Temos o futebol que queremos
O jogo irá ao fundo consoante o estado das areias movediças que pisa
CONFESSO que me custa sempre elogiar dirigentes. Não só porque os protagonistas são, para mim, os jogadores e os treinadores, mas também porque os nossos, que conhecemos bem de mais, são os grandes responsáveis pelo estado agonizante do futebol português. São os únicos? Claro que não, porém são os que nos interessam. O futebol, já o disse, reflete a sociedade em que vivemos, também esta, se descontarmos o que vemos nos livros de colorir dos governantes, em agonia. O futebol é o país em ponto pequeno, o país o futebol em ponto grande, mesmo com a grandeza que o futebol tem. Não deveria ser-nos estranho reparar no mesmo tipo de problemas de um Estado num desporto - o compadrio, o tráfico de influências, o egoísmo, o amiguismo e o salve-se quem puder-ismo, só para falar nas menos graves - e se escape a todos a visão do bem-maior, a meritocracia e valores de dever e honra. Assim, o jogo irá ao fundo, mais ou menos lentamente, consoante o estado das areias movediças que pisa. O mesmo se passa com que o gravita ao seu lado e dele é dependente, direta ou indiretamente.
Os dirigentes confundem sempre a noção de bem-maior com a de ingenuidade. Sentir-se ultrapassado, enganado, gozado nas costas é sentimento profundamente tuga e por isso criam-se alianças, empatam-se negociações e a evolução, e espera-se um milagre. O tal milagre que o mealheiro meio-vazio da centralização dos direitos televisivos, antecipados ou não, só ajudará um pouco, isto se ajudar de todo. Porque para que este se possa partir deve-se enchê-lo primeiro. É básico. Se a Covid-19 criou o momento ideal para repensar tudo por cá, a fim de nos aproximarmos das Big Five, nada se fez. A Liga continua às moscas, a justiça existe apenas no intervalo dos recursos e o ruído abafa o futebol a todo o tempo. Inexplicável, senhores!