Um dia é da caça e outro é do caçador… É a vida!
O Sporting nunca percebeu que estava a jogar contra o Benfica e este, mesmo nos tempos mais negros, consegue lances de perigo… e eficazes
D IZ o ditado, ou o provérbio, ou o brocardo (que era uma máxima jurídica na Idade Média) que não devemos desistir, porque se um dia a caça nos foge toda e se esconde, noutro o caçador tem a sua glória. É a vida, e os antigos sabiam bem que é assim ( pelo menos, antes de o Portimonense jogar com as reservas frente ao primeiro classificado). O ânimo, ou seja, a força que vem da alma (palavra que em latim se dizia anima) tem de se preservar; nem que seja com ideias, pois, muitas vezes, são elas que, transmitidas com as palavras certas, conferem esse suplemento (de alma) que nos leva a feitos que pensáramos inalcançáveis.
Pensemos, pois, que o Domingo de Páscoa foi o dia da caça. Ou seja, não foi o nosso dia. O Benfica apresentou-se em Alvalade e mereceu ganhar. É certo que se apresentou de um modo que alguns benfiquistas mais ortodoxos (poderia dizer mais orgulhosos) podem não ter gostado. A equipa da Luz entrou com um bloco tão baixo, tão defensivo, como penso nunca ter visto, salvo em equipas de escalões inferiores; ou quando os portugueses jogam com os tubarões europeus, e mesmo assim, nem sempre.
Pouco interessa, os encarnados aproveitaram todas as oportunidades que tiveram (e criaram mais uma ou duas); o Sporting não aproveitou nenhuma, e ainda teve o azar de um cabeceamento de Sarabia ter ido ao poste. Convenço-me que se o Sporting empatasse naquela jogada, logo no início da segunda parte, o desfecho teria sido diferente. O que é mais irritante está no facto de o jogo ser muito mais decisivo para o Sporting do que para o Benfica. Senão vejamos.
O Sporting, caso tivesse ganho assegurava, desde logo, a presença na Champions, porque o segundo lugar, pelo menos, ficava matematicamente assegurado. Podia ainda, caso tivesse vencido, esperar (pouco prováveis, mas possíveis) escorregadelas do FC Porto nas deslocações destes a Braga e à Luz e, nesse sentido, aspirar à reconquista do campeonato. Ou seja, resolvia a questão dos milhões da Champions e podia ter acesso a algo que há quase 70 anos não consegue - vencer duas vezes consecutivas o Campeonato.
Já para o Benfica, a vitória, além da alegria de ganhar, permite-lhe apenas sonhar com um segundo lugar roubado ao Sporting, que lhe dê acesso à Champions. O Campeonato não o pode vencer estando a 15 pontos do Porto, quando faltam disputar 12. E mesmo o segundo lugar depende de uma autêntica catástrofe sportinguista, ou seja, perder 8 pontos em 12 (correspondentes a duas derrotas e um empate em quatro jogos). Isto não perdendo o Benfica qualquer ponto e atingindo os 79 pontos que lhe são possíveis alcançar.
Nuno Santos protagonizou com Gilberto um dos lances mais polémicos do dérbi do passado domingo em Alvalade
DOIS CASOS LAMENTÁVEIS
DOS ataques racistas ao jogador do Benfica B Sandro Cruz, no jogo que a equipa perdeu com Rio Ave na Liga 2, não tenho mais, nem menos, a dizer do que escreveu Vítor Serpa. Concordo com tudo o que ele disse, sobretudo dois pontos: 1) O futebol não é, pelo contrário, um palco de ataques racistas; 2) Não faz sentido ficarmos apenas pelos comunicados e expressão de boas, honestas e corretas intenções. É preciso que os prevaricadores sejam punidos a sério, de forma a que cenas como aquela não se repitam.
O outro caso lamentável, e que honestamente, por muito que goste ou não goste de um jogador, considero inadmissível, tem a ver com Nuno Santos. Um jogador profissional de futebol, a alinhar numa equipa com os pergaminhos do Sporting, não pode ter atitudes de arruaceiro. Claro que todos podemos criar, inventar, interiorizar desculpas várias. Para dar um exemplo, a minha mulher, que acredita muito mais na bondade inata da condição humana, viu Nuno Santos a libertar o pé que Gilberto lhe tinha agarrado. É possível (as imagens não são claras quanto a isso) que Gilberto tivesse agarrado o pé do lateral sportinguista. Mas nem que o tivesse posto a ferros seria admissível um toque na cabeça do adversário (não se trata de saber se foi um afago ou se foi com mais força). E o facto de não ser admissível significa isto mesmo: o jogador deve ser castigado. E, quanto a mim, castigado pelas autoridades desportivas e pelo próprio clube. O Sporting não pode ter jogadores que sistematicamente provocam conflitos desnecessários. Neste caso, a bola estava parada, o jogo interrompido; não foi excesso de ímpeto ou um descuido numa disputa do jogo. Foi uma cretinice.
Claro que entendo que na minha condição de sportinguista posso estar a prejudicar o meu clube. Não tenho quaisquer problemas com isso, desde que o faça em nome da justiça e da verdade. Como se afirma que Platão terá dito em relação a Sócrates (ou Aristóteles em relação a Platão, seu mestre), «gosto muito do Sporting, mas gosto mais da verdade». E, já agora, de algum espírito de fair-play desportivo que é o oposto ao espírito hooligan e desmiolado que, esse sim, se tornou uma erva daninha no futebol.
E AMANHÃ, VENCER!
F EITAS as devidas catarses, apenas resta dizer que no Dragão, amanhã, o Sporting tem de entrar para ganhar. Tanto mais que não acredito que Sérgio Conceição monte uma equipa com oito defesas e dois atacantes, na esperança de um passe em profundidade aproveitar a corrida de um avançado. Não vai ser assim; o Sporting tem de estar concentrado na defesa e com espírito vencedor. Com ânimo, com alma, com inspiração.
Vencer a Taça é dar de barato que quem vencer esta eliminatória entre Porto e Sporting tem grandes possibilidades de vencer a final, provavelmente contra o Tondela, que joga esta noite em Mafra a segunda mão, com uma vantagem de 3-0. Porém, ainda que na Taça, nem tudo o que parece é - quem diria que Tondela e Mafra chegariam às meias-finais? - e a vitória sobre o Porto é uma espécie de tomada de balanço para um final de campeonato que passa por ir ao Bessa, receber o Gil, ir a Portimão e receber o Santa Clara. É o final de campeonato mais fácil, ainda assim, dos três grandes. E por isso todos os jogos têm de ser ganhos (mais a final da Taça) para termos os mesmos pontos do que o ano passado, quando fomos Campeões, e ter ainda mais troféus, além da Taça da Liga, a Taça de Portugal e a Supertaça. E ainda a presença na Champions, claro.
ACADÉMICA
Quase toda a gente é da Académica; os que estudaram em Coimbra, os que se lembram dos feitos de uma equipa que foi de estudantes, os que simpatizaram com as greves académicas… enfim um ror de gente, infelizmente a maioria já com certa idade. O facto de ter ficado condenada à descida para a Liga 3, uma equipa que já foi das mais importantes da 1.ª Divisão, é muito triste.
ACADÉMICO
O de Viseu foi fundado por estudantes da cidade que frequentavam a Universidade de Coimbra e por isso o equipamento, e mesmo o emblema, são semelhantes. O Académico já não é o mesmo clube, depois de há uns bons anos ter falido. Mas vai mantendo a chama na Liga 2. Não está salvo; a quatro jogos do fim tem um calendário difícil e está apenas a um ponto da linha de água.