, pela família, por quem gosta de mim e pelos meus amigos que queriam estar aqui, que um dia sonharam, como eu. Por isso, vou pôr as cartas todas em cima da mesa, dar tudo de mim e ajudar Portugal ao máximo.

– Disse que o Europeu foi ingrato consigo. Como foi gerir a ansiedade de não saber se a qualquer momento poderia acontecer algo idêntico?

– Tive sempre o sonho de jogar por Portugal num Euro. Foi injusto, porque fiz grande temporada, senti que podia estar presente, mas… a vida não quis assim. Eu tenho muita fé em Deus e no que Ele tem guardado para mim… Se calhar era preciso esperar por este momento como sendo o certo para me afirmar. Por muitos clubes que eu passe, a Seleção é o ponto alto da minha carreira, porque nela represento a minha família, os meus amigos que jogaram comigo na rua e os que gostam de mim. É sempre o ponto alto, seja num amigável ou em alta competição.

– O que espera desta estreia no Euro?

– Espero uma Chéquia muito agressiva. É equipa com jogadores muito altos, com grande condição, muito físicos e vão dificultar-nos bastante quando tivermos bola para depois sairem no contra-ataque. Teremos de estar organizados na perda. Depois, temos manter a bola ao máximo para desorganizá-los e tentar um golo cedo para tranquilizar o nosso jogo, que às vezes é o que nos faz falta.

– Foi treinado por técnicos muito conceituados como Naggelsmann, Guardiola, Alegri e Xavi, entre outros. Que diferença encontra em Roberto Martínez e o que tem o selecionador feito para o João crescer mais?

– É um treinador que desde o primeiro dia me fez sentir à vontade, quer a nível desportivo, quer pessoal. É muito próximo dos jogadores, tem boas ideias, gosta de atacar, de futebol ofensivo e atrativo e eu identifico-me com isso, porque penso da mesma maneira. Sim, adapta-se ao meu futebol e todos os meus colegas pensam como eu. Esperamos dar-lhe uma alegria, ele tem feito a diferença desde que chegou e tem-se adaptado muito rapidamente.

– Abel Xavier referiu em entrevista a A BOLA que a geração de Figo e Rui Costa foi uma das melhores, mas nada ganhou porque havia muitas picardias no balneário, que «era muito quente e difícil de ser liderado». Como é o ambiente no vosso grupo?

– O ambiente aqui é fantástico, um dos melhores em que já estive. É um grupo espetacular, liga-se muito bem a veterania com os jovens. Há muito respeito, tenho aqui amigos que vou levar para a vida. Se na altura de Figo e Rui Costa era assim, aqui não é o caso, posso garantir.

– Como passam os dias aqui em Marienfeld?

– Jogamos às cartas, vemos os jogos das outras seleções, para sabermos como jogam, vemos séries e voltei a andar de bicicleta, mas… devagarinho.

– Como é olhar para Ronaldo e, 21 anos depois da estreia na Seleção, vê-lo no seu sexto Europeu?

– São 21 anos de Seleção! Não me lembro de nenhum jogador com essa longevidade. É fruto do trabalho, do talento e de tudo o que conquistou até hoje. Está à frente da nossa equipa, é o capitão e é um orgulho estar aqui com ele.

– Dois candidatos, Espanha e Alemanha, entraram muito bem no Euro, com muitos golos. Também querem dar resposta forte na estreia?

– Sim, claro! Alemanha e Espanha são dois favoritos, há mais três ou quatro. Queremos dar resposta boa, entrar com o pé direito e sinto que temos equipa para fazê-lo. Há muita positividade, estamos no caminho certo, mas só os resultados o dirão. Que consigamos ganhar o primeiro jogo.