Uma reflexão sobre Justiça e futebol
A Justiça tem os seus tempos próprios, que não se compadecem com eleições ou dérbis. As teorias da conspiração não têm razão de ser...
A Justiça tem os seus tempos próprios, indiferente a calendários políticos ou futebolísticos. E se, por vezes, os tempos da Justiça coincidem com eleições ou dérbis, é o que é, e não há que fazer confusão entre a estrada da Beira e a beira da estrada.
Afastadas, por anacrónicas, eventuais teorias da conspiração, a constituição da Benfica SAD como arguida (será no chamado saco azul?), arrastando, por inerência, os administradores da altura (Rui Costa incluído), uma vez que os factos em causa reportam-se à presidência de Luís Filipe Vieira, deve ser vista, pelos benfiquistas, por um lado com apreensão, porque há matéria no seio da SAD que pelo menos merece a atenção da investigação judicial, mas por outro com a certeza de que os direitos dos arguidos ficam mais fortes, no processo de defesa, numa altura em que a procissão ainda nem saiu do adro.
Mas há, obviamente, ilações a tirar de tantas visitas da PJ aos clubes: em primeiro lugar, e com o Benfica à cabeça, porque é do clube da Luz que agora se fala, há danos reputacionais irreparáveis, que podem ter consequências graves, se não no plano judicial, pelo menos na confiança de parceiros e investidores, que fogem a sete pés, como o Diabo da Cruz, de quem lhes possa atirar lama para a imagem; depois, fica a nu (e para quê falar só de futebol, se na política se vê aquilo que se vê...) a necessidade premente de escrutínio absoluto sobre quem entra nos clubes, e dentro das instituições, e a obrigação das entidades fiscalizadoras de recusarem o papel de assinar de cruz o que lhes é posto à frente. Dizem os ingleses que é mais virada do avesso a vida de quem quer comprar um clube de futebol, do que a de um candidato a membro do Parlamento. Por cá é o que se sabe, e a leviandade continua a grassar, embora a malha da Justiça esteja cada vez mais apertada.
Adaptando o que um dia António Costa disse de José Sócrates, «à Justiça o que é da Justiça, e à política o que é da política», aguardemos pela conclusão das investigações e eventual apuramento de responsáveis, ou arquivamento do processo que envolve o Benfica. Até lá, deixemos que as coisas corram o seu curso natural, fugindo à tentação, tantas vezes presente na nossa sociedade, de catalogar a Justiça como boa ou má, consoante nos agrada mais ou menos as suas decisões.
ÁS — FILIPE MARTINS
Começámos por referir a curiosidade do Casa Pia regressar à Liga, depois de uma ausência desde 1935/1936; a seguir, observámos, como se de um fenómeno passageiro se tratasse, a qualidade do futebol praticado pelos Gansos. Hoje temos consciência de estar perante uma equipa sólida e altamente competitiva.
ÁS — SCHMIDT/ARTUR JORGE
O Benfica volta a poder respirar com maior desafogo face aos seus rivais tradicionais na luta pelo pódio, onde o SC Braga surge agora no segundo degrau mais alto. Semana de normalização para o técnico germânico, enquanto que o líder arsenalista chega a esta fase da prova (15 jogos disputados) com um impressionante registo ofensivo.
DUQUE — RÚBEN AMORIM
Complicou-se a vida de Rúben Amorim, que tinha enfatizado a importância de janeiro no futuro dos leões. Ao perder com o Marítimo, agudizou-se a importância dos duelos com Benfica (a 12 pontos), SC Braga (a 6) e FC Porto (a 5), na luta, pelo menos, pelo acesso à próxima Champions. Mas há ainda 57 pontos em disputa...