Schmidt ou génio
O que as quatro patas na cobra do Eça têm a ver com Roger Schmidt (ou não...)
Meu caro Roger Schmidt:
NÃO tendo certeza de que saiba bem quem foi Eça de Queirós, dir-lhe-ei que é escritor que está para a literatura como o Enzo Fernández poderia estar para o seu Benfica - e que lhe estou a falar dele por ter saído do Eça notável metáfora para a vida que pode ser bela metáfora para o futebol. Contando, com a sua mordaz ironia, que cozinheiro chinês que matara uma cobra em Havana, a descreveu, através de um desenho, com o tamanho de uma jiboia- e, não tendo a cobra que matara mais corpo que um lápis de carvão, ao insinuarem-lhe a exorbitância, ele, atordoado, soltou, em arroubo e delírio (sobretudo em delírio):
— Não, não há exagero algum no desenho, exagero era eu pintar a cobra e depois pôr-lhe quatro patas…
Presumindo que possa estar já, caro Roger Schmidt, a perguntar de si para si:
— … mas isso tem alguma coisa a ver comigo ou com o futebol do Benfica?
eu explico-lhe: tem tudo! - por não haver de bom no futebol que pôs no Benfica o exagero mau das quatro patas postas na cobra pintada. Sim, foi o que voltou a ver-se em Arouca (mesmo sem precisar do Enzo), vendo-o, a si, dentro duma tirada não de um escritor como o Eça mas d eum ícone como Trapattoni:
— Um bom treinador pode no máximo melhorar a sua equipa em 10%, um mau treinador pode no mínimo piorar a sua equipa em 30%...
e, deixe-me sublinhá-lo ainda: foi num ápice que você melhorou a equipa em bem mais do que 10% - e não apenas por ter na sua equipa o Enzo mas por a equipa ter tido (em si) o treinador que descobriu (e não parou mais de sublimá-lo…) o génio do António Silva ou do Aursnes, o treinador que refinou (e não parou mais de atiçá-lo) o génio do Florentino, João Mário ou do Gonçalo Ramos. Tinha mais para dizer sobre o modo como este seu Benfica se vai tornando uma equipa cada vez mais perfeita (conseguindo, em Arouca, jogar bem e melhor para que o adversário jogasse pior e mal) mas, por falta de espaço, por aqui terei de me ficar...