Respondam no Dragão

OPINIÃO23.02.202305:30

A expulsão de Otávio (77’) virou um jogo que até aí estava a ser controlado por um FC Porto com a habitual classe europeia

FOI pena Otávio ter sido expulso a um quarto de hora do fim porque até esse momento o FC Porto tinha sido a equipa mais personalizada, mais corajosa e mais perigosa no mal tratado relvado do majestoso Giuseppe Meazza. Depois, tudo mudou. O FCP pressentiu o perigo, retraiu-se e como que deu asas a um Inter que até então tinha mostrado muito respeito pelo campeão nacional, claramente impressionado pela facilidade com que os dragões conseguiam construir situações de golo. O forcing final do Inter resultou num golo conseguido à bruta (e pela força bruta) do tanque belga Lukaku, preterido no onze inicial em favor de Edin Dzeko. Mas, enfim. O fabuloso historial europeu do FCP não se construiu com lamúrias, lamechices e quases. O Inter está em vantagem, não importa se de forma imerecida, e o FC Porto só tem um caminho: apelar a uma enchente no Dragão, encher-se de brios e fazer ao Inter, dentro de quinze dias, o que fez anteriormente à Roma, à Juventus, ao Milan e à Lazio. Tem qualidade mais que suficiente para isso. Como se viu ontem, pela enésima vez, os portistas têm forte personalidade europeia que lhe permite jogar, sem qualquer tipo de receio, contra qualquer adversário em qualquer lugar. O Inter mostrou ter bons jogadores (claro que tem, já se sabia), mas quis-me parecer que o coletivo portista pareceu sempre mais articulado, expedito e confiante no que estava a fazer.  

Sérgio tem quinze dias para preparar aquela que poderá ser a quinta vitória consecutiva em duelos contra equipas italianas - quantos treinadores gostariam de estar na situação dele? Otávio será uma baixa importante, certamente que sim, mas volto a sublinhar que o historial europeu do FCP não se construiu com desculpas e lamúrias. Respondam no Dragão!
 

LIVERPOOL, FIM DE UMA ERA

Foi dolorosa para os magníficos adeptos do Liverpool a maneira como os reds, no santuário de Anfield, se despediram da Champions (2-5 com o Real) e de um ciclo glorioso, um dos melhores na história do clube. Entre 2018 e 2022, a frenética banda de Klopp ganhou todos os títulos possíveis em Inglaterra, na Europa e no Mundo (sete ao todo) e pelo caminho ainda perdeu duas finais da Champions para o Madrid (!) e dois campeonatos por um mísero ponto (!) para o superCity de Guardiola. Uma equipa de época que ficará para sempre associada à personalidade forte e ao sorriso contagiante do treinador Jurgen Klopp… e ao soberbo tridente Salah-Mane-Firmino. Pois bem, esse ciclo acabou. O Real Madrid, símbolo máximo de excelência europeia, deu-lhe a estocada final - em grande estilo, sem dúvida.

Agora Klopp, que tem contrato até 2026 e a confiança absoluta da administração e dos adeptos, deve proceder à prometida sangria (há demasiada gente gasta, consumida, já sem o fôlego e a pica que o gegenpressening exige…) para poder concentrar-se na tarefa de construir outra grande equipa do Liverpool. Como Alex Ferguson fez por três vezes no decurso do seu longo consulado em Old Trafford. Nenhum drama. Os ciclos no futebol não são eternos. O próprio City de Guardiola também já terá entrado na curva descendente. Percebe-se no olhar e na linguagem corporal dos jogadores que a «vontade de comer o Mundo», para utilizar uma das expressões favoritas de Guardiola, já não é a mesma do inicio.  

No futuro próximo do Liverpool, imagino que haverá lugar para uns quantos integrantes do actual núcleo duro (provavelmente Alisson Becker, Van Dijk, Alexander-Arnold, Robertson, Mo Salah, Diogo Jota, Luis Díaz, eventualmente Thiago), mas a renovação é inevitável e dela farão parte jovens de qualidade com sangue na guelra como Harvey Elliott, Stefan Bajcetic, talvez Fábio Carvalho… e as caras novas que Klopp está obrigado a contratar para reconstruir um meio-campo pesadão, excessivamente envelhecido e sem golpe de asa. Fica a dúvida sobre o destino de Darwin Núñez e Cody Gakpo, jogadores em quem o Liverpool investiu cerca de 130 milhões. Mesmo concedendo o desconto do colapso coletivo que certamente dificultou a integração dos dois, a verdade é que o desempenho deles tem sido globalmente pobrezinho, curto para a dimensão do clube e das expectativas criadas. Parecem ambos erros de casting. Caríssimos. Mas aguardemos. 
 

OUTRO LINZ, NÃO!

NA história europeia do Sporting há quatro eliminações europeias difíceis de aceitar. Ocorreram todas na Taça UEFA/Liga Europa perante adversários de terceira categoria. Lembremo-las por ordem cronológica indicando o treinador sportinguista responsável - setembro de 1999: Viking Stavanger (Noruega; f: 0-3; c: 1-0), com o italiano Marco Materazzi no banco (Inácio cumpriu a segunda mão); novembro de 2002: Gençlerbirligi (Turquia; f: 1-1; c: 0-3), Fernando Santos; setembro de 2005: Halmstads (Suécia; f: 2-1; c: 2-3, a.p), José Peseiro; outubro de 2020: LASK Linz (Áustria; c: 1-4, jogo único), Rúben Amorim.

É precisamente Amorim quem corre riscos de ver o seu nome novamente associado a uma eliminação europeia impossível de digerir pelos adeptos. Há sete dias, o dinamarquês Midtjylland esteve a uns segundos de vencer em Alvalade (Coates não deixou) e, pelo que lutou e correu em Lisboa, pode vencer a eliminatória se o leão se atrever a repetir a exibição pálida, mole e inconsequente.

É claro que todos estamos à espera de ver um Sporting diferente, já nem digo parecido com o que vergou Frankfurt (3-0) e Tottenham (2-0) na Champions, mas pelo menos muito mais próximo daquele que se viu em Chaves. Se isso acontecer, dificilmente os dinamarqueses tornarão a repetir o resultado de Lisboa. Por um motivo muito simples: o Sporting tem melhores jogadores, mais soluções e melhor treinador. Em suma, a eliminação leonina, a acontecer, terá sempre de ser considerada um fiasco. Porque o Midtjylland pertence ao campeonato do Viking, do Gençlerbirligi, do Halmstads e do Linz: terceira divisão europeia.

E ninguém venha dizer, à laia de pré-justificação, que estes dinamarqueses golearam a Lazio (5-1) na fase de grupos (sim, golearam); que eliminaram o Celtic na pré-eliminatória da Champions da época passada (sim, eliminaram); e que empataram em Bergamo (1-1) e em casa com o Liverpool     (1-1) na Champions de há dois anos (é verdade, empataram). Que eu lembrarei de imediato o exemplo do Benfica, que, sem fazer dois jogos por aí além, passou facilmente por cima deles (4-1 e 3-1) em agosto passado na pré-eliminatória da Champions. Portanto…