Vitinha em ação no jogo com o Lyon na Ligue 1
Vitinha em ação no jogo com o Lyon na Ligue 1
Foto: IMAGO

PSG: mudança estrutural e o grande teste

OPINIÃO01.03.202508:00

Nos últimos anos, o Paris Saint-Germain foi sinónimo de estrelato e ambição desmedida. Contratações milionárias, um plantel recheado de estrelas planetárias e uma obsessão pela Liga dos Campeões definiram a estratégia do clube. No entanto, Messi, Neymar e companhia não foram suficientes para conquistar o tão ambicionado título europeu. Perante o fracasso, PSG decidiu mudar de rumo.

O PSG 2024-25 apresenta um projeto diferente: mais equilibrado, mais coletivo e, acima de tudo, mais sustentável. Mas será que esta nova estrutura resiste ao seu primeiro grande teste? A resposta começa a ser dada na quarta-feira, quando os parisienses enfrentarem o Liverpool na primeira mão dos oitavos de final da Champions League.

A nova abordagem

A transformação do PSG acelerou com a saída de Kylian Mbappé, anunciada no final da temporada passada – um processo que já havia começado com as partidas de Messi e Neymar. Até então, o projeto parisiense girava em torno das suas grandes figuras, primeiro o astro argentino, depois o internacional francês. Sem Mbappé, Luis Enrique, Luís Campos e Nasser Al-Khelaïfi tiveram de redefinir a estratégia. O clube abandonou a dependência de um único jogador e apostou num modelo coletivo, mais homogéneo e orientado para o jogo posicional do treinador espanhol.

Com essa mudança estrutural, o PSG investiu em jovens talentos como João Neves, Désiré Doué e William Pacho, jogadores que encaixam na filosofia de Luis Enrique. A chegada de Kvaratskhelia, trouxe um novo dinamismo ao ataque, enquanto Vitinha se afirmou como o maestro da equipa. Além disso, a permanência de jogadores fundamentais como Donnarumma, Hakimi, Nuno Mendes, Marquinhos e Dembélé garantiu uma base sólida para o projeto.

Ligue 1: um domínio sem rival

No campeonato francês, a história repete-se. O PSG lidera confortavelmente a Ligue 1, invicto há 23 jornadas. A exceção mais recente foi o Lille, que surpreendeu ao vencer o título em 2020/2021, capitaneado pelo português José Fonte. Mas essa continua a ser uma raridade num campeonato onde a superioridade do PSG é evidente, a todos os níveis. Esta época, os parisienses já conquistaram a Supertaça Francesa e seguem firmes na luta pela Taça de França. No entanto, a verdadeira prova de fogo será na Liga dos Campeões.

O grande teste: Liverpool

O sorteio da Champions não foi meigo para o PSG. O adversário dos oitavos de final é um Liverpool que atravessa uma época notável, caminhando tranquilamente para vencer a Premier League e afirmando-se como um dos grandes candidatos à conquista da Champions. A equipa de Arne Slot combina intensidade, qualidade e, acima de tudo, experiência europeia em jogos decisivos.

Para o PSG, este duelo será um verdadeiro teste à sua nova identidade. O seu percurso, na principal competição europeia de clubes, foi turbulento, com a qualificação garantida apenas nas últimas jornadas, graças a vitórias decisivas sobre Manchester City (4-2) e Estugarda (1-4). Ainda assim, a equipa tem mostrado sinais claros de evolução e chega a esta eliminatória num momento crescente.

Do ponto de vista tático, a filosofia de posse e controlo de Luis Enrique será colocada à prova contra o principal clube da cidade dos Beatles, que pressiona alto e joga a um ritmo avassalador. O meio-campo parisiense terá um papel crucial, com João Neves e Vitinha a assumirem protagonismo. A dupla portuguesa complementa-se na perfeição como que dois maestros a reger a orquestra parisiense, jogam de olhos fechados: Vitinha define ritmos, dá fluidez e criatividade ao jogo, enquanto João Neves oferece intensidade, recuperação e leitura tática, garantindo equilíbrio à equipa.

Defensivamente, o PSG apresenta uma estrutura bem oleada. Nas laterais, Nuno Mendes e Hakimi combinam solidez defensiva com presença ofensiva explosiva, sendo ameaças constantes nas transições rápidas, acrescentando imprevisibilidade e agressividade ao setor ofensivo. No centro da defesa, Marquinhos lidera ao lado de William Pacho, um reforço que trouxe segurança e permitiu à equipa adotar uma pressão mais alta, essencial para travar a velocidade de Salah, Luis Díaz e Gakpo.

No ataque, a grande novidade tem sido a transformação de Dembélé. Posicionado como falso 9, o francês vive a melhor fase da carreira. Nos últimos dez jogos, marcou 17 golos, elevando o seu total da temporada para 25 – um registo superior ao somatório das suas últimas três épocas no Barcelona (21 golos).

Outra arma importante será Gonçalo Ramos. O avançado português tem crescido a cada jogo e, depois de ultrapassar uma longa ausência por lesão, tem mostrado eficácia sempre que é chamado. Na última partida, assinou um hat-trick e, no jogo anterior da Ligue 1, brilhou com uma assistência genial que correu mundo, um toque de classe digno de Zidane, culminando num golo de Hakimi frente ao Lyon.

Conseguirá o PSG passar no teste?

Este novo PSG tem argumentos para eliminar o Liverpool? Conseguirá gerir os momentos do jogo ou será empurrado para trás pela intensidade dos ingleses?

As respostas, a estas e a outras dúvidas, começam a ser dadas dentro de campo, às 20h00 de quarta-feira. Sem as individualidades brilhantes do passado, mas com um bloco mais coeso e estruturado, o PSG terá de provar que a sua evolução não é apenas teórica. Se a mudança estrutural funcionou, poderá estar finalmente mais próximo do seu grande desejo: conquistar a Liga dos Campeões.

«Liderar no Jogo» é a coluna de opinião em abola.pt de Tiago Guadalupe, autor dos livros «Liderator - a Excelência no Desporto», «Maniche 18», «SER Treinador, a conceção de Joel Rocha no futsal», «To be a Coach» e «Organizar para Ganhar» e ainda speaker.