Um triste adeus

OPINIÃO06.10.202206:30

O mais triste, para além da derrota [Portugal-Espanha], foi a falta de iniciativa e a incapacidade para fazer substituições

Após a participação na Liga das Nações onde todos esperávamos pelo apuramento natural, em função dos dois pontos de vantagem, aconteceu o imprevisto: em Braga, Portugal tinha tudo para vencer, mas, a partir do minuto 60, Luis Enrique mexeu na equipa, fez substituições eficazes e Portugal demorou a entender. O final foi terrível porque a nossa Seleção ficou sem capacidade para inverter o resultado. Jogar para segurar o empate foi erro estratégico. O mais triste, para além da derrota, foi a falta de iniciativa e a incapacidade para fazer substituições. CR7 já não tinha mais para dar e a defesa falhou na cobertura da baliza, permitindo adversário isolado, ao qual bastou marcar golo. Foi pena porque tivemos o pássaro na mão e deixámo-lo fugir, ao contrário dos espanhóis que tudo fizeram para vencer, aproveitando as avenidas sem ninguém… Agora é tempo para reflexão profunda!
 

LIGA PORTUGUESA

DEPOIS do regresso das Seleções, há clubes que tiveram tempo para recuperar lesões e aperfeiçoar pormenores e outros que tiveram de ceder jogadores. A densidade competitiva vai criar alguns problemas às equipas portuguesas que disputam provas europeias, numa fase de grande exigência.
O Famalicão surpreendeu ao golear o Boavista. O Benfica não conseguiu manter o percurso de vitórias e em Guimarães não esteve ao nível dos jogos anteriores. O Vitória local fechou espaços, jogou unido e com velocidade sempre na direção da baliza vitoriana, criando lances de perigo para a baliza encarnada. Aos 62’ foi lamentável o erro do árbitro, particularmente do VAR, ao não assinalar falta para grande penalidade contra o Benfica, que todos viram e a opinião foi unânime: arbitragem sem a qualidade indispensável. Benfica a perder concentração? O Sporting recebeu e venceu Gil Vicente com naturalidade, com o meio-campo muito forte; a equipa de Barcelos ainda conseguiu marcar um golo. O FC Porto goleou o Braga, num jogo que teve fases diversas e com os dragões muito unidos, velozes e concentrados, mantendo a posse e a eficácia.

O Braga ainda reduziu, tentou equilibrar o jogo, mas os os azuis e brancos estiveram muito fortes, com lances criados por Taremi que possibilitou maior e justa expressão no resultado. O iraniano do FC Porto, por vezes injustamente mencionado, deixou uma marca importante para além do futebol: Taremi ousou ter a coragem de apoiar os seus compatriotas manifestando solidariedade, defendendo os direitos humanos e a dignidade das mulheres que são vítimas intoleráveis de regime fora do tempo. Por essa razão, não festejou e publicou uma fotografia de Hossein Mahini, em solidariedade pelo seu compatriota estar detido no Irão, porque apoiou os protestos do seu povo  pela morte da jovem Mahsa Amini, por ter usado o véu islâmico de forma incorrecta: a polícia da moralidade não pode ter espaço em qualquer sociedade. Em termos gerais, o Benfica e o Braga perderam pontos para FC Porto e Sporting. Será que o vento virou?
 

CHAMPIONS

COM os habituais três dias de recuperação, a 4 de outubro, o FC Porto venceu o Bayer Leverkusen por 2-0 e mais uma vez com Taremi a desequilibrar: golos de Zaidu e Galeno. O Sporting deslocou-se a Marselha e Trincão marcou no primeiro minuto, mas acabou por perder 4-1, numa noite infeliz de Ádan, que acabou expulso. No dia seguinte, o Benfica recebeu o PSG num jogo de qualidade, conseguindo um empate a 1 bola. Os efeitos da excessiva carga competitiva, causam sempre necessidade de ajustes imprescindíveis.
 

PENSAR FUTURO DO FUTEBOL

Éhabitual nas pausas de competições, aproveitar para apresentar sugestões que possam contribuir para a evolução do jogo. São vários os aspetos a considerar, contudo a questão do tempo útil de jogo é prioritária. As médias por jogo, raramente ultrapassam os 60’ e o normal será pouco mais de 55’. Há várias alternativas que, em cada Liga, poderiam ser discutidas. Para impedir a batota, há quem defenda o tempo cronometrado, dando como exemplo um jogo com mais de 100 minutos e unicamente com metade de tempo útil. Outros não concordam com diálogos árbitro-jogador, nem com a perda de tempo para se deslocar e aplicar justiça. Numa das sugestões mais radicais teria direito a um desconto de tempo curto e como se pretende valorizar o futebol de ataque, depois da bola atravessar a linha de meio-campo não poderia recuar para trás dessa linha.

Dos Estados Unidos da América, como se joga com muita intensidade, não existe o hábito de queimar tempo mas antes a disputa constante pelo golo. Outra alternativa é definir 60’ de tempo útil. Também a utilização do quarto árbitro nas substituições (passaram de 3 para 5) assim como reduzir bastante o tempo consumido pelo comportamento dos elementos dos bancos respetivos. Há ainda quem se refugie com a bola junto à bandeirola de canto e aí tentando perder o maior tempo possível. A mudança está nas ações dos treinadores e dos jogadores, penalizando simulações (algumas mesmo teatrais), pisadelas, exagero com queda de toques leves ocasionais e quedas que se tornam ridículas, para entrar o massagista e o médico para perder ainda mais tempo, salvo nas situações graves. Recordo, há anos, um jogador do FC Porto que, lesionado, levantou-se e saiu a correr para fora das quatro linhas, para não se perder mais tempo. Sem dúvida que é uma questão muito importante mas também a exigir coerência e acordo para defender o futebol. Para quem prefere pantominas, o futebol nunca o deveria permitir. Trata-se de uma questão de valorização do jogo e de respeito pelos adeptos, de cada clube. Que cada um puxe pelo seu clube é natural e defensável, agora que existam provocações e até violência que podem destruir uma herança fantástica, isso nunca! As entidades que lideram estas áreas devem assumir sempre e célere as suas responsabilidades.

Afinal há clubes que mantinham com o Conselho de Disciplina uma excelente relação e agora pedem a sua extinção. Quando se é vítima de alguma injustiça, sentindo na pele essa contrariedade, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e as companhias. O melhor para todos é que as decisões sejam as acertadas.
A Dinamarca, com o seu terceiro equipamento (preto) manifesta atitude de protesto e condenação pelo abuso dos direitos humanos cometidos no Catar; a comunicação social apontou cerca de 6.500 trabalhadores imigrantes que faleceram na construção dos luxuosos estádios e nas infra-estruturas do próximo Mundial. Nasceu com suspeições e deixa um rasto de frustração humana.
Para meditar: o segundo mandato de Pedro Proença à frente da Liga termina em junho de 2023. Em 2024 termina o último mandato de Fernando Gomes na FPF. Dois factos que podem estar ligados ou não. Assim nascem os tabus que fazem correr muita tinta e geram muitas interrogações. Certamente que muitos colaboradores já andam a tentar organizar as possibilidades do seu futuro…
 

ATACAR JÁ E EM FORÇA

Enum repente estalou o lamentável caso do assédio sexual às jogadoras de futebol feminino. O primeiro passo é a investigação rigorosa. A recolha de provas tem de ser eficaz e célere para evitar situações que deixem marcas graves para sempre. Comprovado esse assédio, nada mais resta do que recorrer à justiça e paralelamente proceder ao afastamento dessa gente que não pode estar no futebol. A atenção das famílias é imprescindível para criar abertura que permita diálogo, para se poder combater esse monstro da malvadez, com a seriedade que o tema merece e as devidas sanções. O argumento da brincadeira traz sempre à tona da água uma realidade de risco que nunca pode ser aceite. A justiça tem de cumprir a sua obrigação. A FPF criou uma equipa específica; contudo, em função do que se passa noutros países e em especial nos Estados Unidos da América, já deveria estar em funções.

É sempre melhor antecipar do que correr atrás dos problemas. Há acusações a treinador, adjunto, diretor desportivo e outros que se possam descobrir. Há vários meses aconteceram julgamentos e indemnizações nos EUA. É importante a FPF agir para não ser apanhada desprevenida. É isso que falta ao nosso futebol, a capacidade de antevisão. Há décadas, o País de Gales (mas não só) criou normas de conduta para treinadores e dirigentes dos escalões mais novos para combater o risco da pedofilia. No futebol ganha quem consegue prever com antecedência, mas para isso é imprescindível o diálogo e o entendimento, em vez de eventuais confrontos institucionais…
 

REMATE FINAL

— Sérgio Conceição, Álvaro Pacheco e Petit (treinadores do FC Porto, Vizela e Boavista) foram visitar o IPO do Porto, numa jogada muito valiosa que perdurará na mente de todos e em particular dos mais jovens, transmitindo os seus exemplos de coragem e perseverança. «Sinceramente se pudesse trocar todas as vitórias da minha vida pela vida destas crianças, fá-lo-ia de coração aberto» afirmou Sérgio. Será que finalmente o Presidente da República vai homenagear o projeto ‘Os Resistentes’ e outros similares? Há anos que se aguarda essa condecoração, não por vaidade mas pela dedicação e serviço humanitário exemplar. Finalmente, após o jogo com o Braga, Sérgio Conceição afirmou «Dedico esta vitória aos meninos do IPO».

— Cristiano Ronaldo tem uma carreira única a nível global. Contudo, deve refrear hábitos (voltou a tirar a braçadeira e lançá-la), porque tem um passado e um futuro que devem ser valorizados e não desprezados por gestos infelizes que a sua carreira não merece. Saber acompanhar os tempos é uma decisão inteligente e que deve ser olhada como bom exemplo, para perdurar nas memórias de quem o viu e vê jogar.

— Na cerimónia de entrega do prémio ‘Ouro e Mérito da AF do Porto’ ao Presidente do FC Porto, no seu importante discurso, perante uma sala repleta de desportistas e autarcas, Pinto da Costa destacou o caráter de Taremi, por realçar a sua nobreza em tomar partido da jovem que foi assassinada, por ter essa coragem naquele regime e pela posição assumida em favor dos direitos das mulheres no Irão. Talvez agora deixem de o provocar de forma lamentável! Respeito!

— Para além da tradição é imprescindível o rigor, a imparcialidade e a razão. Ao novo Diretor de A Bola, os sinceros parabéns pela escolha acertada que, em si mesma, é garantia de qualidade.