PNED

OPINIÃO29.05.201801:54

A sigla que dá o título à crónica de hoje pode ser conhecida por alguns, mas será ainda desconhecida por muitos. Infelizmente.


O PNED - Plano Nacional de Ética no Desporto, que tem sede no Instituto Português do Desporto e da Juventude - define-se como um conjunto de iniciativas cujo principal objetivo é o de promover e divulgar ativamente os valores que devem fazer parte de qualquer atividade desportiva. São os casos da ética, do respeito mútuo, do fair play, da amizade, da responsabilidade, da cooperação, da integração e de muitos, muitos outros.


Trocando por miúdos, o PNED é atualmente uma das raras tentativas, sérias, estruturadas e comprometidas, de apelar à verdadeira essência do desporto: aos seus valores fundadores.


Uma das várias iniciativas de sucesso que criou foi a atribuição do cartão branco. Ao contrário dos restantes (que são, como sabemos, estritamente punitivos), a exibição deste, por parte dos árbitros, visa premiar comportamentos dignos e elogiáveis de atletas, técnicos e até espectadores. É moralizador, gratificante e tem tido recetividade entusiasmada em vários escalões de formação, de diferentes distritos.
Num mundo cada vez mais industrializado e resultadista, esta organização tenta combater diariamente a visão simplista e mercantil que o desporto, crescentemente, parece ter. Tenta trazê-lo de volta às suas origens, privilegiando a educação e a formação dos mais jovens.
Fazer desporto sim, mas com sentido de inclusão, sã convivência, igualdade, sem quaisquer tipos de discriminação, com respeito por adversários e árbitros. Estes devem ser os ensinamentos base, presentes todos os dias, em todas as atividades desportivas, quer sejam recreativas, amadoras ou profissionais.


Infelizmente, a nobreza desta organização, superiormente coordenada por José Lima, esbarra com frequência em comportamentos que distorcem por completo as suas metas.


Hoje, o desporto em geral e o futebol em particular, parecem estar cada vez mais vazios de exemplos positivos. Reféns de boas práticas, daquelas que inspiram, educam e empolgam os mais novos.


O comportamento censurável de alguns responsáveis, o mediatismo empolado de tudo o que é nocivo, a sensação de impunidade de tudo o que se diz e escreve, a falta de tempo de antena do que é verdadeiramente nobre e as dúvidas morais e legais sobre a atuação de alguns agentes desportivos, são obstáculos difíceis de derrubar. A par desses, também os exemplos de violência florescem em círculos onde devia imperar civismo,  sensatez e moderação. São práticas recorrentes, negativas, que nos entram vida dentro através da imprensa e das verdades pré-fabricadas das redes sociais.


O desporto em Portugal, amplamente protagonizado pela mão do todo-poderoso futebol, tem de facto um longo caminho a percorrer.
Os mais novos, homens e atletas do amanhã, precisam de boas referências, sob pena de se tornarem - também eles em exemplos censuráveis para as gerações vindouras.


O PNED, através de centenas de iniciativas anuais em escolas, autarquias, clubes, coletividades e associações, é uma verdadeira lufada de ar fresco num mundo com ar cada vez mais irrespirável.


Merece o apoio de todos nós. Na sua divulgação, na concretização das suas metas, na promoção contínua dos seus valores e na passagem das suas mensagens. Sozinho pode muito... mas não resolve tudo.


Pais em casa, professores nas escolas, treinadores, dirigentes e adeptos nos clubes e também a comunicação social têm responsabilidades acrescidas e devem desempenhar papel crucial nesta matéria. Devem desempenhá-lo reiteradamente, orgulhosamente, dedicadamente... porque a luta pelos valores mais nobres é a mais nobre das lutas.


Um dia foi assim e tem que ser assim de novo.