Tempo de parar, refletir e mudar

OPINIÃO08.12.202002:00

Depois de trinta anos ligados ao futebol, confesso que ainda não estou totalmente imune aos vários tipos de vírus que proliferam no meio. Não estou imune aos que atacam tudo o que mexe, como se incendiar a casa fosse sinónimo de deixá-la arrumada; não estou imune aos que atacam ponderadamente, a espaços e de forma estratégica, planeada e maliciosa; e não estou imune aos que ressuscitam das cinzas depois de andarem hibernados anos a fio.  Sei que, como quaisquer outros agentes infecciosos, estes tipos de vírus têm cura e ela não é assim tão difícil de encontrar, mas o certo é que, até hoje, a comunidade médica nunca conseguiu descobrir a vacina mais eficaz para os erradicar, de vez, da face da Terra.


Metáforas à parte, tenho que ser muito sincero convosco: começa a faltar-me paciência, pachorra e lucidez para lidar com tanta calimerice, com tanta mania de perseguição junta. É mesmo cansativo, sobretudo porque dura desde sempre. Muda o DJ, o resto é tudo igual: gira o disco e toca o mesmo.  Acreditem quando vos digo que esta crítica não tem, ao contrário do que possa parecer, destinatários específicos. Se tivesse estariam aqui identificados, não duvidem disso. Ela encerra apenas um desabafo que parte, sim, de um contexto pontual mas que pretende ser bem mais abrangente e transversal. Meus amigos, temos mesmo que mudar o chip. Temos mesmo que evoluir na postura, na conduta e no discurso, mas temos de o fazer já, com consistência e de forma duradoura. Está na hora de crescermos no sentido certo, lidando com as adversidades e injustiças de modo próprio, no local certo e no momento adequado.

O futebol português não pode continuar a ser resolvido nas notícias e nas redes sociais, por força de reações a quente, quase sempre empoladas e toldadas na lucidez. O caminho não pode continuar a ser esse, o do discurso inflamado, exaltado e alterado.

Que não restem dúvidas: os problemas existem, há lacunas estruturais para resolver, há questões importante para regulamentar, há responsabilidades a apontar e muita coisa para melhorar, mas isso não pode ser feito com bastonadas de populismo que nada acrescentam. Que só servem para manipular massas e reduzir, a meia dúzia de penáltis e más decisões dos árbitros, a importância gigante que a indústria tem. A vossa capacidade, inteligência e sensibilidade tem que ser maior do que estas reações, tão terrenas e inócuas. Tenham santa paciência! Os assuntos a sério têm que ser tratados a sério, sem atirar as bruxas para a fogueira e sem recorrer, pontualmente e com uma incoerência gritante, a chavões que já se utilizam há décadas.

Ousem ser diferentes. Façam parte da solução, ainda que tenham que lidar com a tempestade, aqui e ali. Sejam superiores, sejam vencedores a sério.

Daqueles grandes e raros. Façam parte desse grupo restrito de gente enorme, que quando sai sabe que mudou algo para melhor.

A vossa passagem no futebol é igual à minha e à de toda a gente que já cá esteve antes: é efémera. Começou e um dia acaba. Dura pouco. Nós vamos e o jogo continua, o jogo fica para ser jogado por outros. O legado que deixarmos será a impressão digital da nossa qualidade ou da nossa mediocridade.

Pensem no que querem deixar para quem vier depois. Há momentos na vida em que o que está à nossa volta é mais importante do que o nosso umbigo.