Para onde caminha a tecnologia?
A utilização do VAR continua a dividir opiniões e a fomentar discussões. Não é nada que não se previsse nem é um fenómeno apenas local. Mas mais do que atribuir-se a crítica à clubite de uns ou à estratégia de outros, importa retirar dela aquilo que pode ajudar a refletir e melhorar.
Uma expressão erradamente atribuída a Fernando Pessoa diz que cada pedra no caminho é uma oportunidade para construir um castelo. E é verdade.
Convém, por isso, recordar a premissa-base da vídeotecnologia: dar aos árbitros mais meios para que as suas decisões sejam melhores.
Fica então claro que a ferramenta nasceu para dar mais verdade ao jogo, não para desculpabilizar os erros de sempre com base na limitação do seu raio de ação.
É verdade que o protocolo é curto e só abrange situações relevantes (que ocorram em circunstâncias claras). É também verdade que a sua amarra principal assenta na «linha de intervenção», que mais não é do que a sua maior vulnerabilidade: a ação humana. O que para uns é óbvio, para outros é subjetivo. O que para uns é dúbio, para outros é claríssimo.
Parece-me evidente que há margem para crescimento. Além da exigência de se perceber quem são os melhores condutores (nem todos têm unhas para este Ferrari), a especialização é algo inevitável, a curto prazo: o tipo de treino, preparação e formação exigíveis a um VAR têm que ser diferentes daqueles que se pede a um árbitro.
Além disso, é também importante que o IFAB saiba ouvir a voz dos que estão no relvado, a sentir a sua força: o protocolo tem que crescer para patamares que coincidam com aquilo que o futebol espera. Percebem-se os cuidados iniciais (ninguém sabia que impacto teria no jogo), mas agora parece claro que uma intervenção com poderes reforçados pode acrescentar valor sem afetar a dinâmica do espetáculo nem beliscar a autoridade do árbitro.
Um bom exemplo é a necessidade de atuar em situações de dupla advertência: está certo que, tendo que analisar o segundo amarelo, o VAR teria que analisar a justiça do primeiro (logo de todos os primeiros) e da falta que o originou. Mas o facto de uma equipa poder ficar reduzida a menos um cria uma situação impactante no jogo, que devia merecer intervenção na hora.
Tão importante como continuar a limar as incoerências resultantes da tal «linha de intervenção», é poder intervir perante um erro grave, sem ter que pedir licença ao protocolo. É tempo de crescer sem medo.