Luxemburgo: a história de um milagre
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Luxemburgo: a história de um milagre

SELEÇÃO10.09.202312:10

Próximo adversário de Portugal na corrida ao Euro-2024 tem crescido imenso nos anos mais recentes

O Luxemburgo é o próximo adversário de Portugal na qualificação para o Euro-2024. Depois da goleada sofrida em março passado (0-6), o conjunto de Luc Holtz vem motivado para o embate no Algarve. Já venceu a Bósnia, acaba de bater a Islândia por 3-1 e tem os mesmos pontos que a Eslováquia, a seleção com que compete ombro a ombro para chegar à fase final. Sim, leu bem: os luxemburgueses estão na luta para garantir o passaporte para a Alemanha. Parecia missão impossível há uns anos, hoje é um sonho possível de concretizar.

O que mudou no pequeno e rural Luxemburgo, enclausurado entre três potências do futebol mundial, a Bélgica, a França e a Alemanha, para que deixasse de ser saco de boxe e conseguisse jogar olhos nos olhos com a classe média continental? «Houve um investimento sustentado», atirou a A BOLA Bence Horvath, jornalista da RTL Today e especialista no tema.

«No ano 2000 e seguintes, a federação começou a investir numa academia em Mondercange e estabeleceu contactos com scouts da formação de clubes em França e Alemanha, a fim de abrir portas para as gerações mais novas no sentido de ficarem com perspetivas de uma carreira profissional fora do país. A primeira geração tem hoje entre 28 e 30 anos, e as seguintes vão ser ainda melhores, à medida que mais clubes começam a olhar para os jovens talentos luxemburgueses. Usualmente, os melhores vão para a Alemanha aos 15, 16 anos. Por exemplo, o Borussia Möenchengladbach e o Metz em França têm cinco jogadores luxemburgueses cada. Por isso, não se trata só de uma geração de ouro, mas sim de um investimento sustentado», explicou. Em Mondercange foi instalado um campo coberto para resistir ao mau tempo, inaugurado em 2019 pelo presidente da UEFA Aleksander Ceferin.

No habitual plantel, o Luxemburgo conta com jogadores com a experiência de Maxime Chanot (Ajaccio, França) e Anthony Moris (St. Gilloise, Bélgica), além do capitão Laurent Jans (Mannheim, Alemanha) e de Mica Pinto (Vitesse, Holanda), que passou pela formação do Sporting e somou internacionalizações dos sub-17 aos sub-20 portugueses. 

Também nomes como Marvin Martins (Áustria Viena, passou recentemente pelo Casa Pia) e Martins Pereira (Spartak, Rússia), ambos de ascendência cabo-verdiana, o do criativo Danel Sinani (St, Pauli, Alemanha), Gerson Rodrigues (Sivaspor, Turquia), nascido no Pragal, e Leandro Barreiro (Mainz, Alemanha), com passaporte luso, garantem transição suave para o futuro. É aí que surgem Yvandro (Borussia Mönchengladbach), Mathias Olesen (Colónia, Alemanha) e Florian Bohnert (Bastia, França), que já jogam pela seleção principal, e outros cada vez mais perto de serem solução. É o caso de James Alves Rodrigues (Veneza, Itália), Tiago Cardoso e Selim Turping (ambos Borussia Mönchengladbach), Fabio Lohei (Metz, França), Rayan Berberi (Standard Liège, Bélgica), Jayson Videira (Hannover, Alemanha) e Aiman Dardari (Fortuna Sittard, Países Baixos).

«O presidente da federação é Paul Philipp, antigo internacional que jogou ainda em vários clubes de topo da Bélgica nos anos 80. Depois de se ter retirado, foi um dos principais instigantes da necessidade de mudança no futebol do país. Desde que foi eleito presidente, em 2004, o jogo no Luxemburgo tem estado sempre numa curva ascendente», sublinha Horvath, que atribui ainda uma quota importante do sucesso a Luc Holtz, o selecionador que está há 13 anos no cargo, desde 2010: «Ele é o selecionador europeu em funções há mais tempo. Herdou uma equipa de amadores e hoje quase todos os futebolistas são profissionais e jogam nas principais ligas do continente. Taticamente, o Luxemburgo foi capaz de não sofrer golos diante da França ou de bater seleções como Turquia, Hungria e Irlanda debaixo do seu comando. Ele prefere jogar com uma linha de cinco atrás quando não tem bola, mas ultimamente tem apostado em táticas mais ofensivas, assente nas melhorias da qualidade da equipa. É um treinador muito flexível, bem preparado e capaz de mudar o sentido de um encontro.»

No que diz respeito às expetativas para o jogo com Portugal, na segunda-feira, o jornalista já não se mostra confiante. «Por questões relativas ao critério de desempate pela diferença de golos, seria importante evitar nova goleada por 6-0. Ou seja, já ficaríamos contentes com uma derrota por dois golos, por exemplo. O primeiro jogo com Portugal mostrou que não há expetativas realísticas positivas que possamos ter. E como esperamos que a Eslováquia volte a perder com Portugal, isso não deverá felizmente afetar a corrida ao segundo lugar.»