Peguem nos lenços: o pós-Ronaldo e Messi começa agora
Está para breve o início dos estudos sobre a importância de ambos na história do futebol
Durante 15 anos fizeram-nos crer de que havia dois heróis aos quadradinhos à solta nos relvados, cujo argumento o público sabia de cor: no fim, eles ganhavam sempre. Como todos sabemos, os desenhos animados nunca envelhecem, podem passar-se décadas e o Super Homem continua igual, nem uma única ruga de expressão se vislumbra naquele rosto de estátua grega. Em quase duas décadas andámos, todos que amamos o jogo, a pensar que a imortalidade havia finalmente chegado ao futebol porque de ano para ano assistia-se a sessões contínuas de autossuperação e limites outrora impensáveis de expandir. Nunca, na história deste desporto, se viu dois futebolistas em simultâneo com tanto talento, ética de trabalho, magnetismo e capacidade de decisão como Cristiano Ronaldo e Lionel Messi.
Porque ambos ainda continuam em atividade, inclusive nas convocatórias das respetivas seleções (e marcando golos), há uma espécie de luto adiado, embora com a consciência global de que o adeus está para breve. O vazio já se sente, o sentimento de perda é uma realidade para muitos que, de forma doentia, até, chegavam a esta altura do ano a comparar feitos e estatísticas para perceber quem iria receber o próximo banho de ouro.
Foram 15 anos em que o individualismo tantas vezes se sobrepôs ao coletivo e dois futebolistas ultrapassaram a dimensão de dezenas de clubes em todo o mundo, fosse na perspetiva do impacto mediático ou das receitas. Pode colocar-se a culpa na sociedade do algoritmo e numa certa distorção de valores vigente, mas a grande responsabilidade é mesmo destes dois e dos astros que decidiram divertir-se, tendo decidido que desta vez não iriam separar génios por gerações (Pelé não coincidiu com Maradona). Este ainda não é o momento para tal, mas estará em marcha o estudo sobre o verdadeiro impacto para o jogo que a disputa e rivalidade entre os internacionais português e argentino causaram. Serão feitos filmes, ensaios, talvez até músicas.
Pela primeira vez em 20 anos, Cristiano Ronaldo não está na lista de candidatos à conquista da Bola de Ouro e Lionel Messi venceu, em fevereiro deste ano (graças ao Mundial conquistado em dezembro, no Catar), o prémio The Best da FIFA, provavelmente o último grande troféu individual da carreira. Isto significa que, havendo coerência, a próxima Bola de Ouro, da France Football, a ser entregue no dia 30, será oficialmente o primeiro de uma nova era. Cabe aos novos príncipes da bola mundial (Haaland, Mbappé, Vinícius Júnior…) pegarem no cetro e tentarem fazer o que, para já, não parece possível nos próximos anos: porem o mundo inteiro só a olhar para eles. Mais que dois eucaliptos que mudaram a fauna e a flora do futebol, Ronaldo e Messi foram também um fenómeno sociológico.