Rui tem o povo com ele

OPINIÃO05.07.202206:30

Schmidt já deve ter concluído que a águia precisa de espaço para voar. Ganhar cá dentro é o primeiro objetivo, mas mais importante será voltar a ganhar lá fora

A PESAR de já não se lembrar do último título que festejou, o que se compreende, por terem passado três anos de seca completa, a verdade é que o povo benfiquista continua firme, confiante, entusiasmado e movido pela convicção de que melhores dias se aproximam. Está preparado, como inequivocamente expressou não só através da presença massiva nas bancadas, mas também pela força que transmitiu para o relvado. Foi um sinal de união, sem dúvida, mas também de imposição, a querer dizer aos jogadores que nós (sócios e adeptos) estamos aqui, contem connosco, e vocês (jogadores, treinadores, toda a estrutura) façam o trabalho que tem de ser feito.
Esta foi a primeira mensagem, de uma transparência cristalina e de uma profundidade que não pôde ser ignorada pelos artistas. À semelhança do que se registou em Anfield, quando os jogadores se sentiram obrigados a regressar ao relvado para, olhos nos olhos com os adeptos, assinalarem  o relevante desempenho  da equipa e que muito honrou os milhares que estavam  no estádio e os incontáveis milhões que acompanharam o jogo à distância nos quatro cantos do Mundo.
A segunda mensagem dada na tarde deste domingo aconteceu quando a presença de Rui Costa foi notada no estádio e, por instantes, os rostos se desviaram para o camarote presidencial, em espontânea e genuína ovação. Com essa reação transmitiram o infindo crédito que o povo da águia deposita no seu presidente, sobretudo no seu primeiro ano a sério, com o treinador por si escolhido e o plantel em reformulação significativa, a emagrecer em quantidade e a enriquecer em qualidade, exigência e atitude, tal como prometeu em recente assembleia geral.
Rui Costa aceitou a empreitada de resgatar o espírito diferenciador que durante três décadas e até 1990, ano em que participou na sua última final da Taça dos Campeões Europeus, fez do Benfica visita de casa dos mais poderosos emblemas do futebol internacional.
A história conta, e muito. Devido a  isso, não foi  por acaso ter sido  o próprio Roger Schmidt  a divulgar o treino aberto. Quis medir o pulso  à população encarnada, ansiosa, mas de uma disponibilidade imensa para ajudar e estar  sempre  do lado da solução.
O treinador alemão ficou convencido. Sem grande currículo para apresentar, tem-se revelado, no entanto, perspicaz, atento a pormenores e sabe muito bem que este ambicioso desafio que Rui Costa lhe propôs pode dar-lhe a notoriedade que lhe falta. Como? Contribuindo com bons resultados, um futebol  vistoso e, principalmente,  muitas conquistas. O Benfica está obrigado a reaver o lugar que foi seu em tempos idos. Isto é, Schmidt já deve ter concluído que a águia precisa de espaço para voar. É a sua grandeza que o reclama. Ganhar cá dentro é o primeiro objetivo, mas mais importante será voltar a ganhar lá fora, no mínimo jamais desistir de tentar.


GRIMALDO E SLIMANI 

O lateral-esquerdo espanhol foi recebido com alguns assobios, e compreende-se. O jogador esteve mal e continua a estar mal por não querer ou não ser capaz de explicar-se. Sendo reincidente, pois, como rezam as crónicas, foi com alívio que o Barcelona o viu sair quando se mudou para a Luz, sugeria a sensatez que tivesse aproveitado a entrevista publicada em A BOLA para assumir culpas, mas não o fez. Pelo contrário, afirmou que não se recusou a jogar mas não esclareceu por que motivo não jogou. Falou com o presidente e com diretores e, ao dar conta dessas conversas, passou-lhes a bola.  
Ficou tudo resolvido, segundo ele, sem especificar. «Tínhamos de encontrar uma solução e assim aconteceu. É algo que vai ficar internamente, porque não deve passar daí», adiantou.
Se era preciso encontrar uma solução é porque havia um problema associado e, sobre esse ponto, o lateral, além de nada dizer, até exorbitou a sua competência, que começa e acaba no relvado, em cada jogo. Além disso, se está tudo esclarecido ou não só ficaremos a saber quando a administração da SAD encarnada se pronunciar, se entender fazê-lo.
Grimaldo imaginava-se a nadar em ricas propostas mas, até ver, apenas teria ilusões, de aí sentir-se na necessidade de reforçar juras de amor ao Benfica. É a vida.
O silêncio não costuma ser bom conselheiro, é uma questão de tempo, por isso considero que Rui Costa, agora que o lateral se escudou nele, deve matar o caso o mais depressa possível, para não ficar prisioneiro nem da ocorrência, nem do próprio jogador.
É o que irá suceder com Rúben Amorim, por exemplo, a partir do momento em que assumiu a paternidade pela proscrição de Slimani, profissional com contrato ao clube, mas excluído de toda a atividade. Porquê? Os tais segredos de balneário cada vez mais em desuso. Creio ter havido um excesso de autoridade por parte do treinador, o qual se sobrepôs à própria administração, a quem competiria o poder de decisão.  Esta, ao calar-se, é porque consentiu. Ou seja, Rúben Amorim apresentou a conta a Slimani, agora espera pelo troco…