Este Mundial já é para velhos... conhecidos destas andanças
Portugal volta à Noruega, onde em 2020 iniciou o ciclo de maior sucesso do andebol nacional. Na Seleção atual, há cinco atletas que estiveram em todos os Europeus e Mundiais desde então, e apenas um estreante em grandes competições
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete. As contas nem parecem bater certo. Se pensarmos que foi em 2020 que o mundo - e até o país! - se lembrou que havia andebol de qualidade em Portugal, custa a acreditar que os Heróis do Mar vão iniciar, nesta quarta-feira, a sétima participação seguida em grandes competições desde então.
Porque há também a estreia nos Jogos Olímpicos (Tóquio2020) pelo meio. De Trondheim para Oslo, há um mundo de distância. E não nos referimos a questões geográficas, mas sim à evolução do andebol nacional que, em 2020, espantou tudo e todos com base na pequena cidade no centro da Noruega, e que cinco anos depois vai jogar na capital do país com um estatuto completamente diferente.
No grupo que viaja esta terça-feira para a Noruega, há cinco jogadores que fizeram todo o percurso de Europeus e Mundiais: Rui Silva, Miguel Martins, António Areia, Alexandre Cavalcanti e Gustavo Capdeville. Ainda que o guarda-redes não tenha jogado em 2020 . E é o capitão o primeiro a assumir que esta é uma realidade bem distinta daquela de 2020. Sobretudo na experiência.
Quando se está dentro... mas a torcer por fora
Um ano depois de ter estado no Europeu, Ricardo Brandão vai viajar para a Noruega... à espera de se estrear numa grande competição. Isto porque na Alemanha, o pivô não integrou a ficha em nenhum dos jogos. Mas essa é uma situação que outros jogadores conheceram nos últimos tempos. Martim Costa, por exemplo, não somou qualquer minuto em no Europeu de 2023. E antes, em 2020, foi Gustavo Capdeville que foi sempre terceira opção na baliza. E é ele quem defende a necessidade de... ter paciência.
«Mesmo não tendo jogar, foi uma experiência inacreditável. Ainda por cima, em 2020, quando fomos a primeira vez depois de muito tempo. Dei o meu melhor, mas havia outras opções. E sobretudo quando somos jovens, como é o caso do Brandão e do João, há que ser paciente e esperar pela oportunidade e continuar a trabalhar. Eu estive inserido no grupo, apenas não joguei. O importante é estar sempre preparado para quando a oportunidade surgir», receita.
De resto, o guardião, que é um dos totalistas do grupo, garante que ninguém olha de forma diferente para os estreantes. «Somos um grupo que recebe bem todos os jogadores, sem olhar se é a primeira ou a 10.ª vez que vão jogar. Todos sentem que fazem parte da equipa e o nosso trabalho é tranquilizá-los e deixar claro que cada um deles é mais um para ajudar», resume.
«A diferença é grande. Desde logo porque os mais velhos já têm mais experiência em grandes competições. Mas, acima de tudo, temos a mesma fome e vontade de fazer coisas grandes. Isso tem sido o que nos caracteriza nestes anos: não termos deixado perder a ambição de fazer cada vez melhor. E agora vamos com o objetivo de chegar aos quartos de final. Sabemos que vai ser difícil, que os cruzamentos não são os mais fáceis, mas também acreditamos no nosso valor», nota Rui Silva, de 31 anos.
Opinião semelhante é partilhada pelo outro central do grupo, Miguel Martins. «Seguimos o percurso normal a evoluir de forma gradual. Quando começámos a ir a estas grandes competições muitos jogadores nem tinham experiência de competições europeias de clubes. Estávamos a começar a mostrar-nos ao mundo. Agora, conciliamos experiência com irreverência e talento. Temos as peças todas e é muito bom estar num grupo assim, porque somos como uma família e todos adoramos estar aqui. É ótimo poder jogar com amigos e tem sido muito bom ver este grupo crescer e evoluir», orgulha-se.
Estreante feliz... mas nervoso
Aos 20 anos, Kiko Costa, que vai para a terceira grande competição, continua a ser o mais jovem do grupo. Mas é João Gomes quem parece o caçula. Afinal, o também lateral-direito é o único atleta que se estreia em convocatórias de grandes competições. A forma como foi recebido, porém, facilitou.
«Estou muito contente por estar neste grupo, a partilhar campo com jogadores que via quando era pequeno. É um sentimento de felicidade incrível. Eles receberam-me muito bem», revela, em conversa com A BOLA, sem conseguir disfarçar um sorriso permanente de quem está prestes a viver um sonho. «Estou um bocadinho nervoso por ser a primeira grande competição, mas mais importante é que estamos a trabalhar bem», sublinha.
Ele será a exceção. Porque este Mundial dos Heróis do Mar já será para velhos... conhecidos.
Prova arranca nesta terça-feira, Portugal estreia-se na quarta
A 29.ª edição do Campeonato do Mundo, numa co-organização de Noruega, Dinamarca e Croácia, arranca já hoje. O jogo de abertura da prova vai colocar frente a frente a Itália e a Tunísia, que jogam em Herning, na Dinamarca, às 16h30. São 32 os países participantes na competição, divididos em oito grupos de quatro equipas nos quais os três primeiros seguem para uma segunda fase de grupos (main round), composta por quatro grupos de seis. A Dinamarca que em agosto se sagrou campeã olímpica e a França, campeã europeia em título, partem como principais candidatas a vencer a competição cuja final se disputará em Oslo, no dia 2 de fevereiro. A Seleção portuguesa, que parte hoje para a Noruega, terá a sua sede precisamente na capital norueguesa. Os comandados de Paulo Jorge Pereira integram o grupo E, juntamente com a equipa da casa, o Brasil e os EUA, com quem se estreiam amanhã, às 19h30.