Pelo menos lutem

OPINIÃO22.02.202205:55

Se Jorge Jesus foi despedido por causa de um conflito com jogadores, será que alguém estaria à espera que fosse Veríssimo, sem autoridade, a pôr ordem na casa?

DEVE ter sido sem espanto  que os adeptos do Benfica testemunharam  mais um caso de fraca atitude da sua equipa de futebol. Aconteceu no Bessa, diante do Boavista. Depois de ter dominado e construído com relativa facilidade uma vantagem de dois golos na primeira parte, sucumbiu na segunda. Enquanto os axadrezados reagiram com galhardia, os encarnados desistiram de lutar.    
Há menos de dois anos, concretamente em junho de 2020, sucedeu o mesmo. O Benfica, então treinado por Bruno Lage, na 26.ª jornada, empatou em Portimão, por idêntico resultado e também depois de ter chegado ao intervalo a vencer por 2-0. No entanto, na sequência de uma indiferença generalizada semelhante a esta, o Benfica empatou, perdeu o primeiro lugar na classificação e de aí em diante foi sempre a descer até ao despedimento do treinador, na 29.ª jornada, após a derrota na Madeira com o Marítimo (0-2), em que, mais uma vez, houve gente da águia a correr menos do que era sua obrigação correr.
O FC Porto foi campeão e o Benfica ficou no segundo lugar, com menos cinco pontos, depois de ter completado a primeira volta com mais sete, sem que a chamada estrutura, até ao dia de hoje, tivesse explicado o que se passou. E se ninguém o fez foi porque não houve interesse em fazê-lo. 

FOI nesse jogo em Portimão que o capitão André Almeida,  imediatamente a seguir a  outro empate, na Luz, com o Tondela, chutou  para canto ao desculpar-se com os momentos que não têm explicação… porque, frisou, os jogadores fizeram o que lhes foi pedido. Uma deselegância, no mínimo, porque a ninguém  passa pela cabeça que o treinador que eles ajudaram a despedir lhes tivesse pedido para jogarem mal, correrem pouco, não lutarem pela posse da bola, não meterem o pé e não respeitarem a história do emblema que, parece-me, é o que continuam a fazer perante o desânimo da família benfiquista.
Desde esse jogo, repito, em junho de 2020, dois treinadores foram despedidos, nenhum título foi conquistado e  por duas ocasiões Nélson Veríssimo  foi  o bombeiro de serviço por motivos alheios à sua vontade, creio, pelo que considero uma   injustiça colocá-lo no epicentro de um problema antigo escondido debaixo do tapete,  em que ele tem desempenhado o papel de faz de conta, primeiro com Luís Filipe Vieira, que já tinha Jorge Jesus alinhavado, agora com Rui Costa, que  não lhe deu a força necessária quando afirmou estar convencido de que  poderia ficar além do final da época. Em rigor, apenas anunciou a curta duração do seu reinado e, coincidentemente,  tornou-o  refém de resultados e não de qualquer projeto, quando se impunha que proclamasse o contrário,  que ficava (!),  e emitisse  um sinal de firmeza para o interior do grupo. 

SÓ por descuido admito que Rui Costa tivesse empurrado Nélson Veríssimo para um braseiro  onde vai sendo queimado à velocidade que se pretende, por dentro e por fora, até se encontrar alguém de reconhecida qualificação e disposto a recolocar águia no lugar que lhe é devido. Treinador com capacidade irá aparecer,  de certeza, mas, face a este rancho de jogadores, carregado de vícios e  pouco dado a sacrifícios, será mais difícil convencer eventuais interessados a aceitar liderar um grupo que tem como figura de cartaz Rafa Silva, que, ao fim de tantos anos, continua a passar pelos intervalos dos pingos da chuva. Evoluiu pouco, não adquiriu estatuto de praticante de excelência, continua alegremente  suplente da Seleção e não compreende a  grandeza do clube que representa nem faz ideia da imensidão de sensibilidades que ele congrega, bastando recordar como se apresentou no local de voto nas últimas eleições.
Pelo andar da carruagem, não é de perspetivar  grande entusiasmo pelo jogo de amanhã, frente ao  Ajax. Tem tudo para correr mal, mas por tratar-se da Liga dos Campeões, prova em que todos os jogadores querem participar por verem nela uma montra de especial valorização das suas carreiras, pode ser que haja quem se encha de brios e faça um esforço, que é o mínimo que se pede: se não conseguem jogar bem, pelo menos lutem e corram. 

N ÉLSON VERÍSSIM,  que tenho como uma pessoa de princípios, correta e educada, faz o que pode e talvez seja altura de não dar mais proteção a jogadores que não a merecem. A estrutura do clube está em mudanças, por isso, não espere dela o apoio que nunca teve, mas, como diz o povo, não se deixe comer por lorpa.
Se Jorge Jesus foi despedido por causa de um conflito  com jogadores, será que alguém estaria à espera que fosse  o treinador da equipa secundária, sem a autoridade que ninguém lhe deu, a pôr ordem na casa?
Veríssimo teve a coragem de comunicar que o plantel precisa de ser reduzido e com isso arranjou mais amigos… O presidente concordou, mas fechou o mercado de inverno e, de significativo, apenas se assinalou o empréstimo de  Pizzi, quando uma  limpeza de balneário se depara inadiável. Os outros são tão bons que ninguém os quer, ou haverá razão escondida para que assim seja?…  Para já, o terceiro lugar no campeonato está assegurado. Na próxima época será mais do mesmo se, entretanto, não for feito o que é preciso fazer com a competência e a celeridade que se impõem.