Sporting ganha na justiça e perde no campo
Paulinho não consegue jogar futebol via telemóvel e Sérgio Conceição consegue passar ideias ao adjunto
«CORRUPTOS, corruptos, vocês são todos uns corruptos», disse Paulinho à equipa de arbitragem aquando da sua expulsão na final da Taça da Liga diante do FC Porto. Por estas palavras foi castigado com dois jogos de suspensão, que acrescem ao jogo de castigo pela expulsão. A multa foi de 2.250 euros.
Após a decisão do Conselho de Disciplina da FPF, o Sporting interpôs no Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) um recurso tendo em vista a utilização de Paulinho diante da equipa portista, agora para o campeonato. Alegando o TAD, falta de tempo para analisar o caso, o processo seguiu para o Tribunal Central Administrativo Sul (TCAS) que aceitou a providência do Sporting até o TAD apresentar a deliberação sobre o pedido dos leões. Um caso Palhinha II que possibilitou que o avançado do Sporting jogasse uma partida decisiva. Ganhou na justiça, perdeu no terreno de jogo.
«És fraco», disse Sérgio Conceição a Fábio Veríssimo no jogo entre o Marítimo e o FC Porto, para o campeonato. Cartão vermelho, um jogo de suspensão e 4.080 euros de multa. Mas Conceição enganou-se, o árbitro não é fraco, tem a lei com ele, daí as sanções.
Dizer «corrupto» três vezes é mais grave que dizer «fraco»? Vamos analisar, caro leitor: «Infração disciplinar (é) o facto voluntário, por ação ou omissão, (…) que viole os deveres gerais ou especiais previstos nos regulamentos desportivos e na legislação aplicável», art. 17.º do Regulamento Disciplinar da Liga Portugal. Antes, com o princípio da proporcionalidade, art. 10.º, explica-se porque Paulinho teve mais jogos de suspensão: a sua infração foi mais séria do que a de Conceição.
Curiosamente estranho é o facto de as normas de disciplina para treinadores e jogadores não serem as mesmas: «Os jogadores que usem expressões (…) ou façam gestos de caráter injurioso, difamatório ou grosseiro são punidos (…) com a sanção de suspensão (…) entre um e quatro jogos e (…) multa.»
Já os treinadores «que protestarem ou adotarem atitude incorreta com a (…) arbitragem são punidos com um jogo (…) e, acessoriamente, com a sanção de multa de montante a fixar».
Neste caso ambos os intervenientes foram sancionados com um jogo de castigo pela expulsão, é verdade, mas não se percebe a razão da mesma norma da lei não se aplicar a jogadores e treinadores, já que os atletas, as estrelas do espetáculo, podem ser sancionados até quatro jogos, os treinadores não.
Mas o Conselho de Disciplina terá feito justiça e decidido bem: ambos violaram as regras do desporto, ambos insultaram. O jogador do Sporting pagou menos multa, mas teve mais suspensão do que Sérgio Conceição, mesmo este reincidindo pela 22.ª vez. A questão é que os castigos têm efeitos diferentes: Paulinho não consegue jogar futebol via telemóvel e Sérgio Conceição consegue passar ideias ao adjunto que as transmite aos jogadores. E com a prática que tem adquirido, qualquer dia fá-lo-á em teletrabalho.
O direito ao golo de hoje vai para todos os intervenientes do clássico do último domingo: deram um excelente espetáculo. Agora, the show must go on!