Nottingham Forest: o despertar de um gigante sob orientação lusa
Chris Wood celebra o golo do Nottingham Forest diante do Manchester City (1-0), marcado por Callum Hudson-Odoi.
Foto: IMAGO

Nottingham Forest: o despertar de um gigante sob orientação lusa

OPINIÃO15.03.202508:45

Há pouco mais de um ano, poucos apostariam que o Nottingham Forest estaria a lutar por um lugar nas competições europeias a dez jornadas do fim da Premier League. No início da temporada, o objetivo parecia ser apenas um: evitar a descida ao Championship. No entanto, sob o comando de Nuno Espírito Santo, a história mudou radicalmente. O que era para ser uma luta pela sobrevivência transformou-se numa campanha de afirmação. O Forest, um clube com um palmarés invejável, incluindo uma Premier League, duas Taças dos Clubes Campeões Europeus, uma Supertaça Europeia, duas Taças de Inglaterra e quatro Taças da Liga, está de regresso. E, até agora, tem sido uma ascensão impressionante.

Pouco mais de um ano passou desde que Nuno Espírito Santo chegou ao City Ground com a difícil missão de mudar o rumo do Nottingham Forest. Quando assumiu o comando, a equipa estava mergulhada numa luta feroz pela permanência, terminando a época passada apenas um lugar acima da linha de despromoção, garantindo a sobrevivência na Premier League na última jornada. Os primeiros meses trouxeram estabilidade, mas poucos imaginavam que, um ano depois, o Forest pudesse estar a sonhar com a Liga dos Campeões (2025-26).

O segredo? Mudanças inteligentes, pragmatismo e uma identidade bem definida, com um toque português a fazer toda a diferença. O desempenho recente reflete essa mudança. Um empate frente ao Arsenal de Arteta, segundo classificado, e uma vitória sobre o Manchester City de Guardiola, quinto da tabela, comprovam que o Forest deixou de ser um mero figurante para se tornar num candidato sério a um lugar europeu. Os Tricky Trees encontram-se em terceiro lugar a quatro pontos do Arsenal e com dois pontos de vantagem do Chelsea.

Nas redes sociais do clube, o tom foi mudando. O que começou como uma celebração tímida de vitórias inesperadas transformou-se numa declaração clara de ambição. E essa ambição não nasceu do acaso. Desde que assumiu o projeto, Nuno Espírito Santo soube onde intervir sem recorrer a uma revolução desnecessária. O proprietário, Evangelos Marinakis, sempre quis um Forest habituado a vencer e agora esse objetivo começa a tornar-se realidade.

Depois de uma época a lutar para não cair no abismo, teria sido fácil reformular por completo o plantel. Ao invés disso, Nuno e a sua equipa técnica identificaram com precisão cirúrgica as áreas a melhorar. Com o apoio do diretor técnico George Syrianos e do chefe de scouting Pedro Ferreira, o Forest foi eficaz no mercado, recrutando os jogadores certos para elevar a equipa ao próximo nível.

E os resultados foram imediatos. Sob o comando de Steve Cooper, o Forest revelava-se frágil defensivamente. Nuno tratou de fortalecer a equipa, tornando-a mais coesa e equilibrada, ainda que as bolas paradas continuassem um ponto fraco. Para corrigir essa vulnerabilidade, apostaram num reforço de peso: Nikola Milenkovic. O central sérvio, proveniente da Fiorentina, trouxe agressividade, experiência e liderança, tornando-se no parceiro ideal para Murillo. Com esta dupla, o Forest passou a ter uma das defesas mais sólidas da Premier League – a terceira menos batida em Inglaterra.

Mas não foi só a defesa que ganhou reforços de qualidade. O meio-campo também foi alvo de um upgrade estratégico com a chegada de Elliot Anderson. Identificado como uma peça-chave para o estilo de jogo pretendido, a sua capacidade de transporte de bola e intensidade complementa jogadores como Ryan Yates e Morgan Gibbs-White, criando um setor intermédio mais dinâmico e imprevisível.

A estratégia de Nuno também tem sido destacada por colegas de profissão. Arne Slot, treinador do Liverpool, elogiou o trabalho do português:

O estilo de jogo que implementaram encaixa perfeitamente na equipa. Trabalham arduamente sem bola e têm uma organização forte. Chris Wood, um dos protagonistas, é um exemplo da abordagem pragmática do treinador: um ponta-de-lança capaz de segurar a bola, alimentando os velozes extremos e os criativos médios ofensivos como Ryan Yates e Morgan Gibbs-White.

O futebol é implacável para quem falha no mercado de transferências. O Manchester United que o diga, atolado há anos em contratações desequilibradas e um plantel dispendioso que não reflete as necessidades do seu treinador, Rúben Amorim. No Forest, a abordagem foi diferente: precisão e critério.

Além dos reforços, a mudança de mentalidade impulsionou a equipa para outro nível. Nuno Espírito Santo soube adaptar-se aos adversários e moldar o Forest consoante as exigências de cada jogo. Contra equipas mais ofensivas, como o Tottenham, soube explorar as transições rápidas. Perante adversários mais organizados, apostou na disciplina tática, à semelhança do que se vê no Everton.

O impacto de Nuno Espírito Santo não se mede apenas pelos resultados, mas também pelo reconhecimento que tem vindo a conquistar. Esta temporada, o treinador português foi eleito Treinador do Mês da Premier League por duas ocasiões, elevando para seis o total de distinções na carreira. Um feito notável que o coloca num patamar reservado a poucos: na história da competição, apenas nove treinadores venceram este prémio mais vezes do que Nuno, que agora se junta a nomes como Sam Allardyce e Sir Bobby Robson, ambos com seis troféus. No momento de receber a distinção, o português fez questão de valorizar a sua equipa: Tenho de agradecer aos jogadores, que entram em campo e dão tudo por este clube. No final das contas, este prémio é um reconhecimento do desempenho deles. Um discurso simples, mas revelador da mentalidade do treinador e da forte ligação que tem vindo a construir dentro do grupo.

Olhando para o futuro, um dos desafios será segurar as suas estrelas. Murillo e Anthony Elanga começam a despertar atenções nos grandes clubes europeus, mas o Forest está determinado a manter as suas peças-chave.

A ascensão dos Tricky Trees é a prova de que grandes transformações nem sempre exigem revoluções. Independentemente do desfecho desta temporada, uma coisa é certa: o Nottingham Forest está de volta. O regresso pode ter sido discreto, mas assenta numa base sólida, num futebol convincente e numa crença inabalável.

Sob a liderança de Nuno Espírito Santo e com uma influência portuguesa cada vez mais evidente nos bastidores, o Forest não está apenas a conquistar sucessos imediatos. Está a recuperar a sua identidade, a reerguer-se como um clube com ambição e visão para o futuro. Porque, às vezes, não é preciso mudar tudo para criar algo especial — basta saber onde e como intervir. E nisso, o treinador português tem sido um verdadeiro mestre.

«Liderar no Jogo» é a coluna de opinião em abola.pt de Tiago Guadalupe, autor dos livros «Liderator - a Excelência no Desporto», «Maniche 18», «SER Treinador, a conceção de Joel Rocha no futsal», «To be a Coach» e «Organizar para Ganhar» e ainda speaker.