Superliga Europeia... com que árbitros?
Tudo bem pensado desportivamente para potenciar ao máximo os ganhos de quem investe
Abomba rebentou e promete ainda fazer correr muita tinta. No mesmo dia que a UEFA (em jogada de antecipação ao que já sabia ser inevitável) anunciou retaliações pesadas para quem quisesse integrar a chamada Superliga Europeia, os mentores da nova competição confirmavam publicamente a sua criação, adiantando até os moldes em que decorrerá (?):
- Jogos a começar em agosto e sempre a meio da semana; dois grupos de 10 equipas (um total de 20 clubes, sendo que 15 serão sempre os mesmos - os fundadores (LOL) - e 5 terão que passar por processo de qualificação); apuramento direto dos 3 primeiros para os quartos de final; play-off de acesso entre os quartos e quintos classificados.
Tudo bem pensado desportivamente para, lá está, potenciar ao máximo os ganhos já de si pornográficos de quem investe. De quem está no futebol não em busca da vitória ou do mérito desportivo, mas para drenar, ao máximo, a teta inesgotável que distribui tanto dinheiro. Just business, of course.
Nem vale a pena reproduzir aqui o vendaval de críticas - com as quais me revejo em absoluto - que já se fizeram ouvir. Destaque apenas para as declarações demolidoras (e corajosas) de Aleksander Ceferin, que, sem papas na língua, diz-se enganado e apelida de mentirosos os criadores do projeto: Florentino Pérez (Real Madrid), Joel Glazer (Manchester United) e, sobretudo, Andrea Agneli (Juventus).
No meio disto tudo, acho que ainda ninguém fez uma perguntinha que me parece relevante: mas afinal de contas, quem é que arbitrará estes jogos? E quem é que nomeará os árbitros? As equipas de arbitragem serão completas, com videoárbitro? Se sim, onde estarão? E sob que protocolo? É que, a avançar, a dita Superliga Europeia será composta pela créme de la créme: Real Madrid, Manchester United, Juventus, Milan, Arsenal, Atlético Madrid, Chelsea, Barcelona, Tottenham, Liverpool, Inter Milão e M. City.
Movimentará muitos, muitos milhões e, claro, precisará dos melhores, dos mais competentes e capazes, em todas as áreas.
Não tenho dúvidas de que qualquer árbitro oficial, no ativo, que alinhe neste modelo estará morto à nascença, que é como quem diz, será banido de imediato a nível internacional e muito provavelmente afastado ad eternum das provas nacionais.
Será que o apelo do dinheiro conseguirá seduzir juízes conceituados ou apenas alguns que, em final de carreira, não hesitem em avançar a troco de uns valentes milhares de euros por jogo?
Estou curioso, confesso que estou. No meio disto tudo, o meu maior lamento é que o futebol se volte contra o futebol e que o entretenimento - a verdadeira essência do jogo - lhe permita prostituir-se desta forma. Quando o valor das coisas é maior que as coisas de valor... dá nisto. Uma pena.