Os erros de arbitragem
A arbitragem portuguesa continua no seu casulo, levar pancada, sem nada dizer
SE há coisas que sabemos desde os tempos em que a prática desportiva ganhou contornos mais modernos é que os árbitros erram. Todos os árbitros, de todas as modalidades, em todo o mundo, erram. Esse facto é tão óbvio que torna a afirmação redundante. Mas às vezes é preciso repetir verdades inegáveis, não vá alguém achar que nos esquecemos delas de propósito.
Na minha opinião, esses erros acontecem por um conjunto de razões bem identificadas e estudadas: porque há árbitros que não têm sensibilidade para uma função que requer tato e inteligência emocional; porque não acompanham os lances de perto; porque não se movimentam nem se colocam corretamente; porque perdem o foco e a concentração; porque não estão no seu melhor a nível físico, emocional e psicológico; porque o jogo é fértil em lances difíceis; ou porque simplesmente não têm vocação (competência técnica) para as exigências globais da função.
Não me ocorre de momento nenhuma outra razão que justifique más decisões na arbitragem. Quer isto dizer que não acredito em erros premeditados ou movidos a má-fé. Não acredito que, nos dias de hoje, existam árbitros corruptos, mal-intencionados ou que apenas errem por vingança ou prazer.
A diferença entre errar de uma forma ou de outra é enorme. Por muito que qualquer má decisão tenha impacto desportivo, a forma como é percecionada cá fora será sempre outra se as pessoas acreditarem que não foram intencionais ou deliberadas. Que não foram propositadas ou direcionadas.
Uma das formas mais eficazes que a estrutura tem para ajudar a definir essa linha é abrindo gradualmente as portas da sua casa ao mundo.
Se as suspeitas continuam a ensombrar a imagem da classe, se dessa desconfiança resultam ofensas e ameaças aos seus agentes (e respetivos familiares), se a opinião pública acha que os árbitros deixam-se influenciar por medos, pressões ou seduções de outro tipo, o melhor é provar-lhes que estão enganados.
Infelizmente, a arbitragem de hoje comunica da mesma forma que comunicava há vinte, trinta ou quarenta anos: com silêncio absoluto e em clausura total. Reparem: a indústria evoluiu, a tecnologia avançou, as instituições cresceram, clubes, associações, federações e ligas modernizaram-se, mas a arbitragem continua no seu casulo, a levar pancada, sem nada dizer, sem nada fazer, sem nada mexer. Está errada e o único problema de estar errado é recusar-se a aceitar e corrigir.
Nesta atividade nada pode ser feito de repente, com muita sede ao pote, porque culturalmente as pessoas não estão preparadas para lidar com muita abertura de uma só vez. É verdade, infelizmente. Mas passo a passo, pé ante pé, com planeamento e ponderação, é possível começar a mostrar um pouco daquilo que o povo precisa de ver e sentir para crer.
Vejam a FIFA, com o bombom que nos está a oferecer, ao autorizar a divulgação da decisão final (árbitro/VAR) nos testes que começou a realizar: na prática não acrescenta nada - o adepto não precisava de ouvir o que está a ver - mas, na verdade... acrescenta (à curiosidade e vontade de integrar o processo). Espertos.
Step by step.