Vamos falar claro

OPINIÃO28.09.201804:00

Mão amiga fez-me chegar, através de email, um conjunto de citações de variadíssimas personalidades (escritores, políticos, pensadores), citações essas que, por vezes, nos fazem parar um bocadinho para pensar não apenas sobre o que é importante para o nosso dia a dia mas também sobre aspectos mais comezinhos da nossa existência, os quais nem sempre merecem a atenção devida. Seja como for, acabamos, com maior ou menor dificuldade, de perceber, em tais citações, a complexidade da natureza humana, em especial, quanto à tendência que sempre manifesta em complicar, por actos e palavras, o que, em muitas circunstâncias, é fácil. É assim no mundo da Justiça, da Educação, do Desporto onde a importância da linguagem e da comunicação se torna essencial para que as mensagens sejam entendidas não só pelos destinatários a quem são dirigidas como também pelo público em geral, pese embora a influência nefasta que, hoje em dia, brota das chamadas redes sociais. Vêm estes considerandos a propósito da derrota do Sporting perante o seu homónimo de Braga, derrota essa que provocou algum desânimo nas hostes leoninas que, em parte, atribuem responsabilidades ao treinador José Peseiro. Não possuindo qualquer procuração por parte do treinador leonino, pareceu-me importante chamar à atenção para um certo e determinado número de factores que, em circunstâncias normais, são esquecidos pela massa associativa em favor de aspectos de natureza técnico/táctica que nem sempre correspondem à realidade. Em primeiro lugar, teremos, obrigatoriamente, de atender a todo o circunstancialismo que rodeou a constituição do plantel profissional de futebol para a presente época, num contexto de enorme instabilidade de toda a vida do clube (invasão de Alcochete, destituições e demissões nos órgãos sociais, eleições gerais, impugnações judiciais, rescisões laborais de atletas, renegociações com jogadores, atraso na preparação da época, incumprimentos financeiros, etc. etc.). Quer se queira quer não, todos estes factores, em particular, a saída de alguns dos mais importantes atletas do futebol profissional (Rui Patrício, William, Gelson, Rafael Leão) a par da lesão de peças essenciais (Mathieu e Bas Dost) ainda se fazem sentir no rendimento global da equipa que, até ao momento, relembre-se, apenas perdeu um jogo. Importa aqui dizer que o problema não é com José Peseiro como também não foi com Inácio, com Boloni, com Jesualdo, com Leonardo Jardim, com Marco Silva ou com Jorge Jesus, como também não será com qualquer outro técnico que, porventura, venha no futuro e por muito conceituado que seja. A questão essencial está dentro do próprio Sporting, na necessidade em conseguir estabilidade, na capacidade em ser realista e de saber reorganizar-se, interna e externamente, em estar atento aos centros de poder, em saber posicionar-se na indústria do futebol. Tudo em paz e serenidade. Às costumeiras aves agoirentas deixo uma pequena citação de Óscar Wilde: «Não há outro pecado além da estupidez.»