Rafa, o craque
Com Ronaldo dentro de si Rafa fez o que fez a uma abalada Velha Senhora
NÃO, não foi só no Benfica-Juventus (mas foi sobretudo no Benfica-Juventus) que tendo visto Rafa a jogar como se se soltasse, em fogaréu, de dentro duma frase famosa, a famosa frase de Sacchi:
- O melhor futebol nasce na cabeça, não nasce no corpo - Miguel Ângelo pintava com a mente, não pintava com as mãos…
Sim, mesmo vendo-o assim: de pés em fogo a caminho da baliza adversária (como já acontecera, aliás, no Dragão) não o deixo de ver o Rafa dentro duma outra frase menos famosa, a frase menos famosa de Dimitrijevic:
- No futebol, um craque tem que ter as virtudes de um poeta: a criatividade, a fantasia e o coração…
Não, não tenho dúvidas: o Rafa tem neste momento (e cada vez mais refinadas) todas essas virtudes do poeta no melhor do seu jogo - juntando-lhes outras ainda: não deixa que o corpo em furor o deixe jogar na tentação da travessia do deserto, não deixa que os pés em ebulição se deixem perder em vertigens, não deixa que a cabeça em argúcia o ponha a jogar o jogo (qualquer jogo dentro do jogo) como acrobata atordoado a cair do trapézio. Não deixa ainda que entre a luz e a sombra ganhe a sombra ou entre o laço e o nó cego se prenda no nó cego. Sim, claro: é isso o craque. E é isso que Rafa vai sendo cada vez mais: avançado de tempo inteiro e campo inteiro (mesmo quando não parece), que joga e faz jogadas (percebendo, quase sempre, o que é mais importante fazer, se uma coisa ou outra), que marca golos e cria golos (percebendo, quase sempre, o que é mais importante fazer, se uma coisa ou outra). E mesmo falhando golos, falhando-os como os dois que falhou (por duas nesgas) não é exagero dizê-lo: ao fazer as tropelias que fez a uma Velha Senhora (abalada pelo seu esplendor), fê-las com o melhor do Cristiano Ronaldo dentro de si (talvez como o Cristiano Ronaldo já não seja capaz de fazê-lo tanto assim) - a transformar centelhas em labaredas nos seus frenesins…