Vitinha organiza o jogo português em Copenhaga, diante da Dinamarca
Vitinha organiza o jogo português em Copenhaga, diante da Dinamarca
Foto: IMAGO

Vitinha, o influencer de Portugal e do PSG

OPINIÃO22.03.202510:35

No futebol moderno, há jogadores que brilham pelos golos, outros pelas assistências, e depois há aqueles que influenciam o jogo de uma forma tão subtil quanto determinante. Vitinha pertence a esta última 'categoria'. O médio português não precisa de estatísticas vistosas para provar a sua importância. Basta vê-lo em campo para perceber que a sua influência vai muito além dos números

Com apenas 24 anos, Vitinha já é um dos grandes nomes do futebol europeu e mundial. Vejo-o como um símbolo do futebol moderno, do talento, da inteligência e da resiliência do futebol português. De Santo Tirso para o topo do futebol europeu, o seu percurso é uma história de determinação, crescimento e superação. Numa altura em que Portugal continua a produzir médios de elite, Vitinha surge como um dos expoentes máximos desta nova geração. Consolidou-se como um dos melhores médios-centro do continente e como uma peça fundamental no Paris Saint-Germain, na engrenagem de Luis Enrique, assumindo um papel central na era pós-Kylian Mbappé. Na seleção portuguesa, Roberto Martínez, confia cada vez mais no médio, descrevendo-o como o maestro do futebol europeu. A verdade é que poucos jogadores conseguem orquestrar o ritmo de um jogo como ele.

O seu trajeto tem sido tudo menos linear. Depois de se destacar na formação do FC Porto e conquistar a UEFA Youth League em 2019, teve a sua primeira oportunidade na equipa principal, mas encontrou dificuldades para se afirmar. Seguiu-se um período de incerteza, com um empréstimo ao Wolverhampton onde, sob o comando de Nuno Espírito Santo, não conseguiu demonstrar todo o seu potencial. Mas Vitinha nunca desistiu.

O regresso ao Dragão revelou-se decisivo. Com a confiança de Sérgio Conceição, tornou-se uma das figuras-chave da equipa e conquistou a Primeira Liga e a Taça de Portugal em 2021/22. Os seus desempenhos chamaram a atenção do PSG, que não hesitou em pagar 41,5 milhões de euros pela sua contratação.

Sob o comando de Christophe Galtier, começou bem, mas enfrentou dificuldades na segunda metade da temporada, supostamente por desentendimentos com Lionel Messi nos treinos e críticas de Neymar após uma derrota por 3-1 contra o Mónaco. Perdeu espaço na equipe. O PSG manteve a confiança em Vitinha e, no verão de 2023, decidiu despedir-se de Messi e Neymar. Com a chegada de Luis Enrique, o médio internacional português reconquistou seu espaço, encontrou uma nova motivação e tornou-se num dos jogadores mais influentes.

Quando olho para o seu jogo, vejo um médio total. Um jogador com 1.72, mas com uma enorme atitude, com um primeiro toque refinado e uma capacidade de transporte de bola acima da média que combina criatividade e agressividade, que pode tanto construir como destruir, que sabe pausar e acelerar consoante a necessidade da equipa. No PSG, a sua capacidade de resistir à pressão, encontrar soluções rápidas e distribuir jogo tem sido fundamental para dar fluidez ao meio-campo. Na última temporada, terminou com 9 golos e 5 assistências, mas o que mais impressiona é a sua consistência: um jogador que raramente toma más decisões e que oferece sempre uma saída segura para os seus colegas.

Na Liga dos Campeões, brilha independentemente do adversário. Contra o Liverpool, em Anfield, mostrou uma maturidade impressionante, superiorizou-se pela sua qualidade, controlando o meio-campo e convertendo um dos penáltis decisivos. Thierry Henry, lenda do futebol francês e do Arsenal, não poupou elogios ao médio, não esquecendo outro internacional luso - Nuno Mendes: Nuno Mendes foi espetacular, mas este rapaz, peço desculpa, o Vitinha joga um desporto diferente. Não é o mesmo futebol. Sabem quando tu consegues controlar o ritmo e o tempo do jogo? Isso tem de contar para alguma coisa. As pessoas falam muito dos jogadores que ganham os jogos e eu percebo isso, mas o Vitinha... A forma como controla o jogo e defende... Joga um desporto diferente.

Respeito todas as opiniões, mas o Vitinha é um influencer do futebol na sua forma mais pura. Não influencia através das redes sociais, mas sim dentro de campo, com passes certeiros, recuperações fundamentais e um entendimento tático acima da média. Ele dita o jogo, equilibra a equipa e faz com que tudo à sua volta funcione melhor. Não é apenas um médio-centro; é um facilitador, um maestro que não precisa de batuta, um jogador que transforma o futebol numa arte coletiva.

Para Portugal, Vitinha representa o presente e o futuro. Ao lado de João Neves, forma uma dupla de meio-campo que se complementam, que jogam de olhos fechados e que irão marcar uma geração. Espero apenas que Roberto Martínez saiba aproveitar o talento à sua disposição, que evite invenções desnecessárias e que alcance com Portugal o sucesso que lhe escapou na Bélgica. Não é o meu selecionador, não por ser espanhol, apenas por manter dúvidas sobre a sua capacidade de liderar e retirar o melhor de umas das melhores seleções a nível mundial.

Num futebol cada vez mais obcecado por estatísticas, Vitinha lembra-nos que a verdadeira influência mede-se na forma como um jogador eleva toda uma equipa. E nisso, poucos o fazem melhor do que ele. E o melhor ainda está para vir.

«Liderar no Jogo» é a coluna de opinião em abola.pt de Tiago Guadalupe, autor dos livros «Liderator - a Excelência no Desporto», «Maniche 18», «SER Treinador, a conceção de Joel Rocha no futsal», «To be a Coach» e «Organizar para Ganhar» e ainda speaker.