Shiiiiuuuuuuuu!

OPINIÃO14.03.202206:00

Um dia teremos, é inevitável, de aprender a viver sem Cristiano Ronaldo na Seleção Nacional. Mas não tenhamos pressa...

Aconversa não é nova e tem, até, subido de tom nos últimos anos. Não importa quantos golos marque por época, basta que o clube que Cristiano Ronaldo representa não ganhe títulos relevantes, ou que o jogador português esteja uns jogos sem marcar, e lá regressam as frases tantas vezes repetidas: que Cristiano Ronaldo está acabado, que a equipa jogar melhor se ele não estiver em campo. Foi assim na Juventus (que, como se sabe, está bem mais próxima de ganhar títulos neste primeiro ano sem CR7...), foi assim ao longo desta semana no Manchester United (que, como se sabe, se fartou de ganhar títulos verdadeiramente relevantes antes de Cristiano Ronaldo chegar) e, agora que se aproximam os decisivos jogos com vista à presença no Mundial deste ano, estava tudo preparado para que assim fosse também na Seleção Nacional. Não se percebe, verdadeiramente, de onde surgiu esta ideia de que Cristiano Ronaldo pode ser um problema para qualquer equipa, mas é inegável que veio para ficar. Ou, pelo menos, para reaparecer de tempos a tempos.
É verdade que Cristiano Ronaldo já não é o mesmo jogador que era há 20, há 10 ou mesmo há 5 anos. Seria, convenhamos, absolutamente irreal e tremendamente injusto pedirmos que fosse. Afinal de contas, tem 37 anos, idade com que a grande maioria dos jogadores ou estão em países ricos mas muito menos mediáticos, ou a comentar jogos para um qualquer canal ou jornal ou, pura e simplesmente, a gozar da reforma. Cristiano Ronaldo podia perfeitamente estar a fazer qualquer uma dessas coisas. Mas não. Para Cristiano Ronaldo a idade é apenas um número e por isso escolheu, quando foi empurrado para fora da Juventus, voltar a Manchester e ao United, um risco como tantos outros que não teve medo de correr ao longo da carreira. Só por isso devia merecer mais respeito.
Há, naturalmente, um problema nesta narrativa que nos vai tentando impingir a morte de Cristiano Ronaldo para o futebol ao mais alto nível: talvez ciente de que a memória dos adeptos, mesmo daqueles que antes o idolatravam, é curta, Cristiano Ronaldo insiste em provar que a sua relação tão especial com o golo não é coisa do passado. Foi o que fez no sábado, depois de uma semana complicadíssima em que adeptos, figuras e figurinhas do Manchester United se aproveitaram de um momento menos bom, da equipa e do jogador português, para assumirem, com todas as letras, que o problema dos red devils estava em Cristiano Ronaldo e naquilo que, aos 37 anos, já não consegue dar à equipa. Tiveram, naturalmente, de engolir as palavras com aquele fantástico hat trick com que CR7 ganhou, praticamente sozinho, o jogo ao Tottenham e que fizeram dele o jogador com mais golos da história do futebol em partidas oficiais. Não sei, sinceramente, se Cristiano Ronaldo passa cartão àquilo que dele dizem e se os três golos que marcou em Old Trafford tiveram um sabor a vingança ou foram, para ele, apenas mais um dia no escritório. Mas a mim, e de certeza que a muitos portugueses que não esquecem aquilo que Ronaldo já fez pelo orgulho do futebol português, deu um gozo especial. Como se em vez do Siiiiii dos festejos de Cristiano Ronaldo tivesse saído um Shiuuuuuu...
 

NÃO é que fosse necessário, mas esta prova de vida de CR7 chega em boa hora para Fernando Santos, a Seleção Nacional e, no fundo, para todos os portugueses. Porque, ao contrário do que muitos se preparavam já, de certeza, para dizer, Cristiano Ronaldo nunca será um problema para Portugal. Jogue melhor ou pior, tenham os companheiros a tentação de passar-lhe a bola para resolver (não é um problema de Ronaldo, é um problema que os jogadores da Seleção Nacional têm de resolver na sua cabeça), a única verdade é que qualquer equipa está sempre mais perto de ganhar  se tiver Cristiano Ronaldo. Um dia teremos, é inevitável, de aprender a  viver sem ele na Seleção Nacional. Mas não tenhamos pressa...