Opinião Schmidt, 3-Conceição, 1
«Vamos conversar», a opinião de Fernando Guerra
Não fosse a falsa partida no Campeonato, ao perder no Bessa, o Benfica seria o líder da classificação, e sê-lo-ia também se, nesta sétima jornada, apesar dos esforços que têm sido feitos no sentido de credibilizar a arbitragem, os senhores do apito não continuassem a errar como sempre, de pouco valendo a tecnologia e o investimento na boa utilização dessa mesma tecnologia.
Na próxima sessão pedagógica do Conselho de Arbitragem, que será a segunda, vamos continuar a ouvir a ladainha do costume, mas a verdade é que, ponto aqui, ponto acolá, amealhados na sequência de equívocos inadmissíveis, a classificação está já adulterada apenas com sete jornadas realizadas.
Depois das linhas mal colocadas no jogo com o Casa Pia e das alucinações do árbitro Luís Godinho, no sábado, durante o jogo com o Farense, o Sporting viu dois eventuais empates transformarem-se em vitórias por más decisões das equipas da arbitragem, o que, à luz dos regulamentos, corresponde a um donativo de quatro pontos.
Sobre o clássico Benfica-FC Porto, da sexta feira, em relação ao qual muito li e ouvi, quero expressar a minha concordância com Vítor Serpa, que assinou a crónica do jogo em A BOLA, ao defender que é mesmo possível David Neres e Di Maria jogarem em simultâneo.
Roger Schmidt vive nos antípodas de Sérgio Conceição. Enquanto este é capaz perder horas de sono com o propósito de inventar qualquer coisa para surpreender o oponente e extrair dividendos disso, o alemão tem outra visão da competição e daquilo que é o futebol, incidindo na definição de um sistema base enriquecido pelas vocações de cada jogador.
Se Conceição investe numa disciplina quase militar da organização coletiva, Schmidt elege a vertente espetacular do jogo e privilegia a virtuosidade dos artistas. Antes de um clássico, enquanto Conceição se martiriza na descoberta da melhor colocação das suas peças no tabuleiro, Schmidt foca-se no bem estar dos jogadores, com especial atenção à riqueza inspiradora das estrelas, determinante para desenhar a fronteira entre o sucesso e o fracasso.
Desta vez, em concreto, o treinador alemão aproveitou a importância do jogo para desatar um nó que ele próprio ajudou a dar, ao alinhar na retórica dos equilíbrios, quando, desde que chegou, percebeu que a solução para o problema residia, precisamente, no lado oposto, ou seja, na capacidade desequilibradora da sua equipa, como tem ficado amplamente demonstrado. Ou será que algum treinador reclama bons jogadores só para olhar para eles?
Talvez, com a preocupação de nunca lhe faltarem ou para impedir que outros os tenham, como parece ser o caso de Guardiola, inventor de táticas e que não precisava de pontas de lança, até ser eliminado pelo Real Madrid, em maio 2022, nas meias finais da Champions. Dois dias depois, o Manchester City anunciou a contratação do avançado Haaland ao Borussia Dortmund e um ano mais tarde, finalmente, ganhou a Liga dos Campeões, depois de quilos de euros gastos, à vontade do freguês. Caprichos de gente rica…
Roger Schmidt vê o futebol à sua maneira, o que não quer dizer que seja perfeito. Ele próprio reconhece que o atual Benfica, mais forte e com mais soluções do que o anterior, que foi campeão, tem dado sinais de fraqueza, ou de aburguesamento, apesar do potencial para decidir os jogos mais cedo.
O problema estrutural deste Benfica está identificado e tem a ver não só com a débil resposta à perda da bola na zona dos médios, mas também na urgência em «resolver a saída sob pressão agressiva», como sabiamente alertou o jornalista Luís Mateus, ontem, em A BOLA, na sua coluna de opinião. Correções que o treinador alemão sabe ter de fazer porque o polemizado défice de equilíbrios advém precisamente dessas duas situações. Não tem a ver, nem nunca teve, com a coabitação entre David Neres e Di Maria.
Alguém consegue explicar por que motivo, nos três jogos fora, em Barcelos, Vizela e Portimão, as primeiras partes foram de excelência, para deixar felizes os adeptos, e as segundas cinzentas, para os fazer sofrer? Alguém tem uma explicação? Nem o treinador, como confessou. Por outro lado, nos dois jogos com o FC Porto verificou-se exatamente o contrário: o Benfica foi dominado nas primeiras partes e foi dominador nas segundas.
Em condições precárias Schmidt conquistou o título 38, que parecia embruxado, e levou o Benfica aos quartos de final da Champions. Esta temporada, ainda em fase embrionária, venceu a Supertaça e no primeiro clássico para o Campeonato voltou a derrotar o FC Porto.
Desde que chegou a Portugal, nos confrontos diretos com Sérgio Conceição ganhou três e perdeu um, o resto é conversa fiada. A direção do vento está a mudar e como este alemão é dado a poucas confianças, é a sua personalidade, penso ser boa a ocasião para o piadético Pinto da Costa mudar de ares, aproveitar a sugestão de Pepe e procurar outro salão de festas…