Recomendações aos árbitros
Divulgação dos áudios abre claramente a porta à transparência e clareza de processos
O CA da FPF deu a conhecer aos seus árbitros, clubes e jornalistas as recomendações que quer adotada nesta época. O destaque vai para o aumento de exigência em relação a quem está nos bancos técnicos e que passa, por exemplo, pela eliminação do chamado aviso verbal, que sabemos surtir pouco efeito prático. A partir de agora, qualquer ato ou comportamento menos correto será sancionado, de imediato, com cartão amarelo ou vermelho.
Esta medida aplicar-se-á também na UEFA, nas ligas e competições internacionais. O organismo que tutela o futebol europeu concluiu que a tendência crescente de desrespeito em relação aos árbitros deve ser combatida de forma mais enérgica e eficaz, sobretudo quando parte de elementos técnicos.
É fundamental que quem ocupa aquela posição perceba que viver o jogo com intensidade, entrega e adrenalina não pressupõe uso exagerado de palavrões, má-educação constante ou incentivo reiterado ao ódio. Quem está cá fora está eticamente obrigado a ser um exemplo pela positiva. Pode reagir, criticar, defender a sua equipa e exigir o que quiser de árbitros e arbitragens mas com respeito, sem descontrolo emocional e sem excessos. Quando não é capaz de o fazer, tem de ser sancionado de forma rápida e exemplar.
Outras das instruções anunciadas foi relativa à sanção disciplinar aplicada aquando de um remate à baliza desviado deliberadamente pelas mãos do defensor. Até aqui, a infração exigia advertência por corte ilegal de um ataque prometedor. A partir de agora o amarelo não será exibido se for claro para o árbitro que o lance não resultaria em golo.
A questão do rigor na atribuição dos tempos de compensação também foi abordada. O que se espera é que os árbitros continuem a ser exigentes no controlo dos tempos perdidos durante o jogo, compensando-os devidamente no final de cada período regulamentar. Será cada vez mais normal vermos mais minutos de acréscimo na primeira e segundas partes de cada jogo. O que se espera é que o rigor aplicado seja transversal, universal e coerente, independentemente do estádio, resultado ou clubes envolvidos.
Nota também para a tentativa em defender mais a imagem e função do árbitro de futebol. O jogador que coloque em causa o seu trabalho ou tenha atitudes de desrespeito, gozo ou falta de educação, deve ser sancionado de imediato. Às vezes, ser diplomático pode não chegar, porque a exaltação é elevada e a razão está toldada. Nesses momentos, o recurso ao cartão tende a passar a mensagem certa a quem prevaricou e a avisar com firmeza todos aqueles que poderiam vir a fazê-lo entretanto.
Nota ainda para a divulgação dos áudios nos jogos em que exista a vídeotecnologia, segundo critério a definir pelo Conselho de Arbitragem. A ideia vai ao encontro daquela que era a exigência do mundo do futebol e abre claramente a porta à transparência e clareza de processos. É muito importante que clubes, imprensa e adeptos percebem que as comunicações entre árbitros e videoárbitros não escondem manobras insidiosas nem estratégias para prejudicar uns em detrimento de outros. Tudo o que é falado é de índole técnica e no sentido de obter a melhor decisão para cada lance. Os erros (ou a perceção de erros) vão continuar a acontecer, mas poderá agora ficar evidente que a sua ocorrência não resulta de opções maliciosas. Ainda que a medida venha a aumentar o ruído ou a potenciar mais ataques à classe, tem o grande mérito de mostrar iniciativa por parte da estrutura, que não poderá voltar a ser acusada de responder, com silêncio ensurdecedor, às eternas dúvidas sobre lances mais sensíveis.
De um modo geral, a maioria das pessoas não acha que os árbitros são corruptos. Pensam apenas que estão condicionados por estes ou por aqueles. A divulgação dos áudios poderá provar a independência e honestidade intelectual de quem toma decisões sob pressão, assim todos consigam ouvir as explicações com a cabeça e não com o coração.
É esperar para ver.