Uma novela muito duvidosa...

OPINIÃO27.12.202105:30

Talvez tenhamos chegado ao último episódio e o Flamengo apresente Paulo Sousa. Mas de certeza que nunca vamos perceber o que se passou

T ALVEZ a demanda de Marcos Braz e Bruno Spindel na procura por um treinador português que vá treinar o Flamengo tenha chegado ao fim. Talvez as notícias que ontem deram conta da contratação iminente de Paulo Sousa anunciem, de facto, o último episódio de uma novela de argumento muito duvidoso. E digo talvez porque neste processo nada foi exatamente o que pareceu e, afinal, Paulo Sousa ainda tem de se desvincular da federação polaca - e o presidente da federação não pareceu tão convencido quanto isso a abrir mão do português - e, até Paulo Sousa estar no Rio de Janeiro para ser apresentado como treinador do Fla, mais vale ser cauteloso. Mas admitamos, talvez seja desta e possamos colocar um FIM no assunto. Aquilo de que tenho certeza é que, acabe como acabar, vamos ficar sempre com a sensação de que não percebemos muito bem o que se passou. Nisto não há talvez...
Há, em toda a novela brasileira que se desenrolou sob os nossos olhares desde que os responsáveis do Flamengo anunciaram viagem a Lisboa para contratarem um treinador, muitos vilões. A começar, claro, por Jorge Jesus, que por alguma razão nunca conseguiu (ou nunca quis?) dar o assunto por encerrado de forma pública. Sim, é verdade que estava castigado e não podia, por isso, falar em conferência de imprensa. Mas havia tantas formas de matar o tema. O que não o matou, de certeza, foi aparecer reunido num hotel de Lisboa com Bruno Macedo, o advogado que tratou da sua primeira ida para o Flamengo; ou a reunião que manteve com Marcos Braz e Bruno Spindel e da qual pouco se soube da boca dos únicos que dela deveriam falar: quem nela participou; ou a mensagem, até hoje não desmentida, que mandou a um meio de comunicação brasileiro a dizer que isto não era como ele queria ou como o Flamengo queria e que não tinha hipóteses de sair: como se estivesse preso...
Há, também, o Benfica, que nunca conseguiu, de forma enérgica e definitiva, dizer que Jorge Jesus é o seu treinador, tem contrato até ao final da temporada e que, por isso, não admitia sequer a hipótese de o ver a viajar para o Rio de Janeiro, conversassem sobre o que conversassem Jesus e os dirigentes do Flamengo; já para não falar de ter permitido que se soubesse ter autorizado uma reunião entre eles, fosse por que motivo fosse.
Mas talvez os maiores vilões sejam, de facto, os dirigentes do Flamengo, que parecem ter andado a brincar com toda a gente desde que aterraram em Lisboa. Repare-se: disseram, mais do que uma vez, que vinham a Portugal para tentar convencer Jorge Jesus a voltar ao Rio, mas o primeiro treinador com quem falaram foi... Paulo Sousa, com quem parecem estar, agora, perto de fechar contrato; reuniram-se com Jorge Jesus, insistiram com Jorge Jesus e quase desmentiram João de Deus quando este disse que Jesus lhes tinha dito que não voltaria, passando a mensagem de que ficariam, sacrificando até o Natal junto das suas famílias, em Portugal até dia 30, que era, precisamente, o dia do segundo jogo do Benfica no Dragão, que se sabia poder marcar o fim do tempo de Jesus na Luz: e agora, que se sabe que uma derrota na quinta-feira, fará de Jesus, é quase certo, um homem livre, fecham acordo com Paulo Sousa. Se não há qualquer coisa de estranho aqui...
Das duas uma: ou Marcos Braz e Bruno Spindel sabiam, desde que entrarem no avião para viajarem rumo a Lisboa, que nunca voltariam ao Rio de Janeiro com Jorge Jesus; ou ouviram da boca de Jorge Jesus na tal reunião autorizada pelo Benfica o tal não que João de Deus anunciou e preferiram arrastar a situação. Com que objetivo? Não sei. E duvido que alguém venha, um dia, a saber. Mas que tudo isto é muito estranho, lá isso não restam dúvidas. É esperar que mais nada de estranho se passe nos próximos dias...