OPINIÃO Villas-Boas à Bruno de Carvalho

OPINIÃO09:45

Estalou o verniz ao líder do FC Porto. Ofensas e empurrões nos túneis, não, obrigado. Um presidente não pode comportar-se como um adepto

André Villas-Boas foi eleito presidente do FC Porto há seis meses, sucedendo a Pinto da Costa. Muito mudou, entretanto, no Dragão. Inevitavelmente. Foram 42 anos de um autêntico reinado, com inúmeras conquistas e também muitos vícios. É o que sempre acontece quando alguém se eterniza no poder, seja em que área for. O futebol, claro, não foge à regra.

Os títulos dos azuis e brancos sucederam-se a um ritmo fantástico, o clube cresceu tanto que se impôs na Europa e no Mundo. Porém, apenas dentro das quatro linhas. As estratégias do nós contra todos e do orgulhosamente sós uniu os adeptos e a equipa, mas afastou-os do restante País. O FC Porto não conseguiu sair do… Porto, apesar das infindáveis conquistas. Uma estratégia arquitetada por Pinto da Costa e José Maria Pedroto e executada na perfeição durante décadas pelo presidente cessante. Com custos, obviamente.

A 27 de abril deste ano tudo mudou. Villas-Boas destronou Pinto da Costa e logo pensei que o FC Porto tinha entrado numa nova era. Confesso, porém, que nessa mesma madrugada estranhei o comportamento do novo presidente. Villas-Boas saiu à rua e foi festejar a vitória com os sócios. Estava tão eufórico que até o equipamento vestiu. Pareceu-me excessivo, mas compreendi a reação dada a importância do momento. Não vejo mal nenhum num presidente-adepto por um… dia. Ou uma noite, como preferirem.

Tenho a convicção de que Villas-Boas está determinado em mudar o FC Porto. Em transformá-lo num clube mais democrático, mas próximo dos adeptos e alargando-lhe as fronteiras.

Começou bem, com um discurso honesto e sincero. Expôs as debilidades, essencialmente financeiras, assumiu as dificuldades e mostrou-se determinado em mudar o paradigma que durante décadas marcou o universo azul e branco. À Frederico Varandas, também começou por limitar o poder das claques, abrindo uma guerra com os Super Dragões. Ninguém pode estar acima do clube, como os ultras se convenceram durante anos a fio. Era conveniente para a Administração ter na claque um braço armado e para a utilizar sempre que necessitava foi preciso fazer muitas cedências. Demasiadas, como sabemos. Cria-se um monstro e depois é muito difícil voltar atrás.

Entretanto, a época começa bem, com a épica vitória na Supertaça e a inesquecível reviravolta de 0-3 para 4-3 diante do campeão Sporting. Vítor Bruno como que justifica a aposta de risco para a sucessão do muito querido pelos adeptos Sérgio Conceição. Ainda faltam reforços à equipa, porque o dinheiro escasseia na tesouraria, mas o plantel vai sendo construído com precisão e critério. Tudo azul…

Depois começaram a chegar as primeiras derrotas para o campeonato, logo com Sporting e Benfica…, e a participação na Liga Europa está bem longe dos pergaminhos do clube. Surgem os primeiros sinais de descontentamento e muitos começam a torcer o nariz a Vítor Bruno. Tudo se precipitou a 24 de novembro, com a equipa a cair em Moreira de Cónegos, para a Taça de Portugal. Ambiente de cortar à faca no Dragão, a aguardar o regresso da equipa. Villas-Boas, acompanhado pelo braço-direito, Jorge Costa, decidiu enfrentar os enfurecidos dragões e foi-lhes dar explicações. Mais uma vez como um presidente-adepto.

Agora, novo episódio, no jogo com o Estrela da Amadora. Apesar de ter ganho o jogo no Dragão, o presidente deixou a tribuna e desceu ao relvado para pedir contas aos tricolores. Villas-Boas não terá gostado do comportamento do adversário e decidiu mostrar quem manda na casa, dando um péssimo exemplo. Ofensas e empurrões nos túneis, não, obrigado. Já nos chega o que se passou durante anos. No Dragão e noutros estádios.

Percebo o momento, compreendo a pressão a que está submetido, aceito que queira aproximar-se dos adeptos, que estavam habituados a quase só ganhar, mas Villas-Boas tem de refletir. Deu uma péssima imagem do clube e fez-me lembrar Bruno de Carvalho, o presidente destituído do Sporting. Que fez tudo isto e muito mais. Com as consequências que todos sabemos.