Os frágeis telhados da Luz
Rui Costa e Luís Filipe Vieira em 2019 (André Alves)

BOLA DO DIA Os frágeis telhados da Luz

OPINIÃO15.09.202409:30

Luís Filipe Vieira não escondeu a mão para atirar pedras, mas Rui Costa sabe qual a cobertura que tem no Benfica

Ainda que tenha garantido que não queria matar Rui Costa, Luís Filipe Vieira não camuflou as suas intenções. Podia ter arranjado um evento qualquer para falar da atualidade do clube, mas nem escondeu a mão atrás das costas. Deu uma entrevista, levou algumas notas — até para não se esquecer de dizer que teve os adeptos sempre no pensamento — e passou a noite a atirar pedras para o outro lado da rua.

O problema de quem resolve as coisas assim, já se sabe, é esquecer os telhados de vidro. E no caso de Vieira isso tem duplo sentido, que as pedras atingem não só o clube que presidiu durante 18 anos como também a sua própria liderança. A distância pode ajudar a perceber melhor algumas coisas, mas não deixa de ser curioso que só entretanto tenha percebido aquilo que não identificou ao longo de uma década de trabalho direto, e venha agora pedir desculpa aos adeptos do Benfica por ter indicado Rui Costa como sucessor. Que garanta que preferia vender três ou quatro «monos» do que libertar João Neves por 60 milhões de euros, quando abriu mão de Bernardo Silva ou Cancelo por 15, ao mesmo tempo que acumulava salários de jogadores contratados a custo zero que nunca chegaram a jogar de águia ao peito, só para «emprestar ou fazer negócio».

Vieira só se lembrou do telhado ao falar da saída de Roger Schmidt e do regresso de Bruno Lage, mas quis mostrar pulso firme ao defender que o alemão devia ter saído por «destratar a massa associativa», quando tapou os olhos no dia em que Jorge Jesus teve postura reprovável com uma das maiores referências do clube, Shéu Han.

Vieira está mais do que habilitado para falar do Benfica, e alguns dos reparos ao antigo delfim são mais do que pertinentes — do mau planeamento do mercado à forma pouco convicta como Lage foi recuperado — mas não os apresenta de forma construtiva, move-se por contas a ajustar. Critica a saída de figuras que o acompanharam, arrasa quase todos os que restam do seu tempo e elogia mudanças enquanto mostra estar a par de conversas internas.

Vieira, que não tem nada a justificar aos sócios porque não tirava férias, não sabe se voltará a avançar para a presidência, mas quer recuperar influência nos corredores onde o seu nome passou a ser proibido. A Rui Costa parece restar o silêncio de quem sabe de que é feito o seu telhado, e de quem pouco fez para ter outra cobertura em casa. Para provar que pode ser tão bom presidente quanto foi jogador, Rui Costa teria de mostrar que sabe fintar o passado.

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