O veneno

OPINIÃO12.04.201904:00

A última vez que a Luz o tinha visto faz amanhã precisamente três anos. Mas na noite de 13 de abril de 2016, o filme, sendo muito parecido, tinha um protagonista trocado: o Benfica também defrontava um adversário alemão - o Bayern de Munique - mas Jovic não jogava pelos alemães. Com a camisola do Benfica, o jovem sérvio, então com apenas 18 aninhos, entrou nesse jogo a dez minutos do fim e quase fez o golo que poderia ter dado a vitória aos encarnados, num duelo que terminou 2-2.

Se não me engano, nunca mais Jovic jogou pela equipa principal das águias, e agora, três anos depois, já não é mais uma pequena promessa do futebol sérvio. Tornou-se, com média de quase meio golo por jogo no Eintracht Frankfurt, um dos grandes atacantes do campeonato alemão, e ontem à noite, para mal dos pecados encarnados, formou com um ex-portista, Gonçalo Paciência, a dupla maldita para as águias, podendo os golos de ambos, fora de casa, - sempre tão preciosos quando se trata de competições a eliminar - virem a tornar-se duro e decisivo golpe nas eventuais aspirações do Benfica nesta Liga Europa.

Tido já como desejado por alguns dos grandes clubes da Europa, como o Barcelona, o miúdo Jovic, agora com 21 anos, que serviu para Rui Vitória lançar como derradeira solução para vencer o Bayern naquela noite de abril de 2016, mas não serviu, depois, para mais nada se não para ser emprestado ao Frankfurt, deu o mote para levar a águia a provar do veneno que menos desejaria: ver um dispensado quase lhe estragar a noite; o coração de dragão de Gonçalo Paciência fez, na segunda parte, o mais importante, que foi reabrir definitivamente a eliminatória para os alemães.

Não fora realmente a noite de sonho do mais jovem jogador em campo - primeiro hat trick de João Félix na equipa principal do Benfica - e talvez os adeptos encarnados estivessem a esta hora a dar como praticamente perdidos estes quartos de final para um adversário que quase nunca pareceu estar a jogar com dez desde os 20 minutos, um pouco ao contrário deste estranho Benfica, que mesmo quando consegue ser dominador, ou até mesmo esmagador, parece quase sempre incapaz de afastar uma certa atração pelo abismo… até mesmo pelo abismo da maldita ineficácia quando se trata de finalizar, como, no sentido inverso de Jovic, sucedeu com Seferovic - ele que veio… de Frankfurt para o Benfica!

Se verá na Alemanha que preço terão os dois golos da maldita dupla da Luz. Ou muito me engano ou o Benfica vai mesmo ter de marcar pelo menos um golo em Frankfurt para se manter vivo na Europa! Caso contrário, pode realmente dedicar-se ao que mais lhe interessa, que é o campeonato.  

Já o FC Porto, se o futebol tivesse moral, merecia ter regressado a Portugal com um resultado, apesar de tudo, mais esperançoso e, sobretudo, com a certeza de não defrontar no Dragão a principal estrela do Liverpool, o egípcio Salah, que devia na verdade ter sido expulso com aquela tremenda maldade feitas à perna direita de Danilo…

Sim, é verdade que o Liverpool é fortíssimo, é verdade que é o favorito, é verdade que está a ganhar por 2-0 no intervalo da eliminatória, é verdade que vai poder (e não devia) contar com Salah e mais Firmino e Mané, um trio absolutamente fantástico, com a classe que costuma fazer a diferença quando o jogo é ao mais alto nível, mas o FC Porto, com a identidade de uma equipa intensa, experiente, taticamente muito forte, gigante na atitude e na determinação, não apenas deixou imagem muito positiva em Anfied - sobretudo com o que fez na segunda parte - como não pode deixar de alimentar a esperança de conseguir o notável feito de estar entre as quatro melhores equipas da Europa em 2019.
Em Inglaterra, além do veneno dos talentosos vermelhos de Liverpool, provou ainda o FC Porto de outro veneno, aquele que em Portugal costuma também beneficiar mais vezes os mais fortes e atingir mais vezes os mais pequenos - flagrantes erros de arbitragem com influência direta no resultado. O cartão vermelho que devia ter sido mostrado a Salah - tirava-o do jogo e do resto da eliminatória - e pelo menos uma grande penalidade não assinalada a favor do FC Porto, por braço de Alexandre-Arnold a impedir a normal trajetória da bola.
Custa muito, pois custa! Mas este FC Porto já mostrou noutras ocasiões à Europa como o caráter também pode fazer a diferença!

O senhor Liga dos Campeões, como é, sem qualquer sombra de dúvida, o nosso Cristiano Ronaldo - assim ele me permita que o trate, porque Cristiano é nosso, é dos portugueses, é sobretudo dos que têm paixão pelo futebol, e é, muito especialmente, dos que, como eu, incondicionalmente o admiram - acaba de ter, em Amesterdão, mais um regresso em bom estilo à prova milionária.

O mais impressionante do que que fica deste jogo com o Ajax nem é, porém, o extraordinário voo de Ronaldo para finalizar de cabeça a extraordinária assistência de João Cancelo, para um golo cem por cento made in Portugal. O mais impressionante é mesmo o número de golos que Cristiano Ronaldo acaba de atingir na Liga dos Campeões contando apenas os marcados dos quartos de final em diante - CR7 já vai em 41, bem mais do dobro (!!!) dos golos que nas mesmas fases da Champions marcou até agora o maior dos seus concorrentes, o genial Messi.

Tenham lá paciência os habituais críticos de CR7, mas marcar 41 golos em quartos de final, meias-finais e finais da Champions só está mesmo ao alcance do maior jogador da história. Não é melhor do que Messi? OK! Mas é o maior!