A BOLA DE BERLIM Tempo com gelado

LEIPZIG - Já sou autoimune à conversa que tenho uma grande vida porque me pagam para ver futebol. Sobretudo quando se trata de uma grande competição, como este Europeu. Até os amigos acham que é uma vida santa entre turismo e futebol, ou que temos direito a prémio de participação como os jogadores. Não gosto de me queixar, até pelo privilégio de exercer a profissão com que sonhei. Fiz por isso, claro, mas estar na Alemanha não deixa de ser uma oportunidade que muitos adorariam. Tenho consciência disso, mas também do sacrifício que implica para os jornalistas, tantas vezes já privados de deitar os filhos ou passar fins de semana em família. Estar no Europeu é trabalhar mais de 12 horas por dia, e sem direito a folga durante várias semanas. Os únicos jogos que vi até agora foram os dois em que fui ao estádio. Já estive em Berlim e nem vi os restos do Muro ou o Checkpoint Charlie, quanto mais subir à Torre da Televisão. Agora em Leipzig dificilmente conseguirei tempo para ver o museu de Bach ou conhecer o restaurante de Goethe. Mas já conheço o franchising de hambúrgueres aberto até às quatro da manhã. Foi lá que jantou a equipa de A BOLA, após a vitória de Portugal, já em cima da hora de fecho. No estacionamento, com uma raposa a espreitar, depois de um colega ter adormecido entre o pedido e a janela onde entregam a comida. Por momentos o cansaço levou a melhor, mas o gelado não se desperdiçou.